O zootecnista Antônio Chacker convida os leitores a aumentar o grau de consciência sobre como podemos encarar e aproveitar positivamente este momento da pecuária
Por Antônio Chaker – Zootecnista e coordenador do Instituto de Métricas Agropecuárias (Inttegra)
Será que a bandeira da pecuária está no chão? Pelo menos para parte relevante das pessoas que conversei desde o início do ano de 2023 a resposta é sim. Desde que iniciei minha jornada profissional, em 1998, nunca havia presenciado uma moral tão baixa. A desmotivação é tanta que existem pecuaristas que entraram no modo “parada total”. Houve um caso em que a pessoa simplesmente não retornou para a fazenda após as eleições. Depois de refletir sobre tudo que ouvi, ficou muito claro que a combinação do resultado das eleições, somado ao momento do ciclo pecuário, simplesmente paralisou parte dos pecuaristas.
O discurso “tragedista” sobre a perspectiva de futuro reina nos grupos de WhatsApp dos quais participo. Obviamente, a importante queda de 25% no valor de venda do bezerro e de 20% no da arroba realmente são impactantes e trazem preocupações para todos que estão no ramo.
Ao contrário dos produtores de café, mandioca e feijão que estão acostumados com grandes variações de mercado, nós da pecuária vivemos baixas de ciclo em ciclo, o que talvez apague esses momentos da nossa memória.
Não vou abordar o ciclo pecuário. Caso queira entender melhor o que está acontecendo, recomendo o livro de Ivan Wedekin, “Economia da pecuária de corte”.
Quero, hoje, convidar os leitores para juntos aumentarmos o grau de consciência sobre como podemos encarar e aproveitar positivamente este momento da pecuária. Os indicadores do Instituto Inttegra demonstram que o número de fazendas que terão prejuízo nesta safra deve aumentar, mas o resultado médio das top 30% rentáveis continuará crescendo. Temos prévias de fazendas que vão superar, em muito, os R$ 3.000/ha/ano.
Por qual motivo, no mesmo cenário, uns vão progredir e outros regredir? Explicarei isso por meio de uma equação trazida pelo colega consultor Luciano Araújo, que leva em consideração três variáveis: crise, caixa e informação.
Antes de continuar, preciso destacar que não compartilho o entendimento de crise. Afinal, é possível desmamar um bezerro gastando menos de R$ 1.300, valor que permite margens sensacionais, mesmo se ele for vendido por cerca de R$ 2.000. No caso da recria/terminação, devido à redução nos valores de reposição, a faixa histórica de resultado (17% a 23% de margem) permanecerá nesta safra.
O ponto central que quero explorar aqui não é esse. Afinal, como sempre, tem gente ganhando e gente perdendo dinheiro, independentemente do cenário de mercado. Indo ao que interessa: o que define quem prospera e quem retrocede são as quatro combinações da ilustração abaixo, presentes em momentos especiais como o que estamos vivendo.
São elas que explicam o desempenho da fazenda: a “crise” (assim mesmo, entre aspas), o caixa e a informação. Podemos observar que existe oportunidade, segurança, prejuízo ou desespero.
Crise + caixa + informação = oportunidade. Imagine aquelas fazendas que têm caixa, conhecimento para ampliação da capacidade de suporte e um plano de crescimento de rebanho. Elas podem entrar comprando animais na baixa para vender na virada do ciclo. É só questão de tempo para realizar um grande resultado econômico. Usando o termo regional do norte do Brasil, essas fazendas vão bamburrar!
Crise – caixa + informação = segurança. São os casos em que não temos caixa, mas somos do negócio e temos informações. Estas fazendas sabem como manejar o pasto em ponto de engorda para reduzir os custos e manter os ganhos. Sabem também que, ao trocar animais mais pesados por animais leves mantendo a lotação, vão ampliar a quantidade de arrobas produzidas para aproveitar a valorização, além de aumentar a produtividade da fazenda.
Infelizmente podem ocorrer outros panoramas, como o da crise + caixa – informação = prejuízo. Um bom exemplo são os aventureiros que entraram no negócio e arrendaram uma fazenda degradada acreditando que pecuária é uma atividade simples e que o gado vai ganhar peso. No final das contas, o que ocorre é a tragédia anunciada. Baixíssimo desempenho técnico, altos custos e resultado negativo.
Por fim, vem o pior cenário, onde percebi estar boa parte dos produtores com quem conversei. É a situação: crise – caixa – informação = desespero. São fazendas que estão vendendo e não estão comprando. Saindo na baixa, deixando de lado o fundamento mais importante da pecuária que é o olho do dono que engorda o boi. Esses pecuaristas estão mais olhando para fora e atribuindo o fracasso da fazenda para os outros do que se dedicando 110% na fazenda, justamente no momento em que ela mais precisa deles. P
ara os que estão nesta atmosfera, cito meu sábio Vô Zé: “Tá difícil? Acorda mais cedo”. Que possamos pegar esta bandeira que está no chão, com foco, estratégia e muito trabalho. Lembro o famoso pensamento: “enquanto uns choram, outros vendem lenço”. De que lado você quer estar?
