Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
Entre janeiro e agosto de 2023 o mercado do boi gordo teve a maior desvalorização dos últimos 25 anos, pelo menos.
Em agosto, a projeção de custos de uma arroba saída do confinamento estava ao redor de R$234,00 e o mercado futuro apontando para algo em torno de R$202,00. O mercado futuro não cobria a arroba engordada, muito menos a arroba de entrada. Essas referências e as apresentadas adiante utilizaram como base preços do Cepea e o Índice de custo de produção de bovinos confinados da FMVZ/USP.
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Esse é o cenário na entrada do gado que, em cerca de cem dias, vai suprir parte da oferta de confinamento em novembro. Quem arriscou mesmo com o cenário pouco atrativo já vê as contas no azul, considerando os valores do boi em tela. Em outras palavras, há possibilidade de garantia de margem.
O ponto nessa análise não é o resultado de quem confinou em agosto, mas do cenário completamente negativo sobre as contas da atividade, o que deve impactar na oferta de novembro e início de dezembro.
Pensando na oferta de outubro, mês que começa em alguns dias, uma estimativa custo de arroba vendida do gado fechado em julho era de algo em torno de R$245,00, com a arroba engordada compensando as arrobas de entrada, que ainda não tinham caído aos patamares mais recentes. O mercado futuro para o outubro começou julho acima de R$263,00 e terminou em torno de R$234,00. Aqui havia possibilidade de entrar no jogo garantindo resultado.
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Em setembro o cenário melhorou, mas o gado que foi fechado este mês deve sair apenas em dezembro, quando a chuva já atrapalha o operacional e o volume geral de gado de cocho tipicamente é menor. Em ano de El Niño, como o atual, o Centro-Sul deve ter chuvas acima da média.
Intenções de confinamento
De acordo com o segundo Levantamento das Intenções de Confinamento de Mato Grosso, do IMEA, divulgado em agosto, mas com pesquisa feita em julho, a expectativa era de redução de 4,5% na quantidade de gado confinado, na comparação com a estimativa de mesmo período em 2022.
A principal preocupação do produtor à época era o preço do boi gordo (76,9% dos entrevistados citaram o ponto).
Cabe destacar que a pesquisa foi em julho e em agosto o pecuarista ficou com saudades dos preços daquele mês. A média mensal de agosto foi R$30,00/@ menor, passando de R$250,00 em julho para R$220,00, aqui usando referências em São Paulo.
Ou seja, a intenção de confinamento com o cenário de julho (saída em outubro) já era de queda de 4,5% e, se tem uma coisa que agosto não foi, é animador. Com isso, embora estejamos em um ano de mais oferta, de maneira geral, pelo ciclo, a pressão de venda oriunda do confinamento deve ser bem mais modesta que o esperado há alguns meses.
Considerações finais
A oferta de confinamento das próximas semanas será aquela que fechada em julho, quando o cenário era de preços em queda. Para as vendas de novembro, quem fechou o gado em agosto vivia a pior queda entre janeiro e agosto das últimas décadas.
Obviamente há situações específicas, tanto de necessidade de liberação de áreas nas propriedades, como os confinamentos que possuem parcerias ou mesmo são da própria indústria. Com isso, o volume total a ser confinado não é diretamente afetado pelas contas ruins que apresentamos, pois há outros pontos que os viabilizam, como a garantia de escala pela indústria.
Com a ressalva de que estamos em um ano de descarte de fêmeas, em algum grau a oferta do “confinamento que não foi feito” deve ajudar na precificação.
Em todo caso, com a quantidade de solavancos no mercado nos últimos anos, aproveitar esse otimismo no mercado futuro para travar preços mínimos (custos) é uma estratégia razoável, que permite aproveitar caso o cenário venha mais positivo que as projeções da B3.
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.
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