Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
O ânimo na pecuária de corte não está dos melhores desde 2022, pra dizer o mínimo. Com o aumento da oferta de bezerros e a desvalorização geral das categorias, aumento do abate de fêmeas e pressão sobre os resultados do setor.
As relações de troca com reposição e com o milho amenizam, em parte, o efeito das quedas, mas mesmo quem tem esse benefício da troca sentiu o momento mais fraco nos últimos anos.
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Já quem trabalha com a cria e o ciclo completo não tem esse efeito positivo nos custos com reposição para amenizar a desvalorização das categorias vendidas. Geralmente a suplementação também tem menos peso nesses sistemas, na comparação com uma recria e/ou engorda, o que diminui também o benefício de um milho mais barato.
Com isso, há menor investimento na atividade, queda da produção de bezerros e valorizações, é o tal do ciclo pecuário. Esse desinvestimento é observado na cria, com o aumento do abate de vacas e novilhas, além da diminuição de uso de tecnologia, como a própria inseminação.
Após o pico de vendas de sêmen de raças de corte em 2021, com 19,9 milhões de doses, segundo o Index Asbia, houve dois anos de recuo na comercialização. Em 2022 as vendas diminuíram 9,3% (18,0 milhões) e em 2023 houve mais um recuo, de 5,4%, atingindo 17,1 milhões de doses.
Segundo estimativas do Cepea e Asbia, 23,1% das matrizes de corte foram inseminadas em 2023, frente a 24,7% em 2022 e 26% em 2021. Veja a figura 1.
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A figura traz duas informações relevantes.
A primeira é que o mercado de inseminação sentiu os preços do bezerro. A segunda é que, apesar do recuo, a adoção não voltou aos níveis de anos atrás e boa parte da utilização se manteve, mesmo com preços adversos.
Isso demonstra que, em boa parte das fazendas, os benefícios percebidos superam o contingenciamento de gastos que normalmente ocorre nessas fases. O viés de aumento do uso da inseminação não muda no longo prazo.
Cenário semelhante é observado em outras áreas, como a nutrição. Em momentos ruins de preços do boi, há alguma diminuição no uso, mas com um viés claro de aumento em médio prazo.
Considerações
A oferta de gado começou 2024 pressionando o mercado do boi gordo, mas temos exportações com bom ritmo e expectativas promissoras para essa via de escoamento.
Dezembro foi o melhor mês da história em vendas brasileiras, considerando volume. Este ano, janeiro foi o melhor janeiro e fevereiro tem boa chance de superar o recorde anterior de volume para o mês.
O mercado doméstico (atacado) tem cedido, frente a uma oferta maior de carne a ser escoada. Por outro lado, há uma quantidade grande de carne sendo escoada e o mercado, embora com recuos, está relativamente contido frente a outros momentos nos últimos anos.
E o que isso quer dizer?
Na nossa visão, o escoamento doméstico está absorvendo relativamente bem esses volumes maiores de carne (ainda que com alguma desvalorização) e um recuo na oferta de gado pode colaborar com um mercado mais firme ao longo da cadeia. O ponto é a oferta, principalmente de fêmeas, que tem impactado o cenário.
O momento de virada de chave do ciclo é sempre um ponto de atenção/dúvida, mas acreditamos que os bezerros dessa última estação, a segunda de desânimo (nos números da ASBIA) serão mais bem vendidos.
Veja a análise que fizemos há alguns meses com o tema: https://portaldbo.com.br/estacao-de-monta-ao-som-dos-canhoes/
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.
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