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Não avalie a Recria Intensiva a Pasto (RIP) a partir de visões pré-concebidas. É perfeitamente viável fornecer quantidades maiores de ração aos animais a pasto, afinal, este é o melhor momento de explorar todo seu potencial de conversão alimentar, transformando alimento em carne”, afirma Matheus Moretti, gestor técnico da Agroceres Multimix, que segue questionando: “Por que o produtor, frequentemente, considera normal investir no chamado sequestro; acha normal tratar os animais nesse sistema com uma dieta contendo de 20%-40% de concentrado, mas se espanta ao falarmos em fornecer ração na faixa de 0,5% a 1% do peso vivo na RIP? A quantidade é a mesma! Dados, tanto de pesquisa quanto de campo, mostram que o desempenho dos animais é muito próximo. Neste caso, tudo é questão de onde se coloca o cocho no processo de intensificação, no confinamento ou no pasto”.
Deixando o paradigma do uso de ração a pasto de lado, o avanço da RIP no País esbarrou em questões operacionais, devido à realidade das fazendas de gado de corte e o desafio da mão de obra. Tratar dos animais diariamente, movimentando grandes quantidades de ração pelas pastagens, por longo período, inviabilizava sua adoção em projetos de média a grande escala. “Sabíamos do potencial da estratégia, tínhamos resultados promissores, porém esbarrávamos na operação. Foi aí que surgiu a solução da ração com modulação de consumo”, diz Moretti.
Após vários testes e experiências de campo, entendeu-se como a modulação funcionava e comprovou-se o potencial da estratégia, que permite o fornecimento de ração duas a três vezes por semana, ao invés de todos dos dias. Ou seja, manteve-se os ganhos esperados e otimizou-se a operação. “A partir daí, somente vimos o uso da RIP crescer, tanto na recria de animais para abastecer a engorda, principalmente em fazendas que tinham adotado a TIP, quanto em projetos de cria, visando acelerar a reposição das fêmeas, que passaram a entrar em reprodução aos 14 meses”, comenta Moretti.
Na RIP, a alimentação dos animais é composta em 50%-70% de forragem, por isso o pasto precisa ser bem manejado e, preferencialmente, adubado para reposição de nutrientes, pois o sistema trabalha com lotações altas, podendo chegar a 4-6 cab/ ha. Por mais que o fornecimento de ração reduza o tempo de pastejo do animal e sua dependência em relação ao capim, não se obtém bons resultados em ganho individual e em arrobas/ha sem esse alimento básico, o “arroz-com-feijão” da pecuária bovina brasileira. “Fazendo uma analogia simples, se a gramínea forrageira for um volumoso de baixa qualidade como um bagaço de cana (somente fibra), o animal não terá o mesmo desempenho observado em uma pastagem bem cuidada, ‘tipo silagem boa’ (rica em energia)”, compara Moretti.
Outro detalhe importante é o planejamento forrageiro. Se os bezerros desmamados entram no sistema em maio, por exemplo, já se sabe que irão sair em janeiro/ fevereiro, cedendo lugar a novos lotes. Para garantir um fluxo contínuo de animais, é preciso ter reserva de pasto (vedar áreas) ou recorrer à adubação estratégica. Pode-se fazer aplicações de adubo nitrogenado tanto no início das águas, para acelerar a saída do capim, quando no final do período chuvoso, vedando parte dos pastos, estocando forragem para o período seco.
Tudo depende do cronograma de reposição de animais da fazenda. O fundamental é planejar as operações para evitar escassez de forragem em momentos críticos. Deve-se buscar a perenidade do sistema. “Cuidado para não pesar na lotação e rebaixar demais o pasto, porque você pode ficar sem forragem para o ciclo seguinte”, alerta o técnico da Agroceres. Como o capim representa 50%-60% da dieta dos animais na RIP e a composição nutricional desse alimento sofre variações ao longo do ano, é necessário ajustar a ração, em momentos específicos, para garantir as necessidades dos animais. “Recomendamos o uso de formulações diferentes para águas (20%-25% de proteína bruta) e para a seca (25% a 30% de PB), sempre contando com orientação técnica”, explica Moretti.
Deve-se também dimiensionar bem a área, para que o tamanho do piquete seja compatível com o número de animais alojados. “Evite trabalhar com lotes muito grandes, porque eles tendem a apresentar maior variação de desempenho e maior dificuldade no manejo de pastejo. Lembre-se que o cocho é o prato dos animais: ofereça pelo menos 20 cm de espaço linear por cabeça, visando evitar disputa pelo alimento e formação de “fundo” (bovinos que engordam menos, por comer menos). Caso a fazenda opte por fazer RIP nas águas, os cochos precisam ser cobertos e ter boa capacidade de armazenamento.
Vale a pena posicionar os bebedouros a certa distância dos cochos. Assim como na TIP, essa ação ajuda a manter a água mais limpa.
Os resultados da RIP, contudo, não podem ser avaliados somente pelo ganho individual do animal. Seu benefício vai além. Dado o aumento do GMD e da lotação, colhe-se mais arrobas por hectare e em menor espaço de tempo. Se, por um lado, o boi 7.7.7 tratou da produção de arrobas sob o ponto de vista do animal, propondo 7@ na recria em até 12 meses, a RIP trata o sistema com os olhos voltados para o hectare, elevando a produção de arrobas na recria.
De forma geral, é importante frisar que a RIP permite encurtar esse período, aumentar a taxa de lotação, reduzir o custo fixo por cabeça/mês e, consequentemente, obter maior lucro por hectare. A proposta é simples: fornecer ração aos animais pós-desmama de duas a três vezes na semana, com autoregulação do consumo na proporção de 0,5% a 1% do peso vivo. Os ganhos variam de 650 g a 1 kg/cab/ dia, sob lotações de 3 a 5 UA/ha, resultando em produção de 7@/cab e 28-35@/ha, em oito a nove meses. Evidentemente, cada fazenda tem sua realidade, o que exige ajustes na estratégia.
Um lembrete importante: não basta planejar as ações associadas ao sistema; é fundamental executá-las bem e, principalmente, monitorá-las para identificar eventuais gargalos ou erros de manejo. Se bem conduzida, a RIP possibilita abater bovinos mais jovens e pesados, com bom acabamento de gordura, que atendem tanto o mercado chinês quanto projetos de carne premium ou possibilita emprenhar novilhas aos 13-14 meses e produzir “bezerros do cedo”, que desmamam mais pesados.
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