Por Ariosto Mesquita – de Nova Alvorada do Sul (MS)
Uma planta que já foi considerada praga, ganhou espaço na pecuária e agora pode se tornar aliada também da agricultura. A Embrapa iniciou, em setembro de 2024, uma pesquisa para avaliar e recomendar o uso de estilosantes, em consórcio com braquiária, para reforma de pastos degradados em proposta de integração lavoura-pecuária (ILP). As áreas de plantio conjugado serão pastejadas e posteriormente dessecadas, cedendo espaço para o plantio de soja sobre sua palhada.
“Queremos avaliar a produção de massa e o desempenho agrícola. Nossa utopia, se é que podemos chamar assim, é formar o estilosantes em consórcio, controlar bem as plantas daninhas e entrar plantando a soja sem matar a leguminosa. Assim, após a colheita ela voltaria com potencial”, revela Luis Armando Zago Machado, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) que conduz o estudo ao lado do seu colega de unidade, Rodrigo Arroyo Garcia e de Celso Dornelas, da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS).
A pesquisa utiliza parcelas distintas incluindo cultivos solteiro dos dois componentes e consorciados envolvendo a braquiária Marandu e quatro estilosantes: Campo Grande, Bela e os novos (já registrados e ainda não lançados), BioN e Nuno, desenvolvidos pela Embrapa Cerrados (Planaltina, DF). “O que posso dizer é que são materiais com boa produtividade de sementes e de massa, avaliados em condições severas do Cerrado”, adianta Dornelas.
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Posteriormente, as áreas serão semeadas com soja. Todo este trabalho está concentrado na Fazenda Passo da Anta, em Nova Alvorada do Sul, MS, cujo solo é bastante arenoso (perto de 15% de argila). A propriedade parceira da Embrapa, de 780 há de área total, já usou, no ciclo 2023/2024, 36 ha com estilosantes Campo Grande, conjugado ou não com capim.
“Formar pasto consorciado com estilosantes, o produtor já faz no Brasil há algum tempo. A novidade começa quando usamos este ambiente para semear a soja. Após sua colheita, o proprietário rural pode optar por uma segunda safra de milho ou de carne. Estamos testando várias possibilidades”, avisa Dornelas.
Os pesquisadores contam que o estudo a campo foi estimulado por um “trabalho empírico” conduzido há pouco mais de meia década pela Sementes Boi Gordo no município de Sapezal (MT) usando estilosantes como descompactador, material de cobertura e reativador orgânico do solo, antecedendo o plantio da soja.
“Isso acaba viabilizando as piores áreas da propriedade para a lavoura. No entanto, não existem dados compilados. Nós estamos trabalhando para gerar números e viabilizar a recomendação da prática. Outra diferença é que, em Sapezal, as terras recuperadas não voltam para o pastejo. Aqui estamos propondo isso também”, observa Zago.
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Estilosantes são forrageiras ricas em proteína e reconhecidas como ótimas ferramentas para fixar biologicamente no solo o nitrogênio encontrado na atmosfera. “Mas se fosse só esse o benefício bastaria trabalhar com adubação química para obter a mesma resposta. A planta é também útil, por exemplo, no controle de nematoides, na descompactação de solo e na busca de nutrientes”, avalia o pesquisador Garcia. “Sua raiz pivotante pode atingir vários metros de profundidade, ajudando a planta a resistir a estresse hídrico e a ciclar nutrientes em camadas mais profundas”, completa Dornelas. A Embrapa espera obter os primeiros números do estudo em 2025.
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