O Censo Agropecuário divulgado nesta sexta-feita, 25 de outubro, pelo IBGE revela um dado alarmante: dos 1,7 milhão de produtores rurais que declararam fazer uso de defensivos em suas lavouras, 63% afirmaram não ter recebido nenhuma orientação técnica sobre o uso do produto. O percentual supera os 56% de produtores sem orientação técnica registrado no Censo de 1995, quando 1,4 milhão de produtores assumiram usar o produto.
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A pesquisa revela que o gargalo está principalmente entre pequenos e médios produtores. Entre aqueles que possuem área abaixo de 5 hectares, apenas 23% afirmam ter recebido alguma orientação sobre a aplicação dos defensivos. Entre aqueles com área superior a 5 hectares, esse percentual dispara para 62%, chegando a 91% entre os que possuem mais de 500 hectares. Vale ressaltar que as propriedades com menos de 5 hectares representaram quase 66% do total de estabelecimentos com uso de defensivos em 2017.
Quando considerada a escolaridade, os dados revelados pelo IBGE são ainda mais alarmantes: dos 16% de produtores que afirmaram não saber ler nem escrever, 89% declarou não ter recebido orientação técnica. “Esta informação é mais grave do que o total de agrotóxicos. Uma pessoa que não sabe ler e escrever e que não recebeu orientação técnica, em quais condições aplicava esse agrotóxico?”, questiona o gerente técnico do Censo Agropecuário, Antonio Carlos Florido.
Agrotóxico ou defensivo?
Quando considerado o total de estabelecimentos com uso de agrotóxicos, os dados levantados pelo IBGE indicam oscilação ao longo dos últimos anos, saindo de quase 2 milhões de estabelecimentos em 1980 e chegando a 1,4 milhão em 2006. Os dados de 2017 apresentam o primeiro crescimento desde então, de 20% sobre o total observado em 2006, mas em patamares ainda inferiores ao registrado de 1980 a 1995.
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De acordo com Florido, a queda no período entre os Censos de 1985 e 2006 pode ser justificada pela mudança trazida pela Lei Federal 7.802, de 1989, que alterou a nomenclatura de “defensivos agrícolas” para “agrotóxicos”. “É mais fácil dizer que usou defensivo do que agrotóxicos, que é um nome mais agressivo”, afirma o gerente técnico.
O IBGE ressalta ainda que os dados referem-se apenas ao número de produtores que aplicam agrotóxicos em suas lavouras, o que não permite avaliar nem a quantidade aplicada e nem a qualidade dessa aplicação (uso adequado). Contudo, as informações acerca da orientação técnica são um alarme para o setor. “O problema é o mau uso, a falta de instrução e a falta de fiscalização, não o produto em si”, ressalta Florido em nota.