Os abates clandestinos representaram quase 15% do total registrado em Mato Grosso, roraima e Pará em 2015, segundo levantamento realizado pelo Cepea em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
São duas as abordagens consideradas na pesquisa: da demanda por carne bovina e a da oferta de animais “prontos” para o abate. O estudo estima que o total abatido sem qualquer tipo de inspeção foi de 14,1%. A abordagem de dados corresponde ao Projeto Campo Futuro, que representa as principais regiões de pecuária bovina do país.
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Da perspectiva da demanda, a pesquisa estima índices inferiores. Nesse caso o abate não fiscalizado no Brasil ficou em cerca de 3,83% a 5,72% do total de cabeças abatidas. As estimativas para este caso foram obtidas a partir de dados secundários do IBGE (Pnad, POF 2008/2009 e Pesquisa Trimestral do Abate de Animais) e dados primários sobre o autoconsumo de carne bovina nas propriedades rurais brasileiras.
Os pesquisadores ressaltam as limitações de informações para esta estimativa, que usa dados de quatro anos atrás. Segundo eles, faltam dados mais atualizados sobre o consumo per capita de carne bovina e informações sobre a magnitude do comércio interestadual de carne bovina.
Aspectos metodológicos
A abordagem ‘demanda’ estima a quantidade de animais necessária para atender ao volume de carne bovina demandada por Estado, seja para consumo interno ou comercialização com outras localidades.
Em cada um dos estados da análise, o volume é definido pelas variáveis do consumo de carne bovina estadual, comércio interestadual (animais vivos e carne bovina), exportação, importação e autoconsumo.
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A metodologia ressalta a importância do autoconsumo, uma prática legal e comum na zona rural, mas que não entra nas estatísticas oficiais.
Os dados de demanda são cruzados com os dados oficiais de abate divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que incluem animais abatidos sob os três sistemas de inspeção – federal (SIF), estadual (SIE) e municipal (SIM). A diferença residual entre a estimativa da quantidade demandada e os dados oficiais é interpretada como o abate não fiscalizado.
No caso da abordagem da oferta, estima-se a quantidade de bovinos que estariam aptos para abate em 2015. O cálculo é realizado com base nos dados oficiais de rebanho divulgados pelo IBGE, nas Guias de Trânsito Animal (GTA) emitidas pelos serviços oficiais dos Estados e nos índices zootécnicos das fazendas típicas analisadas pelo Cepea em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
A quantidade de animais aptos para o abate é comparada, então, com os dados de abates divulgados pelo IBGE após as correções feitas relativas à movimentação interestadual de animais. Considera-se que a diferença entre as duas variáveis é a quantidade de bovinos abatidos sem qualquer tipo de fiscalização.
Estudo anterior
Em estudo realizado em 2012, o Cepea já havia estimado o percentual de abate não fiscalizado nacional em torno de 7,6% a 8,9%. Mas há diferenças metodológicas com o levantamento atual – por isso, os dados não devem ser comparados.
Pela atual metodologia, segregou-se a demanda de carne para população urbana e rural e refinou-se a metodologia para estimar a oferta de animais, considerando-se regiões distintas dentro dos estados e ampliando o uso das informações das GTAs.
Os estudo com os números divulgados pelo Cepea ressalta que há desafios para avançar, ainda mais, nas estimativas do abate não fiscalizado. Além da evidente necessidade de registro e divulgação de estatísticas de movimentação de carnes entre os estados, há oportunidades de se aprofundar os levantamentos de campo para detalhar o autoconsumo de carne nas áreas rurais.