Enquanto a indústria de carne bovina da Austrália debate como o desmatamento deve ser definido no país, grupos conservacionistas reivindicaram uma grande vitória ao influenciar um dos maiores clientes da indústria a se comprometer a comprar apenas carne bovina “livre de desmatamento” até o final de 2025.
Em seu novo relatório anual, a rede de supermercados australiana Woolworths se compromete oficialmente com o desmatamento zero.
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As sementes da decisão da Woolworths foram efetivamente plantadas há quatro anos, relata texto opinativo publicado no portal australiano da Beef Central. Em 2020, a Woolworths aderiu à iniciativa Science Based Targets (SBTi), vinculando a gigante dos supermercados a vários compromissos que incluem definir “metas de desmatamento zero” até 2025. Desde então, diz o portal, a Woolworths vem sofrendo crescente pressão de grupos conservacionistas para se comprometer publicamente com essa promessa.
A Fundação Australiana de Conservação (ACF) saudou o compromisso de ontem de não desmatamento da Woolworths como “notícia fantástica” nas redes sociais, ao mesmo tempo em que aumentou a pressão sobre a Coles (outra gigante australiana do setor de supermercados) para fazer o mesmo.
Segundo a Beef Central, uma das muitas coisas que estão frustrando os pecuaristas australianos “é a aparente hipocrisia na maneira como a produção de gado está sendo destacada e publicamente difamada”. “Existe algum alimento produzido em larga escala que não tenha vindo de terras ‘desmatadas’, como os grupos ambientalistas definiriam?”, indaga a Beef Central, que acrescenta: “Certamente nenhum dos principais alimentos de origem vegetal produzidos a partir de monoculturas poderia alegar ser ‘livre de desmatamento’”.
A Fundação Australiana de Conservação (ACF), diz o texto do portal, tem tentado recentemente se posicionar em artigos da mídia e postagens nas redes sociais como uma “amiga” dos fazendeiros australianos, afirmando que a atividade problemática de desmatamento está limitada a apenas um pequeno número de proprietários de terras. No entanto, continua a Beef, contrastando com essa opinião, está a divulgação pública de relatórios e investigações nos quais sugere que os fazendeiros australianos estão contribuindo para a extinção da vida selvagem.
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Poucos dias antes de a Woolworths anunciar seu compromisso de não desmatamento em seu relatório anual de 2024 um artigo da ABC News também deu voz a outra campanha da ACF, sugerindo que o desmatamento ilegal e imprudente é generalizado na indústria de carne bovina da Austrália. “Há uma indústria que destrói mais florestas do que qualquer outra: a carne bovina”, começava o artigo.
Em seguida, afirma a Beef Central, a ACF apresentou inúmeras imagens de satélite de limpeza de terras em várias propriedades desde 2020, sem mencionar que os proprietários de terras só podem realizar limpeza sob regimes rigorosos de planejamento e regulamentação e sob risco de penalidades severas por quaisquer violações.
Definições para a política de desmatamento
A criação do termo genérico “desmatamento” tem sido uma estratégia excepcionalmente bem-sucedida para grupos ambientais, diz a Beef Central. “Ela evoca imagens imediatas de escavadeiras avançando pela floresta tropical virgem da Amazônia, independentemente do tipo de desmatamento realmente envolvido, como o controle de regeneração em propriedades de gado australianas, onde muitos habitats naturais permanecem intactos”, esclarece o texto.
Foi o uso desse termo por grupos ambientais que deixou a indústria pecuária australiana com pouca escolha a não ser trabalhar para desenvolver uma “definição clara do que é desmatamento e o que não é”.
A Cattle Australia vem liderando esse processo e fazendo isso de forma inclusiva, trabalhando com grupos como o World Wildlife Fund que, assim como a ACF, há muito tempo são críticos da indústria de carne bovina australiana.
No entanto, relata a Beef, esses esforços foram retratados no artigo da ABC News como uma tentativa da indústria pecuária de usar o dicionário como “uma arma” em uma tentativa de evitar sua responsabilidade com o meio ambiente”.
O artigo da ABC também não destacou que outras jurisdições e grandes órgãos ao redor do mundo, incluindo a Europa e as Nações Unidas, também desenvolveram definições de desmatamento, e que elas excluem terras agrícolas do desmatamento devido ao papel essencial da indústria em garantir a segurança alimentar.
A Cattle Australia divulgou uma declaração dando um toque positivo ao anúncio da Woolworth, acolhendo seu “reconhecimento e apoio para continuar trabalhando com produtores e fornecedores de carne bovina para desenvolver definições de sustentabilidade apropriadas no contexto australiano “.
“É vital que a névoa de confusão que foi criada por alguns grupos ambientais em torno de percepções enganosas sobre o desmatamento seja refutada e ignorada”, disse o CEO da Cattle Australia, Chris Parker, que completou: “O foco contínuo em sua interpretação de estruturas internacionais, nas quais esses grupos ignoram ou minimizam o requisito de avaliação do uso da terra do uso agrícola predominante, é, na melhor das hipóteses, hipócrita. Nós encorajamos fortemente todos os grandes supermercados e outras partes interessadas da indústria a não caírem nessa armadilha.”
Em resposta às perguntas da Beef Central ontem, a Cattle Australia disse que a divulgação da definição de desmatamento australiana é “iminente”.