Recentemente, foram conhecidas as primeiras projeções de plantio de milho 2024/25 na Argentina, realizadas pela equipe de estimativas da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) e da Bolsa de Grãos de Buenos Aires (BCBA).
Ambos os números partilham uma visão fortemente pessimista em relação à próxima safra do cereal, um problema que também pode ser altamente prejudicial ao setor de pecuária intensiva no país, alertam os analistas da BCR.
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Segundo os levantamentos realizados pelas duas instituições, há três fatores determinantes que fundamentam essa aparente retração na intenção de plantio. A principal e mais preocupante está associada à incerteza quanto ao impacto que terá a indesejada ‘cigarrinha’, praga altamente destrutiva às lavouras.
O segundo fator relevante, diz a BCR, é o clima, que, diante de um provável cenário de La Niña (fenômeno natural caracterizado pelo resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico), poderá reduzir significativamente o volume de chuvas durante o período de desenvolvimento do grão, além de forçar, em alguns casos, uma possível alteração nas datas de semeadura.
Por fim, há o fator econômico, aspecto extremamente presente na decisão de plantar cereais, devido ao alto custo de produção que a cultura exige e aos baixos preços oferecidos atualmente pelo produto final.
Diante deste cenário, as projeções atuais mostram uma intenção de plantio de milho que poderá ser reduzida em cerca de 20% em relação à safra anterior.
As previsões da BCBA sugerem uma área total destinada ao milho para grão comercial de 6.300.000 hectares, o que implica em queda de 1.300.000 hectares sobre a temporada anterior.
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Por sua vez, após quase 10 anos de crescimento ininterrupto, a BCR estima que a diminuição interanual da área de milho poderá comprometer cerca de 2.000.000 hectares, resultando em área total de 7.700.000 hectares.
Caso estes números se concretizem, a Argentina poderá deixar de produzir potencialmente mais de 10 milhões de toneladas do cereal nesta nova safra, prevê a Bolsa.
Defasagem de insumo para o gado confinado
Sem dúvida, dizem os analistas da BCR, a queda drástica na safra de milho limitaria significativamente um dos insumos mais importantes para os modelos de engorda em confinamento. A suposta queda na produção do grão, continua a instituição, representaria um verdadeiro desafio aos pecuaristas que desejam agilizar os ciclos de engorda.
Neste ano, relata a BCR, o setor de confinamento vem crescendo não já na Argentina, mas também nos principais produtores de gado do mundo, relatam os analistas, que justificam tal avanço aos baixos preços internacionais dos grãos.
“É o caso do Brasil, onde o número de animais confinados cresce mais de 30%, ou da Austrália, que atinge volumes recordes neste setor”, apontam os analistas.
Da mesma forma, continua a Bolsa, tanto o Paraguai quanto o Uruguai vivem um cenário semelhante ao da Argentina, onde, diante de um inverno muito rigoroso, com fortes restrições às pastagens e um preço do milho próximo dos mínimos históricos, o nível de confinamento cresceu significativamente este ano.
Níveis recordes
Na Argentina, o número de animais reportados em estabelecimentos de engorda em 1º de agosto/24 registrou um volume recorde de 2,05 milhões de cabeças, ultrapassando pelo segundo mês consecutivo os máximos verificados no ano passado em pleno período de seca.
“A relação de troca entre um quilo de novilho gordo e uma tonelada de milho tem oferecido uma equação bastante favorável para a engorda”, destaca a BCR. Em média, em agosto/24, eram necessários cerca de 80 quilos de novilho gordo para comprar uma tonelada de milho. Embora essa relação tenha ficado quase 5 quilos mais cara na comparação com julho/24, ainda foi 10 quilos mais barata que a troca observada em igual período do ano passado.
Surpresa
Há um ano, a queda nas intenções de plantio de milho em 2024 era impensável, diz a BCR. “A tendência de cultivo era muito clara. Nos últimos 10 ciclos, o milho não parou de ganhar área, tecnologia, investimentos aplicados e produtividade em relação ao cultivo da soja”, observam os analistas, acrescentando que a ocupação do cereal passou de 700 mil hectares em 2014/15 para quase 2 milhões na última safra.