Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
Sem considerar os últimos três dias úteis, julho já registrou o maior volume de carne bovina da história. Foram 215,6 mil toneladas na parcial da Secex, o que supera em 34,1% o volume de 2023 e em 12,0% os embarques de junho último.
O recorde anterior tinha sido de 212,0 mil toneladas, em maio deste ano. Esse bom início de segundo semestre vai ao encontro das expectativas de aumento das vendas na segunda metade do ano.
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Na média dos últimos cinco anos, a quantidade de carne bovina exportada no segundo semestre aumentou 20,8%, em relação à primeira metade do ano. Como o ritmo das exportações já vem forte, poderíamos ter algum receio quanto ao crescimento na reta final do ano?
Na nossa leitura, apenas uma alteração muito relevante de preços no Brasil, que viria de uma redução importante da oferta de gado, ou uma desvalorização do dólar, advinda de algum juízo fiscal aqui e início de afrouxamento de juros nos EUA, teriam potencial para frear exportações. Em resumo, nosso cenário base é de bons volumes e mais um ano de aumento em relação ao que foi observado até junho. Mesmo com uma evolução dos preços do boi gordo, o que acreditamos que deva ocorrer, há espaço para isso.
Para demonstrar o “espaço” que existe para a manutenção da competitividade da nossa carne, apresentamos a figura 1, que traz a diferença de preços do boi gordo no Brasil (referência SP), em relação a outros exportadores.
Como há diferença de posicionamento entre a carne dos países, assim como diferentes níveis de poder de compra internamente, para “concorrer” com as exportações, a análise não deve ser tomando um “alinhamento” dos preços como cenário base, e sim uma referência da diferença histórica.
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Obviamente que mudanças nas economias, no cenário das pecuárias e aberturas de mercado vão influenciando isso, mas vamos focar em tais médias.
Tomando a diferença média do preço do boi gordo no Brasil para essas outras origens, temos um preço historicamente em torno de 20% menor, considerando as duas médias apresentadas. Em junho último essa diferença foi de 35,3%.
Para exemplificar, se a arroba brasileira em junho estivesse dentro de uma relação histórica com as demais (cerca de 20%, nas duas médias), seria algo em torno de R$308,00/@, 39,6% acima da observada.
Essa diferença ocorre pelo cenário de maior oferta e preços do boi em queda no Brasil, nos últimos anos. Associado a isso, temos o real desvalorizado frente ao dólar, o que barateia ainda mais a nossa arroba no cenário internacional.
Os compradores sabem disso e “apertam” os fornecedores no comércio da carne. Essas aspas foram propositais porque, embora estejamos trabalhando com recuos de preços médios da carne exportada, o nível das cotações do boi gordo e do câmbio mantém a relação entre a carne exportada e a arroba acima das médias históricas.
Essa relação (tonelada exportada/arroba) não á uma fotografia extada e permite diversas ponderações. Por exemplo, há um tempo entre a negociação do boi gordo e a exportação efetivamente, há empresas que atendem mais mercados que pagam menos (mas também há o oposto). Em outras palavras, essas ponderações são apenas para detalhar que, como qualquer indicador, não estamos falando de casos particulares, mas de um cenário geral. E esse cenário está historicamente interessante.
Em junho, com uma tonelada de carne bovina in natura exportada era possível comprar 109,2 arrobas de boi gordo, 13,9% mais que a média de cinco anos (95,9@/t) e 17,4% superior à média desde 2015 (93,0@/t). A título de comparação, com o preço médio da carne exportada em junho, uma relação na média dos últimos cinco anos equivaleria a uma arroba de R$251,30 e na média desde 2015 seria algo em torno de R$259,10.
A arroba vai subir só porque está mais barata que em outros países?
Não por isso, mas a diferença de preços da arroba entre o Brasil e outros players define a nossa competitividade, com consequente aumento dos volumes exportados. Isso ajuda a escoar essa produção maior e colabora com a sustentação e, mais recentemente, evolução dos preços do boi gordo.
A oferta elevada dos últimos anos permitiu que os frigoríficos pressionassem o boi gordo e, com mais carne para escoar, houve repasse das cotações para a carne exportada porque, obviamente, os compradores também estavam cientes da conjuntura por aqui.
O objetivo dessas relações que apresentamos, não é dizer que a arroba vai para R$300,00 porque historicamente seria a diferença para os demais exportadores citados. O intuito é dizer que, se a oferta seguir para uma tendência de diminuição, há espaço para que a arroba suba, mesmo considerando o “deságio” histórico. Há espaço também na relação entre a carne exportada e o boi gordo para preços melhores.
O que falta então?
Na nossa visão, o que falta para que os preços evoluam com maior intensidade é a redução da oferta de gado para abate, que vai ocorrer pelo cenário de menor venda de fêmeas, porque os preços do bezerro melhoraram a rentabilidade da cria. Mais uma vez o tal do ciclo.
Acreditamos que esse movimento já começou.
Mais uma ponderação. No segundo semestre, se o câmbio seguir colaborando e o ritmo das exportações evoluir, se somando ao consumo doméstico melhor do período, um cenário de oferta mais enxuta frente a demanda não seria necessariamente uma queda forte dos abates.
Com a demanda maior pelos pontos citados, qualquer redução da disponibilidade pode ajudar o mercado a seguir positivo, como acreditamos que seja, ao longo do semestre. Podem ocorrer momentos de pressão pela oferta (como sempre é possível), mas acreditamos em um segundo semestre de preços melhores.
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.