Encerrada no dia 23/11, a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte) mostrou que veio para ficar e já tem data marcada para a próxima edição: 17 a 21 junho de 2025, em Presidente Prudente. O período escolhido não apenas possibilitará à Feicorte retomar seu calendário tradicional (a mostra sempre foi realizada em junho, na capital paulista), como também ajudará a driblar o calor causticante característico do oeste paulista, um dos problemas enfrentados na edição de 2024.
Os organizadores se esforçaram ao máximo para recriar a mais icônica das feiras de pecuária do País, famosa não apenas pela alta concentração de empresas participantes e a apresentação de inovações tecnológicas, mas também por ser o “ponto de encontro” preferencial da cadeia pecuária bovina. Para replicar o caráter indoor da feira, foi construído um grande galpão de estrutura metálica, dividido em três ambientes: um auditório para palestras, um setor dedicado à carne (Beef Hour) e um hall para stands de empresas. Esse galpão coberto constituiu o “coração” da feira.
A Feicorte contou ainda com espaços para apresentação, julgamento e venda de animais em leilões (estrutura do próprio parque de exposições de Presidente Prudente) e uma área demonstrativa de integração lavoura-pecuária, com 2.000 m2, para apresentação de tecnologias voltadas a este sistema de produção. Segundo os organizadores, passaram pelos três ambientes da Feicorte, nos cinco dias de evento, cerca de 8.000 pessoas. “Atingimos nossos objetivos e contamos com o apoio de todos para fazer uma edição ainda melhor em 2025”, disse Carla Tuccilio, CEO da Verum, empresa organizadora do evento. Veja mais números da mostra:
Continue depois da publicidade
- Mais de 45 horas de conteúdos
- 40 palestrantes
- Mais de 100 expositores
- 500 animais de 10 raças bovinas, além de equinos
- Cinco leilões
- Área total do evento: 84.000 m²
- Área coberta: 5.800 m²
PRINCIPAIS DESTAQUES
PACOTE DE MEDIDAS DO GOVERNO PAULISTA – O dia mais movimentado da Feicorte foi, sem dúvida, o de abertura (19/11), que contou com a presença do governador Tarcísio de Freitas e do secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai. Durante a visita, eles apresentaram várias medidas de interesse para o setor agrário e agrícola do Estado, dentre elas:
1) Sistema de Identificação Individual e Rastreabilidade de Bovinos e Bubalinos de São Paulo (SIRBOV-SP), que começará a funcionar efetivamente a partir de 2025, quando será publicada regulamentação específica. Com fins exclusivamente sanitários — não se prevê associação da Guia de Trânsito Animal (GTA) com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) –, o sistema prevê adesão voluntária e identificação individual dos animais por meio de brincos e bottons eletrônicos (veja mais detalhes em reportagem específica sobre o tema).
2) Entrega de títulos de terra – O secretário Piai anunciou a entrega de 502 títulos de regularização fundiária, abrangendo 11.400 ha, principalmente para pequenos e médios produtores de assentamentos e comunidades quilombolas. Em quase dois anos, a Fundação Instituto de Terras (Itesp) regularizou mais de 130.000 ha e a meta do atual governo paulista é chegar a 600.000 ha.
3) Validação do CAR – Ainda segundo o secretário, São Paulo já conta com 82.000 CARs (Cadastro Ambiental Rural) validados. “Seremos o primeiro Estado do Brasil a validar 100% dos CARs”, disse ele.
Continue depois da publicidade
4) Brincos ao invés da marca a fogo – Esse programa, que acaba com a obrigatoriedade da marcação das bezerras com ferro candente para comprovar que estas foram vacinadas contra a brucelose, foi anunciado pelo governo paulista em março, mas somente recebeu aval do Ministério da Agricultura e Pecuária em outubro. O Mapa ainda não sinalizou que pretende estender essa medida para todo o Brasil. Na Feicorte, foram expostos animais com os identificadores do programa (brinco e bottom).
