JBS investe em selo social

Em Rondônia, 280 famílias do Projeto SCS recebem assistência técnica da empresa para melhorar sua produtividade e já contabilizam bons resultados

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Ariosto Mesquita
de São Miguel do Guaporé, RO

Laércio de Oliveira na lida diária em seu sítio, em Nova Brasilândia (RO). Foto: DBO

Até 2017, o pecuarista Laércio de Oliveira (36 anos) mantinha seu plantel de matrizes em monta natural o ano inteiro. Como ele mesmo diz, “tratava de vaca que não produzia”. Em pouco tempo, porém, sua vida mudou para melhor. Graças à assistência técnica recebida, implantou estação de monta de quatro meses (setembro a dezembro) e começou a refugar as vacas vazias, elevando sua renda em 20% apenas devido ao descarte de fêmeas. Este é um dos resultados expressivos obtidos pelo produtor depois que sua propriedade – o Sítio Ouro, de 225 ha, em Nova Brasilândia do Oeste, a 484 km de Porto Velho – passou a participar do Programa Selo Combustível Social (SCS), concedido pelo governo federal a empresas produtoras de biodiesel que promovem a inclusão social de pequenos pecuaristas. Hoje, Oliveira integra um grupo de 280 famílias, em sete municípios de Rondônia, que recebem capacitação técnica gratuita para produzir melhor.


A empresa condutora do projeto é a JBS Biodiesel, subsidiária da JBS que produz biocombustível a partir de resíduos da agroindústria de carne (sobretudo sebo bovino) e cuja adesão ao SCS visa também melhorar a qualidade dos animais abatidos pela companhia no Estado. Orientado por uma equipe de agrônomos e veterinários, o produtor Laércio de Oliveira mudou sua maneira de encarar a pecuária de corte. Adotou novas metodologias de gestão e logo começou a fazer contas. “Sem apoio técnico, eu não tinha como identificar vacas vazias. Eles me mostraram que o custo por animal na fazenda, sem produzir, era de aproximadamente R$ 350/ano. Descartando 45 cabeças, economizo R$ 16.000 a cada ano”, comemora o produtor, que também passou a fazer análise de solo, recuperou pastos e instalou 10 km de cera para montar módulos de rotacionado. Agora, planeja fazer inseminação artificial (IATF) e exame andrológico em touros. “Quero fugir do uso de reprodutores não aptos para evitar queimar as vacas boas”, observa.

Oliveira teve de colocar a mão no bolso (não sabe precisar quanto gastou), mas garante que o custo seria muito maior, caso tivesse de contratar assistência técnica: “Ficaria muito caro. A diária de um veterinário custa um salário mínimo. Se ele permanecesse cinco dias aqui fazendo toque (diagnóstico de gestação), seriam R$ 5.000”. Oliveira tem um rebanho de 700 animais Nelore e faz ciclo completo, mas pretende fazer cruzamento com Angus, quando iniciar o programa de IATF. Também ajuda o irmão e o pai, ambas pecuaristas e donos de pequenas propriedades vizinhas à sua. Na engorda a pasto, começou a suplementar, fornecendo proteinado de alto consumo (1,5 a 2 kg/animal/dia) nos últimos quatro meses que antecedem o abate.

Oliveira garante que não tem obrigação de entregar sua produção para unidades da JBS em Rondônia. Embora ainda esteja em adequação dentro do Programa Selo Combustível Social, ele afirma produzindo mais e melhor. Mesmo sem condições de fazer um cálculo exato, estima que a pecuária já lhe proporcione renda ao redor de R$ 200.000/ano. “A gente trabalhava de modo mais grosseiro, baseado em conhecimentos da família. Hoje, estou mais focado na parte técnica. Aqui em Rondônia, apenas nos últimos cinco anos é que passamos a devolver à terra parte do lucro com o gado. Até então, somente extraíamos do solo. E não importava o boi demorar cinco anos para engordar”, lembra.

Resultados positivos
O que Oliveira aprendeu e colocou em prática já se reflete na qualidade de vida de sua família. Ele comprou uma caminhonete nova e, pela primeira vez na vida, tirou 35 dias de férias. No final do ano passado, viajou com a mulher e filhos para Florianópolis, SC. Sua esposa, Sirlei de Castro Fruhauf, vibra com a “empolgação” do marido: “O rosto dele brilha quando vê os bezerros nascerem todos na mesma época”. Ela já conseguiu reformar a cozinha, “ajeitar” o terreiro da casa e já se prepara para levar as crianças à Disney, neste ano. “Já tiramos os vistos”, revela.

