Nesse Dia Mundial da Água, especialistas têm o entendimento de que o produtor rural se mostrada cada vez mais sintonizado com a questão da água.
Porém, para Julio Cesar Pascale Palhares, pesquisador da Embrapa Sudeste (São Carlos, SP), especialista nos impactos da produção animal nos recursos hídricos, é preciso “avançar e internalizar uma cultura de boa gestão e conservação da qualidade da água”.
Portal DBO – Qual a conjuntura da água no agronegócio brasileiro, em especial na pecuária bovina?
Julio Cesar Pascale Palhares – Difícil de responder essa pergunta. Não há dados. Não temos ainda uma cultura hídrica internalizada. Ela não existe porque a água é vista como um recurso abundante e barato. Logo, o ser humano tende a não dar valor e mesmo não cuidar.
Mas precisamos mudar essa cultura porque a água é um recurso finito e, mesmo que o produtor não pague uma conta todo mês, ela tem um custo desde a captação, a distribuição e o armazenamento, até a manutenção da rede de distribuição. Algumas propriedades precisam até tratá-la antes do consumo por animais.
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Especificamente em termos de bovinos, temos algum estudo no leite, fruto de uma parceria entre a Embrapa Pecuária Sudeste e a empresa Nestlé. Nos últimos três anos foi feito um grande programa de monitoramento do consumo de água em 1,2 mil propriedades.
O resultado foi as primeiras referências de consumo de água por vacas leiteiras, incluindo até a lavagem das salas de ordenha. Tudo foi publicado agora no último mês de janeiro. O estudo subsidiará o setor para melhorar a gestão do recurso nas fazendas e, consequentemente, propor melhores práticas.
Portal DBO – Chegou-se a algum número expressivo?
Palhares – Sim! Para cada 1 litro de leite produzido são necessários de 3,2 a 3,8 litros de água, dependendo do sistema produtivo, entre pastejado e confinado.
Portal DBO – Quais as ameaças que as mudanças climáticas trazem para a oferta de água no Brasil?
Portal DBO – A América do Sul é rica em aquíferos. Trata-se de uma reserva estratégica ou de uma fonte viável de água?
Palhares – A América do Sul e o Brasil, especificamente, são ricos em aquíferos, lembrando que aquíferos são aquelas fontes de águas subterrâneas. Temos o Guarani, que envolve grande parte do território brasileiro na sua porção Centro-Sul e países como Paraguai, Uruguaia e Argentina.
Trata-se de um dos maiores aquíferos conhecidos, no mundo. E, mais recentemente, foi descoberto outro na região Norte, embaixo da Bacia Amazônica que, pelos estudos iniciais, mostra-se com uma oferta ainda maior do que a do próprio Guarani.
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As águas subterrâneas compõem uma reserva preciosa. São menos ameaçadas na sua qualidade, do que as superficiais, em rios, nascentes, represas, reservatórios e açudes, simplesmente por estarem mais expostas às várias condições climáticas e uso da terra.
Mas o fato de a água subterrânea estar mais protegida não significa que sua qualidade é eterna. Dependendo principalmente do manejo do solo podemos contaminá-la. Mas reforço que a água subterrânea sempre tem de ser vista como uma reserva estratégica.
É necessário um uso controlado para que ela se recomponha e mantenha disponível. Já sua qualidade depende, principalmente, do uso de fertilizantes químicos ou orgânicos e dos agrotóxicos. Tratar águas subterrâneas contaminadas teria um custo altíssimo, quase inviável.
Portal DBO – Como avalia o trabalho de conscientização dos produtores, em especial para os pecuaristas, quanto ao uso da água?
Portal DBO – Os produtores rurais e a agroindústria podem ser protagonistas no papel de conservação da água? E as esferas governamentais?