A North American Invasive Species Management Association (NAISMA), que tem como missão principal capacitar o manejo de espécies invasoras na América do Norte, chamou a recente detecção de bicheira-do-Novo-Mundo (NWS) no México de uma “séria ameaça” aos Estados Unidos e ao país vizinho.
Nos últimos dois anos, diz a entidade, a bicheira se espalhou da Colômbia para o Panamá e para a Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Guatemala — e agora México.
Ao contrário das larvas típicas que se alimentam de tecido morto, as larvas da NWS infestam o tecido vivo de animais de sangue quente, incluindo gado, vida selvagem e até mesmo humanos. Elas entram por feridas abertas e se alimentam da carne do hospedeiro, causando infecções que podem ser fatais se não forem tratadas.
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Infestações de NWS são notoriamente difíceis de detectar, e as larvas aparecem somente após danos significativos ao animal terem ocorrido.
“A NAISMA se junta ao Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal (APHIS) do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) para conscientizar sobre uma ameaça crítica à saúde animal e à agricultura na América do Norte”, relata a entidade em seu site, referindo-se a confirmação, em 22 de novembro de 2024, do caso da bicheira-do-Novo-Mundo (NWS) em Chiapas, um estado do sul perto da fronteira com a Guatemala.
Esta descoberta, ressaltam os especialistas, sinaliza um movimento alarmante para o norte desta praga altamente destrutiva, que agora chegou ao México após se espalhar pela América Central.
Fechamento da fronteira
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O USDA respondeu fechando imediatamente a fronteira EUA/México para todo movimento de gado vivo em direção ao norte, informa reportagem publicada no portal norte-americano www.beefmagazine.
“Isso pode ficar feio muito rápido e pode prejudicar muitas pessoas em ambos os lados da fronteira”, disse Daniel Manzanares, diretor da Santa Teresa (Novo México) International Export/Import Livestock Crossing. “Mesmo que a fronteira abra em breve, as medidas serão custosas e impactarão as operações de gado nos EUA e no México por algum tempo”, acrescentou Manzanares.
A perturbação já é evidente, pois os currais de Santa Teresa estão vazios, onde normalmente milhares de cabeças de gado mexicanas ficariam alojadas antes de cruzar para o norte, observa a reportagem da Beef Magazine.
Santa Teresa abriga o maior ponto de entrada de gado nos EUA, detalha o texto. Quase meio milhão de novilhos e novilhas cruzaram a fronteira lá no ano passado. Um total de cerca de 1,2 milhão de cabeças cruzam para os EUA do México anualmente por 16 portos de entrada.
“Há centenas de operações de criação de gado, confinamentos e fazendeiros nos EUA com pasto de grama e trigo que dependem desse gado mexicano”, explicou Manzanares. “E centenas de fazendeiros mexicanos dependem do mercado dos EUA para seu sustento”, completou.
Elaboração de um plano de resposta
Os EUA erradicaram as bicheiras em 1966. No entanto, desde então, infestações isoladas de bicheiras foram detectadas nos EUA — principalmente em gado no Condado de Starr, Texas, em 1982, e em veados em Florida Keys, em 2016.
O USDA tem feito parcerias de longa data com países da América Central para impedir que pragas de gado e vida selvagem como o NWS se movam para o norte da América do Sul. Ron Gill, especialista em pecuária de extensão da Texas A&M AgriLife, é membro do comitê de saúde animal da Texas and Southwestern Cattle Raisers Association. Gill disse que os impactos reais do último caso do NWS ainda não foram vistos. “O gado de engorda mexicano representa uma grande fatia da indústria pecuária no Texas e além”, afirmou Gill. “Isso não é bom. Essas moscas da bicheira podem se mover para o norte muito rápido.”
Gill acrescentou que cabe ao USDA traçar um plano de resposta de longo prazo. “É uma situação de esperar para ver. Também depende da rapidez com que o México se move.”
Por enquanto, Manzanares, do Novo México, diz que o USDA está implementando um protocolo para reabrir a fronteira. Alberto “Teto” Medina Wallace, leiloeiro residente no Leilão de Gado de Santa Teresa espera que a confusão com a bicheira no México seja apenas um obstáculo na estrada. “Há uma chance de a fronteira ser reaberta em algumas ou três semanas.”
Medina Wallace acrescentou que é uma sorte que as larvas do NWS tenham aparecido nesta época do ano. “Obviamente, as temperaturas são mais frias conforme você vai para o norte, o que inibe a reprodução das moscas”, ele explicou. “Se houver mais gado infectado por aí, isso pode funcionar a nosso favor — pelo menos no curto prazo.”
Tanto Medina Wallace quanto Manzanares entendem a resposta do USDA em fechar a fronteira. Eles concordaram que, embora o fechamento da fronteira não seja o que eles querem ver, eles foram avisados de que isso poderia acontecer se bicheiras fossem encontradas no México. “Há muito a perder mantendo a fronteira fechada”, disse Medina Wallace. “Mas há ainda mais a perder se essas moscas chegarem tão ao norte. Precisamos ficar de olho na situação e reagir de acordo.”