A pecuarista Lucinéia da Penha Bonifante (Dona Néia), diz que a vida melhorou. Foto: DBO

Ao contrário de Oliveira, a pecuarista Lucinéia da Penha Bonifante (Dona Néia, como é conhecida) não quer saber de viagem. Também sentiu melhora em seu nível de vida depois que passou a integrar o Programa Selo Combustível Social, em 2017, mas prefere investir dentro do seu Sítio Nossa Senhora Aparecida, de 99,2 ha, em São Miguel do Guaporé, distante 522 km de Porto Velho. “Aqui é melhor do que qualquer praia”, brinca. Ela admite que trocou seu velho carro de R$ 30.000 por outro de R$ 52.000, mas sua prioridade é melhorar a infraestrutura da fazenda.

Recentemente, construiu uma sede nova (R$ 150.000); comprou um caminhão (R$ 64.000), no qual instalou uma gaiola (mais R$ 6.000) para transportar as novilhas que compra na região e apostou, pela primeira vez, na adubação de pastagem, por orientação do técnico da JBS Biodiesel, Leonardo Leite. “A área era um piquetão só. Investi R$ 6.000 somente para adubar quatro piquetes, cada um de 1 ha (2,42 ha). Ainda não coloquei as novilhas, mas a diferença é grande. Não se vê folha seca”, observou em março, durante a visita de DBO à propriedade.

Dona Néia é natural do Espírito Santo. Foi para Rondônia em 1987 com o pai, que faleceu há 14 anos. Juntos, trouxeram a paixão pelo cultivo de café, atividade que ela não larga. Hoje, mantém 6.050 pés de conilon no sítio, ao lado das terras que já cedeu para a filha casada e o filho solteiro. “Ano passado o café me deu um salário de R$ 3.000/ mês”, garante. Foi com o dinheiro da cafeicultura que conseguiu seguir as orientações técnicas para mudar sua pecuária. “Quando me separei, há 11 anos, meu ex-marido deixou tudo aos pedaços. Tinha uma pecuária leiteira que não rendia quase nada. Decidi migrar para a pecuária de corte, comprei vacas criadeiras, mas elas comiam demais. Resolvei, então, deixar isso de lado e engordar novilhas”, comenta.

No ano passado, Dona Néia abateu 68 animais e vem procurando manter um rebanho médio de 140 cabeças na propriedade, 70% somente a pasto e 30% suplementadas, outra medida sugerida pela assistência técnica. A relação de confiança entre ela e o zootecnista Leonardo Leite foi determinante para isso. “Gostei da ideia de suplementar, mas fiquei preocupada, pois custa caro. Ele me orientou a começar com 20 fêmeas e ir aumentando o número de cabeças aos poucos. Agradeço a Deus por ter conseguido”, diz, sem esconder o orgulho ao mostrar o cocho coberto com 46 telhas de eternit, que instalou no pasto.

Mesmo ainda sem sentir os efeitos da área adubada na produção de carne, Dona Néia, calcula que sua pecuária já lhe remunera no mesmo nível do café: “Antes, o gado quase não me dava retorno. Hoje, a coisa mudou. Metade do dinheiro da compra do caminhão, por exemplo, já veio da venda de novilhas”. Isso vem estimulando a produtora a fazer planos: “Com o lucro, quero investir mais em adubação, aplicação de calcário, divisão de pastos, na compra de uma balança e de um tratorzinho”.

Projeto para seis anos

O pecuarista Érico Lucio Caetano de Andrade (43 anos) entrou no programa da JBS Biodiesel “por sorte”, como gosta de dizer. Com empréstimos bancários pendentes, fôlego financeiro menor a cada ano e dificuldades para reverter a degradação das pastagens (incluindo casos de morte súbita do capim Marandu), ele pensava em abandonar sua atividade de ciclo completo na Estância LS, de 197,8 ha, em Seringueiras, a 567 km de Porto Velho. “Estava dando minha pedalada diária quando vi um carro da JBS circulando na cidade. Tinha um gado para vender e imaginei que a empresa estivesse atrás de boi e pagando bem. Fui falar com o rapaz e, assim, acabei entrando no programa. Depois fiquei imaginando o que devem ter pensado ao topar com um sujeito andando de bicicleta nas ruas de uma cidadezinha em Rondônia e se dizendo pecuarista e vegetariano”, lembra Andrade, com bom humor, garantindo que não come carne de espécie alguma: “Nem peixe”.

Érico Lucio Caetano de Andrade diz que entrou no programa da JBS Biodiesel “por sorte”. Foto: DBO

Opções gastronômicas à parte, a dívida bancária de Andrade ainda não foi sanada (tem de desembolsar R$ 80.000/ano por mais dois anos, segundo afirma), mas ele já começa a enxergar um futuro melhor na atividade. Como faz ciclo completo, os dois anos de assistência técnica e mudanças estruturais ainda não lhe trouxeram resultados na venda de animais. Isso deve começar a acontecer a partir do final deste ano, mas ele não espera milagres. “Ainda é cedo para falar que comecei a ganhar mais dinheiro. É um projeto para seis anos”, calcula, tranquilo.