5) Meio ambiente – São Paulo tem 25% de seu território coberto por vegetação nativa e a meta é reflorestar 1 milhão de hectares, trabalho que vem sendo coordenado pela Fundação Florestal. Segundo o secretário, também já foram recuperados 1,3 milhão de hectares de pastagens degradadas.
6) Programa Integra Pontal – Ampliação do Programa Integra SP Agro, conduzido pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), em parceria com a Rede ILPF, visando a adoção de modelos de produção sustentável a partir da produção de grãos em associação com a pecuária. Já foram incorporados ao sistema 1,3 milhão de hectares no Estado. A iniciativa será levada agora à região do Pontal do Paranapanema, onde há alta incidência de pastagens degradadas. No Pontal, o programa contará com apoio da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste).
PAINEL DA FEBRE AFTOSA
Dentre os ciclos de palestras realizadas na Feicorte, destacou-se o painel sobre febre aftosa, que contou com a presença dos responsáveis pelos programas de controle da doença em vários Estados. Foi realizado um balanço das ações conduzidas para evitar a reintrodução da aftosa em território brasileiro e assinado um acordo de cooperação entre São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná para troca de experiências no fortalecimento dos mecanismos de vigilância sanitária.
Uma das iniciativas mais interessantes apresentadas no evento foi o App Transportador, da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro), que permite acompanhar e monitorar o transporte de animais no Estado em tempo real. Ainda durante este painel foi apresentado o Fundesa-PEC, fundo indenizatório de São Paulo, em caso de eventual foco de aftosa no Estado (veja detalhes em matéria à parte).
CONTA DO BOI
Boa parte da programação de palestras foi dedicada a este tema, que se desdobrou da cria à terminação, passando por análises de mercado. A curadoria técnica da Feicorte procurou mostrar não apenas a importância de se fazer a “conta do boi” para obter bons resultados na atividade, mas também procurou apresentar, ao produtor, algumas ferramentas que podem ajudá-lo a fechar essa conta no “verde”. Os palestrantes falaram sobre a importância da seleção para maior área de olho lombo, irrigação de pastagens e desmame precoce, dentre outras técnicas.
Foi reservado também um espaço na programação para o mercado pecuário. Maurício Velloso, presidente da Assocon, classificou 2024 de ano bipolar. “Ainda que tenhamos a maior produção da história, também estamos vivendo, de forma imprevista, a maior demanda simultânea dos mercados interno e externo, o que nos fez passar de um primeiro semestre de preços baixos para um segundo semestre de rápida recuperação, acima dos R$ 300/@”, explicou ele.
Rodrigo Albuquerque salientou, por sua vez, que o pecuarista precisa ter uma estratégia anticíclica: “Quando todo mundo está querendo comprar, é a hora de vender. Para onde a gente pode olhar hoje? Se a gente pegar o pico de preço do bezerro, em junho de 2021 (R$ 3.200), e atualizarmos este valor pelo IPCA de hoje, veremos que somente quando ele chegar a R$ 3.950 estará realmente valorizado. O bezerro costuma demorar 4,5 anos para ir do pico ao vale, mas ele está se recuperando antes, porque foi um absurdo o abate de fêmeas que tivemos”, alertou.
BEEF HOUR
Este espaço, munido de palco, foi um dos grandes acertos da feira. Além de palestras, como a do pesquisador Gustavo Rezende, sobre a evolução da pecuária bovina nos últimos 20 anos, também foram apresentados projetos de carne de qualidade, como a Vermelho Grill e Celeiro. Os produtores puderam acompanhar o desenvolvimento dessas marcas que hoje fazem diferença no prato do consumidor.
Pelo espaço também passaram grandes nomes da arte do churrasco (Paula Labaki, Geléia, Gibão BBQ, Julia Carvalho, Mamute, Doctor BBQ e a costeleira Helô Palácio, embaixadora da Feicorte). Eles foram responsáveis por seis horas de open food, no dia 23/11, evento organizado para encerrar a feira. O festival gastronômico contou com apresentações musicais e muita cerveja.