Mato Grosso perde posição na produção de leite

A atividade é desenvolvida, majoritariamente, por agricultores familiares e com pouca tecnologia

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Foto: Gabriel Faria

Um estudo conduzido em parceria entre o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a Rede ILPF e a Embrapa mostrou que a sazonalidade na produção de leite em Mato Grosso é maior do que na média nacional. Essa diferença entre a produção na safra e na entressafra é o principal fator que limita a indústria do setor no estado que abriga o maior rebanho de corte do Brasil e lidera a produção nacional de soja e algodão.

De acordo com o trabalho coordenado pelo zootecnista Miqueias Michetti, do Imea, o índice de sazonalidade em Mato Grosso entre 2011 e 2018 foi de 41%, enquanto no Brasil esse valor foi de 20%. A sazonalidade é a diferença entre a oferta de leite em diferentes períodos do ano.

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A variação na produtividade mato-grossense é reflexo do sistema de produção de leite adotado no estado. A atividade é desenvolvida, majoritariamente, por agricultores familiares, em pequenas propriedades, com pouca tecnologia e baseadas na alimentação a pasto. Durante os meses chuvosos, há abundância de pastagem e a produção aumenta. No inverno, quando falta chuva em boa parte do estado, há pouca disponibilidade de capim e a produtividade das vacas despenca.

Essa oscilação na disponibilidade do produto, no entanto, traz consequências negativas para os laticínios, uma vez que há ociosidade superior a 50% da capacidade de produção em alguns meses do ano.

“Essa falta de eficiência na atividade de produção de leite em Mato Grosso pode ser um dos fatores que contribuem para a falta de um parque industrial consolidado e presença de indústrias com marcas nacionais no estado. Em virtude da insuficiência de oferta, os laticínios apresentam problemas relacionados à ociosidade da infraestrutura, da mão de obra empregada, o que impacta a regularidade no abastecimento dos mercados consumidores e no planejamento estratégico de médio e longo prazo”, explica Michetti.

Atualmente o estado conta com 60 laticínios, dos quais dez são de cooperativas de produtores. A muçarela é o principal produto produzido no estado, demandando metade do leite processado na indústria.

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Preços mais estáveis

Embora a disponibilidade de leite em Mato Grosso se altere mais ao longo do ano do que em outras regiões do País, a pesquisa mostrou que a variação no preço do leite no estado é menos intensa. Enquanto na média nacional a variação chega a 14%, em Mato Grosso a variação média é de 11%.

Porém, esse efeito é causado pelo menor aumento dos preços pagos ao produtor na entressafra. Em média, em Mato Grosso se paga 23,29% a menos pelo litro do leite do que no restante do País. Durante a seca, de julho a setembro, a diferença chega a ser de 27,81%.

“Apesar de menor variação, a diferença entre os preços se acentuam nos períodos de entressafra. Dessa forma, o preço do leite não tem se mostrado um mecanismo que estimule a manutenção da produção de leite em Mato Grosso”, explica o zootecnista.

De acordo com os pesquisadores, uma das hipóteses para menor variação no preço do leite no estado durante o período de estiagem é a falta de competitividade dos laticínios devido ao desempenho regular causado pelos altos níveis de ociosidade.

Assistência técnica e tecnologia

De acordo com o analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) Orlando Lúcio de Oliveira Júnior, três fatores ajudam a explicar o cenário da pecuária leiteira em Mato Grosso. Um é a dificuldade de logística: um caminhão precisa se deslocar longas distâncias, em estradas ruins, para coletar o leite. Outro fator é a carência de assistência técnica, o que reflete em baixa adoção tecnológica e em problemas de qualidade do produto. O terceiro ponto é o pequeno mercado consumidor local. Com uma população pequena, o estado de Mato Grosso não consome toda a produção de leite e as indústrias são obrigadas a vender no Sudeste, onde enfrentam a concorrência de grandes empresas do setor.

Para Orlando, o cenário futuro não é promissor para a cadeia do leite em Mato Grosso. Ele destaca o fato de a média de idade dos produtores ser de 54 anos e de não estar havendo sucessão familiar na atividade, de acordo com diagnóstico feito pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato).

A despeito da retração dos números, a cadeia do leite tem grande importância social no campo, uma vez que é a principal fonte de renda de muitas famílias. Como forma de melhorar a produção e qualidade do produto, um grupo de entidades se esforça para qualificar a assistência técnica no estado.

A Embrapa, em parceria com Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT), Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Empaer) e governo do estado desenvolve, desde 2011, um programa de capacitação. Extensionistas e técnicos participam de encontros presenciais em que são discutidos temas como nutrição animal, planejamento forrageiro, manejo de pastagem, manejo sanitário do rebanho, cuidados na ordenha, protocolos de reprodução, entre outros.

Um dos resultados dessas capacitações é a criação de Unidades de Referência Tecnológica (URT) coordenadas pelos técnicos. Esses espaços são utilizados em dias de campo e visitas técnicas e servem como difusores de tecnologias regionalmente.

Produção mato-grossense em queda

Líder nacional em produção de grãos e fibras, como soja e milho e algodão, e também na produção de carne bovina, o bom desempenho de Mato Grosso não se repete na pecuária de leite. O estado vem caindo de posição no ranking nacional de produção. Atualmente é o 10º maior produtor.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção em 2018 foi de 615,8 milhões de litros, o menor volume nos últimos 11 anos.

As vacas de Mato Grosso produzem, em média, 1.637 litros por ano por cabeça, volume 35% menor que os animais do restante do país. A produção média por fazenda no estado também contribui para os números baixos. Entre 2006 e 2017 a média de produção diária por propriedade caiu de 45 para 41 litros, quanto no restante do Brasil esse número pulou de 41 para 70 litros.

ILPF e melhoria do rebanho

A Embrapa Agrossilvipastoril também mantém uma cooperação técnica voltada para a pecuária leiteira com a cooperativa Coopernova. São desenvolvidas pesquisas com a produção de leite em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), nas quais são estudados efeitos do conforto térmico gerado pelas árvores nos índices reprodutivos e na lactação.

Como parte do acordo, metade dos bezerros machos que nascem no campo experimental são destinados à Coopernova, para que possam contribuir com a melhoria do rebanho dos cooperados. Na pesquisa são utilizadas vacas girolandas.

Os resultados da pesquisa são apresentados aos produtores por meio de eventos técnicos, como dias de campo.

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