 

Frigorífico adequou currais para receber lotes pequenos. Foto: DBO

 

Com ajustes no manejo de pasto, no sistema reprodutivo e definições de características genéticas para seu rebanho (média de 600 animais de mamando a caducando), o produtor trocou uma pecuária tradicional (nascimentos sem controle ao longo do ano) por uma atividade planejada. Adotou uma estação de monta de quatro meses (novembro a fevereiro), está fazendo correção e adubação do solo, definindo forrageiras mais adequadas e investindo em precocidade. “Como não vendo bezerros, procuro genética de crescimento pós desmama. E, mesmo antes disso, começei a ver resultados. Em bezerros apartados em 2018, percebi que ganhei uma média de uma @ por animal em relação ao que eu obtinha antes de acatar as orientações do programa”, diz.

Andrade conseguiu boa afinidade com Emerson Lobato, o técnico da JBS Biodiesel que lhe dá assistência. “Gostei, pois ele também é pecuarista. Não é só técnico. Tem seu gado pra cuidar. Temos de somar a teoria com a prática. Tenho um pouco de dúvida do cara que só estudou”, confessa. Em 2018, ele mandou 146 animais Nelore para abate (ao final de 2019, quer entregar os primeiros animais fruto de cruzamento industrial – Nelore x Angus) e sentiu que era o início de sua recuperação. “De lucro mesmo nunca fiz cálculo. Creio que vou passar mais dois anos apertado, mas já estou pagando o banco e consigo viver”, conclui.

Abates no projeto chegam a 28.000 cab/ano

A JBS tem, hoje, 280 famílias rondonienses cadastradas no projeto de inclusão ligado ao Selo Combustível Social (SCS). Antes de implantá-lo, a empresa analisou outras regiões, como o Acre e o norte do Mato Grosso, mas, em Rondônia, encontrou municípios ao redor de São Miguel do Guaporé onde as propriedades pecuárias tinham perfil adequado ao programa (tamanho médio de até 300 ha), devido aos projetos de colonização agrária implantados pelo governo, a partir de 1970.

Área de coleta de sebo da unidade de São José do Guaporé. Foto: JBS

Com quatro unidades frigoríficas no Estado, a empresa resolveu apostar no potencial desses pequenos produtores, dos quais já comprou 13.756 animais nos últimos dois anos. Em 2017, os abates garantiram receita de R$ 3,5 milhões para 100 famílias. No ano passado, o valor subiu para R$ 27 milhões para as 259 famílias cadastradas. “É um programa único, que vem evoluindo e promovendo cada vez mais transferência de renda. Para o ciclo 2019/2020, já contratamos a compra de aproximadamente 28.000 cabeças de gado”, diz Alexandre Pereira, diretor da JBS Biodiesel.

Resultados positivos
A JBS concentra o recebimento destes animais na sua unidade em São Miguel do Guaporé, com capacidade para abater 900 cabeças/dia. Como a oferta desses pecuaristas chega em pequenos lotes, a indústria instalou currais de recebimento com divisões em diversos tamanhos. Alguns são limitados para grupos de até sete animais, enquanto outros podem acomodar dezenas de cabeças. Dessa forma é possível manter o controle sobre a origem dos bovinos e garantir eventuais bonificações para o produtor.

 

Rodrigo Stechow, gerente do Selo Combustível Social da JBS. Foto: DBO

 

O Selo Combustível Social foi instituído pelo governo federal em 2005, mas a JBS somente passou a participar dele em 2017, depois que o governo aceitou incluir a pecuária no programa. O sebo de origem animal é, hoje, a segunda matéria prima mais importante na produção de biodiesel no Brasil, perdendo apenas para a soja.

“Dos 5,4 bilhões de litros do biocombustível produzidos pelo País em 2018, 800 milhões vieram do sebo. Só a JBS entregou 260 milhões de litros, o equivalente a quase 5% do mercado nacional.

Pequenos produtores e assistência técnica são o eixo do programa. Foto: DBO

Para a obtenção do selo (que prevê incentivos fiscais e garantia de aquisição do combustível pela Agência Nacional de Petróleo), as indústrias devem, dentre outras coisas, comprovar a aquisição de matérias primas destas famílias e oferecer a elas assistência técnica. “Nossos profissionais trabalham em duas frentes: na parte agronômica, através da análise, correção e manejo de solo, e na assistência veterinária, através do melhoramento e manejo do rebanho. Entramos com toda a inteligência técnica. A parte de material é por conta do pecuarista”, explica Rodrigo Stechow, gerente do Selo Combustível Social da JBS.

Para participar do projeto, o produtor tem de obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Hoje, este documento, segundo a JBS Biodiesel, somente é concedido às famílias cujas propriedades faturam até R$ 420.000/ano, valor considerado limitante, ou mesmo desestimulante, para o pequeno produtor com renda inferior ou que pretenda investir na atividade, justamente para obter rentabilidade e melhorar de vida. No entanto, há expectativa de que este parâmetro seja alterado pelo governo com medidas de ampliação de acesso de produtores familiares ao SCS.

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