Uma história de pecuária de corte intensiva na Zona da Mata Mineira com final feliz: 30@/ha/ano e carcaças com alto rendimento industrial
Quem olha a paisagem declivosa da Zona da Mata Mineira pensa logo em pecuária leiteira familiar (atividade predominante na região), mas, bem ali, nos municípios de São João Nepomuceno, Descoberto e Piraúba, se encontra um projeto de recria/engorda intensiva ponta a ponta, que nasceu justamente em função da topografia.
“Como é difícil fazer pastejo rotacionado com adubação, por causa da declividade, e o projeto demandava intensificação, foi necessário recorrer à RIP (recria intensiva a pasto), para girar os animais rápido e aumentar a lucratividade por hectare”, explica Mateus Merlo, consultor técnico de corte da Agroceres Multimix em Minas Gerais.
São cinco pequenas fazendas (Santa Marta, Santa Helena, Cachoeira Alta, Mangueiras e Anjos da Guarda), que somam 1.050 ha. Desse total, 800 ha são ocupados por pastagens de Braquiarão, manejadas em sistema contínuo, com lotação de 2,5 a 3 cabeças/ha, ganhando entre 800 g (seca) e 1,2 kg/cab/dia (águas).
“Nossa vocação não é produzir leite e sim carne, pois temos um frigorífico, e a RIP nos ajudou a ganhar escala. Sem essa tecnologia, a pecuária de corte aqui seria pouco rentável”, garante Igor Lopes Costa Mendonça, que, aos 27 anos, gerencia o projeto familiar junto com o pai, José Maria Costa Mendonça, e o irmão, José Costa Mendonça Neto.
Tecnologia sob medida
A família Mendonça já usa a RIP há cinco anos. No meio do caminho, até experimentou voltar a oferecer apenas proteinado aos animais, mas não deu certo. A lotação já estava alta, houve pressão muito forte sobre as pastagens, a oferta forrageira por animal caiu muito e o desempenho ficou abaixo do esperado. “Vimos, então, que a RIP era fundamental para o nosso sistema. Jamais produziríamos as 30@/ha que produzimos hoje, se fornecêssemos apenas sal proteinado aos animais”, garante o produtor.
Segundo ele, com o atual cenário de valorização da terra e da arroba, é preciso buscar maior produção “nem é por hectare, mas por metro quadrado”, visando remunerar melhor o capital investido. “O foco da empresa é trabalhar sempre com alta lotação, girar rápido o gado e produzir novilhos precoces, de alto valor agregado”, frisa Renato Mendes, gerente das fazendas do grupo.
Aproximadamente 2.200 animais são submetidos à RIP nas cinco propriedades da família, recebendo 1% do peso vivo em concentrado. Uma parte acaba sendo terminada a pasto, mas a maioria vai para os confinamentos das Fazendas Santa Marta e Cachoeira Alta, instalações com capacidade estática para 1.500 cabeças cada. “Fazemos de dois a três giros, engordando entre 6.000 e 8.000 animais por ano”, informa Igor.
“A RIP desempenha outro papel importante no sistema: os animais já chegam ao cocho adaptados, o que encurta o período de engorda e simplifica a rotina operacional da fazenda, que não precisa trabalhar com duas dietas nesses lotes”, explica Mateus Merlo. “Além disso, os animais ficam mansos, o que facilita o manejo”, acrescenta Mendes.
Resultados excelentes
Segundo os técnicos, os animais que passam pela RIP têm melhor desempenho, tanto no cocho quanto na linha de desossa da indústria, em comparação com os bois magros, pois são abatidos jovens (20-22 meses) e pesados (18-23@). Cerca de 80% deles apresentam bom acabamento de gordura e têm seus cortes direcionados à linha grill do Frigorífico Cruzeiro do Sul.
A indústria foi fundada pelo pai de Igor (o senhor José Maria), no município de Ubá, e hoje abate de 350 a 400 cabeças/dia, vendendo seus produtos para todo o Estado de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal. “Com a RIP, a gente consegue agregar valor à carne”, frisa o produtor.
Nas fazendas da família Mendonça, a recria dos animais adquiridos à desmama dura apenas seis/oito meses, dependendo da época do ano. Questionado sobre a relação custo/benefício da RIP, Igor responde: “Considerando-se a maior produção de arrobas por hectare, essa relação é bastante positiva; no extensivo, gasta-se menos, porém o retorno é muito lento e a receita por hectare, muito baixa. Na RIP, a gente investe mais dinheiro, coloca mais capital, mas também tem uma receita maior. O ganho de 800 g a 1,2 kg/cab/dia paga as contas da fazenda e deixa lucro”.
Assista ao vídeo do case:
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