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Biodefensivos nas lavouras

Por Gustavo Ranzani Herrmann Engenheiro agrônomo e vice-presidente da ABCBio – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico

O setor de defensivos agrícolas brasileiro é um dos maiores do mundo, perde apenas para o norte-americano, se considerado o ano fiscal de 2017. Nesse ano, as vendas de herbicidas, fungicidas e inseticidas químicos somaram quase US$ 9 bilhões em terras nacionais.

No entanto, o segmento de proteção de plantas vem atravessando uma fase de transformação nos últimos anos no Brasil, que interrompeu um ciclo de crescimento de 2010 a 2014 (nesse período ficamos à frente dos EUA), estagnando-se em números absolutos menores de 2015 a 2017, e com previsões de mais retração para os próximos anos.


Isso torna clara também a movimentação de fusões e aquisições entre as grandes empresas do setor, anteriormente apelidadas de “Big Six”, agora “Big Four” (Syngenta, Bayer/Monsanto, BASF, Dow/DuPont), que detém mais de 65% do mercado global, segundo dados do Grupo Kleffmann.

Dentre as novas tecnologias é importante destacar o crescente uso dos biodefensivos, produtos com ingredientes ativos biológicos registrados no Mapa (Ministério da Agricultura) como controladores de pragas e doenças agrícolas.

Dividem-se em macrobiológicos (insetos parasitoides e ácaros predadores) e microbiológicos (fungos, bactérias, vírus e nematoides entomopatogênicos).

Alguns fatores ajudam a explicar a redução nos últimos anos, a saber:

• redução de novos lançamentos (“pipeline”) pela indústria de agroquímicos;
• advento de novas tecnologias (biotecnologia de sementes, biodefensivos etc.);
• o crescente problema de resistência de pragas e doenças a moléculas químicas;
• a pressão, principalmente dos países desenvolvidos, por menor uso de agrotóxicos em culturas alimentícias.

Dentro do conceito de MIP (Manejo Integrado de Pragas e Doenças) o produtor deve lançar mão da biotecnologia, de variedades resistentes, rotação de culturas e controle químico, ferramentas básicas e bem conhecidas. Mas não há como fazê-lo sem o controle biológico, tecnologia que ainda carece de maior conhecimento por parte dos agricultores.

O controle biológico nasceu nos institutos de pesquisa do Brasil na década de 1970. Desde então, pouco avançou nas mãos da indústria nacional, sempre acanhada e sombreada pelas grandes corporações fabricantes ou importadoras de químicos, até o começo desta década.

Fato é que, pelas razões já elencadas, a demanda cresce a passos largos, o que vem fazendo surgir empresas sérias e profissionalizadas, nacionais e estrangeiras, dentro de um segmento que ainda possui muita desinformação e picaretagem.

Em 2007, por iniciativa conjunta da Embrapa e de empresas privadas, nasce a ABCBio (Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico), com a missão de profissionalizar e regulamentar o setor. Inúmeras foram as ações e conquistas dessa entidade junto aos órgãos reguladores, resultando em uma união de 23 empresas atualmente, com voz ativa em todas as esferas de poder.

Mas não basta. Hoje, o maior entrave para o desenvolvimento desse mercado é a ausência de capacitação para o uso de biológicos. Poucos são os profissionais no Brasil, sejam autônomos ou ligados a propriedades agrícolas, que recomendam defensivos biológicos com segurança.

Isso abre uma avenida para oportunistas e desvios de conduta. Estima-se que metade do mercado de controle biológico no Brasil pertença a três classes, todas elas reprovadas pela indústria. São elas:

  • Biodefensivos sem registro no Mapa;
  • Biodefensivos registrados como fertilizantes;
  • Biodefensivos caseiros.

Produtos sem registro são facilmente encontrados nas praças agrícolas, fabricados por empresas inidôneas, sob o pretexto da dificuldade de registrar-se um ativo biológico (regulamentado pela mesma lei dos agrotóxicos) e baixo risco de uso.

Ora, as empresas sérias têm que investir em pesquisa, desenvolvimento, produção, formulação, distribuição, assistência técnica e tudo o mais, para fornecer produtos de qualidade à nossa competente agricultura. Não há como imaginar que esse sub-segmento prospere. Mas pelo tamanho do mercado e a falta de estrutura de fiscalização do governo, infelizmente isso acontece.

Não raramente também, o agricultor é confundido com produtos que prometem controlar pragas ou patógenos na lavoura, mas foram registrados como fertilizantes. No rótulo, garantias mínimas de macro ou micronutrientes. Dentro do frasco, agentes biológicos de controle. Chamamos isso de desvio de uso, pois a empresa produtora de tal item quer burlar a legislação de defensivos (mais complexa, cara e demorada) e chegar ao mercado através da norma de fertilizantes (mais simples e mais barata, e rápida).

No mínimo injusto, se pensarmos que a indústria de defensivos precisa passar por uma série de testes e análises com seus produtos, para mostrar aos órgãos como o Mapa, Anvisa e Ibama que os mesmos não agridem o ser humano ou o ambiente, e possuem eficiência agronômica.

E por fim, os defensivos caseiros. Por conta de um setor ainda incipiente (os defensivos biológicos representam menos de 2% do mercado de proteção de plantas), algumas empresas têm oferecido “kits” de fabricação na fazenda. Muito simpática e atraente, a ideia tem conquistado seguidores, fazendo a difusão da prática em todos os segmentos produtivos (grãos, HF, cana etc.).

Os inimigos naturais das pragas devem ser preservados.

Não há como ser contra a produção caseira, e a ABCBio não é. Ela é facultada ao agricultor dentro da legislação que regulamenta a produção orgânica. Mas é obrigação da indústria (profunda conhecedora do tema), alertar os seus clientes finais dos riscos de tal prática.

Quando se trabalha com microrganismos vivos, a exigência de condições hermeticamente fechadas e minuciosamente controladas é sine qua non. Se o produtor tiver condições de montar uma biofábrica em sua propriedade, que atenda aos mínimos requisitos de qualidade, não há problemas nesse sentido. Mas na prática, vemos o oposto: caixas d’água a céu aberto, reatores semi-profissionais e condições de assepsia zero.

Isso pode trazer consequências catastróficas ao seu sistema de produção, bem como colocar em risco os trabalhadores da fazenda. Produtos biológicos produzidos com qualidade ou bem formulados possuem baixa ou nenhuma toxicidade. Mas, se em seu processo produtivo houver margem para crescimento de outros microrganismos (bactérias, fungos etc.), que vão de indesejáveis a perigosos, o produtor pode dar um tiro no pé.

Vivemos um momento da agricultura nacional em que a palavra “custo” tem prioridade na cadeia produtiva. E o produtor não está errado em pensar assim, pois desassistido de verdadeiras políticas públicas, a ele sobram os impactos do aumento de preços dos insumos, combinados ao carrossel das commodities agrícolas.

De forma alguma se sustenta esse pensamento em longo prazo, pois o que realmente precisamos é de aumento de produtividade e consequente lucratividade no campo. E isso só virá com pesados investimentos em tecnologia, tripartidos entre o governo, empresas privadas e o produtor.

Produtos biológicos profissionais na fazenda, aliados ao uso coerente de agroquímicos e à agricultura digital, podem revolucionar a agricultura que conhecemos hoje, na medida em que tornam o manejo mais inteligente e sustentável, trazendo de volta ao sistema um conceito básico: trabalhar a favor da natureza.

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