Todos os anos, a bovinocultura de corte do centro-sudeste do Brasil passa por um período crítico nos meses entre julho e setembro, basicamente. Falamos de uma fase da vida comum aos mamíferos que é a desmama, quando mães e crias são separadas para seguir a vida de forma independente.
Mas por que esse momento natural gera tanto prejuízo, dentro de um processo economicamente produtivo?
Segundo a médica veterinária Janaína Braga, sócia-fundadora da BE.Animal, é impossível chegar a uma propriedade e não perceber que ela está sob “desmama abrupta”.
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Nesse manejo, por vários dias, mães e filhos perambulam de um lado a outro de seus piquetes ou invernadas, estressados, sem ingerir o volume de alimentos necessário e, até mesmo, descansando e ruminando por tempo insuficiente. Claro, haverá perda de desempenho.
Como ambas as categorias animais envolvidas estão sob forte estresse, a imunidade natural cairá, colocando-os à mercê de diversos problemas de sanidade, além de riscos de acidentes, como o transpassamento de cercas ou saltos sobre obstáculos, ou ainda intercorrências com a própria equipe de colaboradores, responsáveis por acompanhar esses animais diuturnamente.
Então, para o pecuarista que faz contas, a pergunta é: como minimizar essa fonte de estresse (prejuízo)?
1. Na ação de desmamar as crias – realizar a apartação das mães – não fazer outros manejos. Não se deve vacinar, vermifugar, identificar e nem transportar os animais, pois isso tudo já é fonte de estresse, que ficará potencializado, aumentando risco de acidentes e doenças oportunistas (pneumonia e diarreia). Tudo deve ser feito pelo menos com sete dias de antecedência.
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2. Se a desmama abrupta é o problema, obviamente o correto é realizá-la de forma paulatina. O método “lado a lado” tem como grande benefício permitir o contato visual, auditivo, olfativo e, em alguns casos, até físico, entre mães e crias, ainda durante um tempo. Basta que uma cerca ou duas separadas por corredor, separem as duas partes.
Obs.: Com o passar dos dias, elas se acostumam com a ausência mútua e tendem a voltar às suas respectivas rotinas mais rapidamente. Nos primeiros dias é mais difícil, mas logo todos retomam a autoconfiança, afinal não estão tão distantes. Para realizar esse manejo, basta planejamento e autoconvencimento.
3. A recomendação para realizar esse manejo é simples. Após as ações de curral (vacinação, vermifugação e identificação), vacas e bezerros devem permanecer juntos por pelo menos três dias, tempo suficiente para as crias se localizarem em novo pasto, entendendo onde estão os recursos e se recuperarem do estresse. Após esse período, as mães devem ser levadas para um piquete vizinho, separado por cerca ou cercas com um corredor de intervalo.
4. Após essa separação, por três a cinco dias, as matrizes podem ser removidas para outra pastagem, o mesmo acontecendo para os bezerros, passados pelo menos mais três dias. Atenção para um detalhe importante: caso as áreas disponíveis não sejam o suficiente para alimentar os bezerros com efetividade, a “desmama lado a lado” deve ser realizada, garantindo reserva de piquetes para o procedimento. A garantia de forragem deve ser prioridade.
5. Atenção para as cercas!
6. Um detalhe importante para o sucesso dessa desmama, além da gestão de cercas, é o posicionamento dos bebedouros. Nos primeiros dias, os bezerros tendem a permanecer mais próximos das cercas; logo, se não houver água nas proximidades, eles ficaram por horas e até dias com sede, o que pode abalar a imunidade, saúde e, consequentemente, desempenho.