Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
No início de abril o USDA divulgou uma atualização das projeções para a produção, consumo e comercialização de carnes no mundo.
Mesmo com a suspensão das exportações à China no primeiro trimestre, as projeções não foram afetadas para os embarques brasileiros. Para ser exato, aumentaram em 0,4%, frente às estimativas de janeiro, passando de 3,00 milhões de toneladas equivalente carcaça (tec.) para 3,01 milhões.
Frente ao exportado em 2022, a expectativa é de acréscimo de 3,9%.
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No mesmo relatório, as exportações de Austrália foram revisadas negativamente em 8,2%. Apesar de ainda projetar evolução de 13,0% para as vendas do país, frente a 2022, houve redução de 125 mil tec. na estimativa para 2023.
No relatório de janeiro, Austrália seria o segundo maior fornecedor de carne bovina, perdendo apenas para o Brasil. Nessa última projeção, o ajuste deixou o país na quarta posição, atrás de Índia e Estados Unidos. A figura 1 mostra as variações esperadas, em mil tec, com países ordenados do maior para os menores exportadores.
Os aumentos de Brasil e Índia não devem ser suficientes para compensar o recuo esperado para os embarques dos Estados Unidos (182 mil tec.). Cabe o destaque de que, no caso da Índia, os números incluem a carne de búfalo.
Depois temos o aumento citado para Austrália e outros recuos, como para Argentina, União Europeia e Uruguai, resultando ainda em uma expansão do comércio global em 31 mil tec., o que equivale a 0,3%.
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Outras expectativas para o Brasil
Além das exportações, o USDA estima que a produção de carne do Brasil aumente 2,1%, atingindo 10,6 milhões de tec.
O consumo doméstico projetado é de 7,6 milhões de tec., o que equivale a um acréscimo de 1,3% frente ao observado em 2022.
Com mais fêmeas indo para o gancho, a oferta de carne aumenta e isso acaba afetando positivamente o consumo, ainda que não haja uma economia fortalecendo a demanda.
A necessidade de escoamento da produção adicional acaba segurando o preço da carne e há esse efeito sobre a disponibilidade interna, ainda que não puxada por aumento do poder de compra.
Considerações
O USDA projeta que o Brasil participe com 25,0% do comércio global de carne bovina em 2023, frente a 24,1% no último ano.
Se somarmos o segundo e o terceiro colocados (Índia e EUA), eles representam 24,0% do comércio global, ou seja, não alcançam a participação do Brasil.
Esse cenário de comércio global projetado é interessante e deve colaborar com o escoamento dessa oferta maior de fêmeas em decorrência da fase do ciclo pecuário.
Com a inflação mais calma, temos que acompanhar como os juros e o câmbio se comportarão, uma vez que este fator impacta diretamente na atratividade dos embarques.
De toda forma, com preços do gado em alta nos Estados Unidos e ajustes nas expectativas de exportações para a Austrália, temos um cenário promissor nessa parcela da equação do mercado.
No mercado interno, devemos ter mais produção e algum acréscimo no escoamento doméstico, como citado.
O cenário não deve ser de preços em alta na média anual, mas é possível que haja espaço para um segundo semestre mais firme.
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