Por Renato Villela
Quem chega a Sinop – cidade de quase 200.000 habitantes, hoje sinônimo de pujança do agronegócio – mal consegue imaginar que suas largas e movimentadas avenidas um dia foram meros caminhos de terra batida. Foi esse o cenário que Valdemar Antoniolli, 75 anos, proprietário da Fazenda Platina, no município vizinho de Santa Carmen (MT), encontrou quando desembarcou por lá em 1981, levando consigo a família e o sonho de uma vida mais próspera.
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Sócio de uma madeireira em Ponta Porã (MS), Antoniolli tinha em mente abrir uma nova frente de trabalho. Gaúcho de Nova Prata (RS), percorreu caminho semelhante ao de muitos de seus conterrâneos na década de 80, que deixaram os Pampas em direção à nova fronteira agropecuária do Centro-Oeste. A estiagem longa do Brasil Central e a falta de opções forrageiras o assustaram num primeiro momento. “Só tinha braquiária humidícola e colonião na região. A seca durava seis meses. Pensei: aqui não é lugar de criar gado”, recorda Antoniolli.
Mas era. E a decisão viria alguns anos mais tarde, encorajada pelo pelo surgimento do Braquiarão (Brachiaria brizantha cv Marandu), capim lançado pela Embrapa, em 1984, e que, junto com o Zebu, revolucionou a pecuária no Centro-Oeste. “Comecei a formar as pastagens em 1987”, conta. As terras tinham baixa fertilidade, as invasoras disputavam espaço com o capim e a suplementação apenas engatinhava, o que tornava árdua a tarefa de engordar gado a pasto. “Era o tempo do boi-sanfona, que engordava nas águas e emagrecia na seca, quando não morria. Foi difícil, mas a gente não podia se dar por derrotado, tinha de insistir”, conta Antoniolli, que representa, nesta reportagem, uma leva de pioneiros que ajudou a gerar os excedentes de produção que, mais tarde, transformariam o Brasil no maior exportador de carne do mundo.
A perseverança caminhou junto com a inovação. No final dos anos 90, a fazenda iniciou o que se tornaria a base de seu sistema produtivo: a integração lavoura-pecuária (ILP). Dos 2.400 ha abertos, 1.080 são ocupados por pastagens perenes e 1.320 por soja no verão, seguida de milho-safrinha e pastos temporários. Atualmente, a propriedade dedica-se exclusivamente à cria, com um rebanho de 2.200 matrizes, e está entre as Top 30 mais rentáveis do Benchmarking Inttegra. Graças à ILP, há pasto de sobra na seca, o que lhe permite, inclusive, realizar a estação de monta nos meses de junho, julho e agosto, algo impensável 40 anos atrás. “Hoje, nosso desafio maior é nas águas, porque reduzimos a área de pasto para colocar a lavoura”, diz o produtor, que administra a propriedade com os filhos Giovani e Juliano Antoniolli.