Pela primeira vez na história, o boi gordo brasileiro superou a casa dos US$ 71 neste mês de março, quebrando o recorde anterior, de US$ 69,06/@, alcançado em 5 de novembro de 2010, informa o economista Yago Travagini, analista de mercado da Agrifatto, com sede na capital paulista.
Segundo o consultor, a disparada, em dólar, do boi gordo reduz a competitividade da carne bovina no mercado internacional.
“O valor do boi gordo do Brasil se aproximou do preço de comercialização do boi gordo norte-americano”, relata Travagini, que nesta quinta-feira, 24/3), concedeu a seguinte entrevista ao Portal DBO, via e-email:
Portal DBO – O valor em dólar do boi brasileiro atingiu recorde histórico?
Travagini/Agrifatto – Sim, é um recorde nominal em dólares do indicador Cepea (cotado em reais a R$ 349,45, base São Paulo, valor fechamento de quarta-feira (23/3).
Portal DBO – Qual é o valor exato, em dólar, do boi paulista no dia de hoje (24/3)?
Travagini/Agrifatto – US$ 71,37/@.
Portal DBO – Qual foi o recorde anterior, em dólar, do boi paulista?
Travagini/Agrifatto – Desconsiderando os recordes batidos em mar/22, o recorde anterior tinha sido US$ 69,06/@ em 05/11/2010.
Portal DBO – Neste momento, como você já mencionou, o valor em dólar do boi gordo brasileiro está bem perto de encostar no patamar de preço do boi gordo norte-americano. Por favor, aponte os valores em dólar da arroba em alguns dos principais concorrentes do Brasil no mercado internacional de carne bovina.
Travagini/Agrifatto – US$ 77/@ (Uruguai); US$ 72/@ (Argentina); US$ 73/@ (EUA); US$ 51/@ (Paraguai), US$ 102/@ (Austrália); e US$ 66/@ (Nova Zelândia)
Portal DBO – Você pode explicar, didaticamente, qual foi o processo ocorrido a partir deste mês de março que fez o boi gordo brasileiro atingir patamar recorde em dólar?
Travagini/Agrifatto – Basicamente estamos com uma oferta de bovinos restrita no Estado de São Paulo (fruto da retenção de fêmeas, consequência do ciclo pecuário) e uma demanda externa muito forte (maior volume embarcado no primeiro bimestre deste ano de toda a história). Com isso, o boi-China puxou as cotações para cima em São Paulo em reais por arroba e, como a moeda brasileira se apreciou frente ao dólar (o real é a moeda mais valorizada de 2022), tivemos um preço em dólares rompendo máximas históricas.
Portal DBO – Você acredita que as exportações brasileiras de carne bovina podem reduzir o ritmo diante do novo preço em dólar do boi gordo?
Travagini/Agrifatto – Pelo que estamos observando há, sim, um processo de redução desse ritmo intenso das exportações e já está afetando os preços futuros. O contrato com vencimento em maio/22 caiu de R$ 340/@ para R$ 327/@ em questão de semanas. No entanto, ainda não significa que serão resultados horríveis; devemos somente frear o ímpeto de recorde atrás de recorde como foi neste 1º trimestre.
Portal DBO – Você acha que tal aumento do boi gordo em dólar pode fortalecer a pressão de baixa da arroba no mercado doméstico brasileiro?
Travagini/Agrifatto – Pode ser que sim…teremos que ficar de olho no mercado internacional agora, pois, com um dólar mais desvalorizado frente ao real, perdemos um pouco nossa competitividade. Dessa forma, os importadores podem migrar para outros fornecedores.
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