Amido: vilão ou estrela dos confinamentos brasileiros?

autores:

Picture of Barbara de Sousa Mota Neta

Barbara de Sousa Mota Neta

Zootecnista parte do corpo técnico da 3rlab.

Continue depois da publicidade

Picture of Marcelo Hentz Ramos

Marcelo Hentz Ramos

Médico veterinário parte do corpo técnico da 3rlab.

A utilização de amido em dietas para terminação de bovinos é uma estratégia utilizada por confinadores em todo o mundo, onde os principais ingredientes como fontes majoritárias de amido são o milho e o sorgo. Estes grãos representam, normalmente, mais da metade do alimento consumido pelos bovinos. Considerando a grande importância desse carboidrato em dietas de terminação, iremos discutir pontos que são impactantes na operação diária do confinamento.

Na Tabela 1, podemos obter uma visão de alguns elementos importantes para a classificação do milho utilizado no confinamento. O milho brasileiro possui umidade média de 11%, entretanto, é possível haver variações expressivas, partindo de uma umidade de 4% e chegando até 16%. A umidade do milho é extremamente importante para a correta utilização do grão no confinamento, não somente para o milho moído seco, como também quando partimos para realização da hidratação (grão úmido) na fazenda.

O amido é considerado o principal nutriente do milho, representando cerca de 71% do grão, no entanto, os valores apresentam grande variação (mínimo de 57% e máximo de 75%). Acompanhar essa variação é importante, pois podemos estar comprando um milho barato “vazio” (com menos amido) ou um milho mais caro “cheio” (com mais amido). Essa diferença impacta diretamente o caixa da fazenda, pois o volume de compra de milho em confinamentos é elevado.

Continue depois da publicidade

Quando consideramos o “quanto do amido será aproveitado pelo animal”, observamos que a digestibilidade in vitro em sete horas desse carboidrato apresenta grande variação, de 24% para materiais de menor aproveitamento, até 62% para materiais com máximo aproveitamento pelo animal. Na Maximus Feedlot, por exemplo, os ganhos com o aumento da digestibilidade do amido dos grãos, pensando principalmente em melhoria da eficiência biológica, os levou a começar com o processo de reidratação e ensilagem de grão úmido de milho e sorgo. Atualmente, de acordo com o sócio da companhia, Bruno Gottardi, a Maximus faz em torno de 40 mil toneladas do produto úmido. Além dos benefícios nutricionais, esse processo é visto como uma excelente alternativa de armazenamento, os possibilitando aproveitar oportunidades e janelas de compra.

Para entender a importância da variação do amido no grão de milho, fizemos uma simulação no software AMTS/CNCPS (Tabela 2). Nessa simulação, utilizamos uma dieta comumente utilizada em confinamentos brasileiros e modificamos somente a porcentagem de amido do milho moído da dieta (de 60% para 75%). Podemos observar que o ganho de peso estimado por energia (EM) e proteína (PM) metabolizável disponível para ganho foram menores quando houve um aumento da porcentagem de amido no milho moído. No entanto, quando aumenta o amido na dieta aumenta-se também a eficiência animal.

Essa queda no desempenho com o aumento do amido no milho moído, mantendo a mesma dieta, é algo que acontece diariamente nos confinamentos e de difícil controle. Pode ser observada na variação de consumo do lote, mas, normalmente, passa despercebida. Para evitar esse desafio, temos a grande oportunidade de utilização de aditivos que minimizem o impacto da acidose subclínica diária nestes animais. Por fim, fizemos a mesma simulação variando a digestibilidade in vitro do amido em sete horas (de 25% para 60% – tabela 3) e verificamos que com o aumento da digestibilidade do amido da dieta houve aumento expressivo na estimativa de desempenho (ganho de peso) dos animais.

O pesquisador da APTA-Colina, Gustavo Rezende Siqueira, no esclarece que a variação da digestibilidade do amido em dietas de confinamento é algo de grande impacto no negócio, pois age diretamente no desempenho dos animais (ganho de peso), como também na eficiência com que o animal transforma o milho em carne (eficiência alimentar). A variação na composição do milho impacta, profundamente, a rentabilidade do confinamento. Uma análise correta deste ingrediente e um posicionamento preciso na dieta, com ajuda de um nutricionista, pode ser a chave para o sucesso do seu negócio.

Tabela 1 – Composição bromatológica do milho moído seco brasileiro

 

Umidade 

Amido (%MS) 

Digestibilidade

do amido (7 h) %  

Média 

11 

71,4 

38,8 

Desvio Padrão 

1 

2,2 

6,6 

Coeficiente de variação (%) 

12 

3,1 

17,1 

Mínimo 

4 

57,5 

23,9 

Máximo 

16 

75,2 

62,3 

Fonte: 3rlab 

Tabela 2 – Dieta utilizada em confinamento comercial, variando somente a porcentagem do amido (60% para 75%) do milho moído seco.

Dieta convencional de confinamento 

Dieta A 

Dieta B 

Forragem  

19,05% 

19,05% 

Milho moído seco  

66,67% 

66,67% 

DDG  

9,52% 

9,52% 

Ureia  

0,95% 

0,95% 

Núcleo 

3,81% 

3,81% 

Consumo de matéria seca total, kg/dia 

10,50 

10,50 

 Amido do milho seco  

60% 

75% 

Energia metabolizável disponível para ganho (EM), kg/dia 

1,49 

1,45 

Proteína metabolizável disponível para ganho (PM), kg/dia 

1,95 

1,90 

Simulação AMTS/CNCPS 

Tabela 3 – Digestibilidade do amido em 7 horas (25% para 60%) em dieta utilizada em confinamento comercial.

Dieta convencional de confinamento 

Dieta A 

Dieta B 

Forragem  

19,05% 

19,05% 

milho moído seco 

66,67% 

66,67% 

DDG  

9,52% 

9,52% 

ureia  

0,95% 

0,95% 

núcleo  

3,81% 

3,81% 

Consumo de matéria seca total, kg/dia 

10,50 

10,50 

digestibilidade do amido em 7 h, % do amido 

25% 

60% 

Energia metabolizável disponível para ganho (EM), kg/dia 

1,11 

1,43 

Proteína metabolizável disponível para ganho (PM), kg/dia 

0,90 

1,78 

Simulação AMTS/CNCPS. 


Leia também:

A DBO Editores Associados, fundada em 1982, sempre se caracterizou como empresa jornalística totalmente focada na agropecuária. Seu primeiro e principal título é a Revista DBO, publicação líder no segmento da pecuária de corte. Sua atuação no digital abrange as mídias sociais, canal do Youtube e o Portal DBO, plataforma rica em conteúdo especializado em texto, áudio e vídeo para a pecuária, como reportagens, entrevistas, artigos técnicos, cotações, análises de mercado e cobertura dos leilões em todo o País.

Todos direitos reservados @ 2019 | Rua Dona Germaine Burchard, 229 | Bairro de Perdizes, São Paulo-SP

Encontre as principais notícias e conteúdos técnicos dos segmentos de corte, leite, agricultura, além da mais completa cobertura dos leilões de todo o Brasil.

Encontre o que você procura: