



Um representante dos Pampas
Joaquim Mello, um gaúcho pioneiro de 76 anos, superou desafios transformando a pecuária gaúcha ao implementar melhorias genéticas, nutrição e integração lavoura-pecuária
reportagem: Renato Villela
Como parte das comemorações do Dia do Pecuarista (15 de julho), a Revista DBO elegeu esse personagem que tanto contribuiu para o desenvolvimento do País como tema de sua reportagem de capa, aberta excepcionalmente a todos os leitores (assinantes ou não). Buscamos traçar o perfil desse produtor, apesar das poucas estatísticas disponíveis, e suas vivências, por meio das diferentes gerações que moveram a pujante pecuária bovina de corte brasileira.
Ele surgiu, em terras brasileiras, quando as primeiras cabeças de gado, vindas do arquipélago de Cabo Verde, desembarcaram na Capitania de São Vicente, em 1535. Com perseverança histórica, rompeu a linha de Tordesilhas, empurrando a colonização portuguesa rumo ao sertão nordestino, para suprir de carne os grandes engenhos de açúcar. Nos séculos XVII e XVIII, garantiu a conquista dos Pampas e sustentou as lavras de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Enquanto o café se fortalecia no Sudeste, ao longo do século XIX, ele consolidava a ocupação do Centro-Oeste e, já no século XX, conduzia as famosas comitivas de gado zebu rumo ao Norte. Hoje, este personagem de forte protagonismo histórico – o pecuarista – abastece uma cadeia de valor estimada em R$ 913,14 bilhões/ano, que, em 2022, produziu 10,79 milhões de toneladas equivalentes carcaça (tec) e bateu um recorde de exportações: 3,02 milhões de tecs.
Nesta edição, aproveitando o dia comemorativo do pecuarista (15 de julho), DBO decidiu prestar-lhe uma merecida homenagem, procurando traçar seu perfil atual (apesar da escassez de estatísticas) e revivendo sua trajetória nas últimas cinco décadas, por meio de testemunhos de gerações diferentes, com idade entre 80 e 20 anos. São histórias de pessoas que, literalmente, seguraram as rédeas nas mãos, dispostas a “pegar o touro à unha”; que promoveram avanços em áreas como genética, nutrição e sanidade, por meio de novas tecnologias; que aderiram ao manejo racional e, hoje, controlam fazendas com um olho no boi e o outro no celular, divulgando, orgulhosos, sua rotina de trabalho no Instagram e outras redes sociais. Com participação crescente de mulheres, a nova geração de pecuaristas é multidisciplinar, conectada e atenta às exigências de mercado.
Para entender melhor esse profissional, DBO buscou estatísticas. Sabe-se, por meio do último censo agropecuário do IBGE (2017), que existem 5.073.324 de estabelecimentos rurais no Brasil, ocupando 351.289.000 ha (41% da área do País). Desse total, 2.554.415 propriedades criam bovinos, sendo 1.176.295 voltadas parcial ou exclusivamente à produção de leite. Não se sabe quantos produtores se dedicam somente à pecuária de corte, mas estima-se que superem 1 milhão, com homens no comando em percentual superior ao registrado pelo IBGE para o total de fazendas (mais de 80%) A participação feminina, contudo, vem crescendo. O censo apurou que 946.000 mulheres trabalhavam na agropecuária em 2017 (19% do total, ante 13% em 2006).
Uma pesquisa realizada, recentemente, pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), nos permite saber um pouco mais sobre o pecuarista brasileiro e seus hábitos. Embora restrita ao Mato Grosso e guardadas as devidas particularidades regionais, essa pesquisa é relevante, por ter sido realizada no Estado com maior rebanho bovino do País. Foram ouvidos, entre outubro e novembro do ano passado, 790 produtores, sendo 398 agricultores (83 deles também criadores de gado) e 392 pecuaristas, dos quais 97 relataram também ser lavoreiros. A pesquisa constatou que 80% dos pecuaristas ouvidos tinham rebanhos de até 2.000 animais, 8,21% contabilizavam de 2.001 a 3.000 e 10,15%, possuíam mais de 3.001 cabeças. Esses números se assemelham aos da 8ª Pesquisa sobre Hábitos do Produtor Rural, realizada em 14 Estados, pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), em parceria com a S&P Global (veja figura 1). “Constatamos um perfil bem mais pulverizado do que se imagina”, diz Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA. Esses dados contrariam a imagem de latifundiário como algo inerente ao pecuarista.
No quesito idade, o levantamento do Imea mostrou que os agricultores estão envelhecendo (a maioria dos entrevistados tinham entre 45 e 65 anos). Já os pecuaristas são mais jovens (36 a 55 anos), perfil também confirmado pela pesquisa da ABMRA (veja figura 2). “Isso indica que os filhos desses produtores estão assumindo os negócios”, salienta Nicodemos. Por serem mais jovens, os pecuaristas têm menor tempo de atuação na atividade (6 a 25 anos, ante 16 a 35 anos dos agricultores, segundo o Imea). Além disso, apenas 60% deles se dedicam exclusivamente à atividade. Os demais também atuam no comércio (10,32%), em empresas (8,75%) e na advocacia (6,35%), dentre outros, enquanto 83% dos agricultores têm dedicação exclusiva.
Outra informação interessante é que apenas 39% dos pecuaristas entrevistados pelo Imea tinham curso superior completo, ante 47% de seus colegas “lavoureiros”. A pesquisa mostrou ainda que apenas 29,59% contam com assistência técnica permanente na fazenda. “Esse é um ponto que merece atenção, porque a adoção de tecnologias e o aumento da produtividade dependem bastante de orientação especializada”, explica Cleiton Jair Gauer, superintendente do Imea e um dos coordenadores da pesquisa. O levantamento mostrou que as revendas agropecuárias suprem parte dessa lacuna. Dentre os entrevistados, 21% recorriam a elas na busca por orientações e 9,18% procuravam serviços públicos. A demanda dos agricultores em relação a este canal era bem menor (0,75%).
A conexão com a Internet é um caminho sem volta nas fazendas brasileiras. Além do conforto que a comunicação on line proporciona, há uma série de softwares que auxiliam na gestão da propriedade e que precisam estar conectados à rede para seu funcionamento. Tarefas rotineiras, por exemplo, como a leitura de brincos eletrônicos, pesagem e aplicação de medicamentos, podem ser registrados no curral e salvos na “nuvem”, permitindo acesso aos dados de qualquer lugar. Em função disso, o produtor está cada vez mais conectado. De acordo com o levantamento do Imea, 83,59% dos pecuaristas já têm Internet na propriedade.
O boom se deu, principalmente, nos últimos três anos, quando a instalação da rede cresceu 40% nas fazendas de gado de corte. “Estamos melhorando, mas ainda é um gargalo. São necessárias mais ações para que, no futuro, 100% dos produtores estejam conectados”, afirma o superintendente do Imea. A despeito dos avanços, um olhar mais criterioso da pesquisa revelou que a abrangência da cobertura ainda é bastante restrita: 80% dela se restringe à sede da fazenda (veja ilustração). “É um limitador. Temos de expandir essa cobertura para melhorar os processos, o fluxo de informações e o controle gerencial”, afirma Gauer.
Diferentemente do que acontece com o público urbano, o uso do e-commerce ainda não está consolidado no campo. Dos pecuaristas entrevistados, 70% disseram que realizam a compra de insumos somente presencialmente. “A maior parte diz que não confia nos processos, principalmente na modalidade de autoatendimento”, informa Gauer, explicando que isso se deve ao medo de expor dados e cair em golpes ou a dificuldades de navegação, natural em uma geração que se tornou “online” recentemente. Ainda assim, há uma transição em curso: 25% disseram que utilizam o aplicativo de conversas WhatsApp para fazer cotações e depois finalizam a compra pessoalmente.
O tão temido “apagão de mão de obra” foi citado como uma das principais preocupações dos pecuaristas. A adoção de novas tecnologias fica comprometida com a falta de profissionais com a qualificação necessária. O problema, vale lembrar, não está restrito ao campo, mas parece ainda mais desafiador na pecuária. Com a oferta enxuta, a disputa por mão de obra tende a ser mais acirrada. Se antes a concorrência vinha da cidade, hoje envolve melhores condições de trabalho e melhores salários. A “passagem do bastão” para a geração seguinte, tema sempre tão delicado, também foi abordado na pesquisa do Imea. O levantamento mostrou que a sucessão familiar está no radar tanto dos agricultores (79,41%) quanto dos pecuaristas (76,73%), embora os primeiros já estejam mais adiantados na formalização do processo.
Todos esses números ajudam a traçar um perfil dos pecuaristas, mas quem é a pessoa por trás deles? Que histórias têm para contar? Como vivenciaram a evolução da pecuária? Veja a seguir alguns testemunhos que revivem essa trajetória.
Joaquim Mello, um gaúcho pioneiro de 76 anos, superou desafios transformando a pecuária gaúcha ao implementar melhorias genéticas, nutrição e integração lavoura-pecuária
Valdemar Antoniolli, um pioneiro na região de Sinop, superou desafios como a falta de opções forrageiras e a seca para transformar sua fazenda em um negócio rentável de pecuária
O produtor Bruno Aurélio Ferreira Jacintho, sucessor do renomado pecuarista Chichico, acompanhou de perto a evolução da pecuária, implementando modernizações como o confinamento de bois com melhores resultados de ganho de peso e a divisão dos piquetes para aumentar a lotação da fazenda
Guilherme Pontieri, da Fazenda AgroPontieri, exemplifica a jornada transformadora de modernização da pecuária por meio de investimento, paciência e abordagens personalizadas, alcançando resultados notáveis e se tornando líder na indústria.
Natália Martins encontrou sua vocação no departamento financeiro da Fazenda Camparino, onde utiliza o Instagram para estreitar relações com os clientes e criou o quadro “Zezão responde”, onde seu avô, José Humberto Villela Martins, responde perguntas dos seguidores, mostrando a interação entre duas gerações de produtores.
A nova geração de produtores busca aumentar a produtividade enquanto preserva os recursos naturais, reconhecendo que a sustentabilidade é fundamental para o futuro da pecuária
Joaquim Mello, um gaúcho pioneiro de 76 anos, superou desafios transformando a pecuária gaúcha ao implementar melhorias genéticas, nutrição e integração lavoura-pecuária
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