Grupo do sul da Bahia suplementa animais a 0,3% do PV, ao invés de 0,1%, e garante melhor desempenho e redução no custo por arroba produzida
Por Carolina Rodrigues
Identificar qual a melhor suplementação para o período de transição de seca-águas é um grande desafio para quem trabalha em sistemas de produção a pasto no Brasil. Nesta fase, o capim se enche de folhas tenras, um banquete atrativo porém arriscado para o boi, que passa de uma dieta fibrosa, de baixa proteína na seca, para outra totalmente oposta, com muita água e proteína, o que pode gerar distúrbios gastrointestinais e surtos de diarreia. É a famosa fase do broto, período complicado para muitas fazendas, mas com a qual o Grupo JBM, do Sul da Bahia, tem lidado com muita tranquilidade, desde que trocou a suplementação na casa de 0,1% do PV pela de 0,3%.
A decisão foi tomada pela empresa há três anos, após fazer análises comparativas de ganhos de peso a pasto nos diferentes períodos do ano (seca, água-seca, seca-água e águas), trabalho realizado há 5 anos, com mais de 100.000 dados coletados. O levantamento mostrou que não adianta fazer suplementação de baixo consumo na fase de broto (início das primeiras chuvas). “Comparando o nível de 0,1% com o de 0,3%, percebemos que, nesta fase especificamente, existia uma diferença gigantesca no desempenho dos animais. Foi aí que decidimos mudar de estratégia”, conta Jurandir Boa Morte, dono da JBM.
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Desde que iniciou seu projeto de recria e engorda no sul da Bahia, o pecuarista segue à risca os conselhos de Danilo Oliveira, do Rehagro Consultoria. “Em muitos casos, ou a fazenda vai para uma suplementação mais agressiva ou sofre com a perda de peso dos animais. Não adianta ficar no meio do caminho nesta fase”, sugere o consultor, que assessora diferentes projetos pecuários na região. “Com o suplemento de baixo consumo, a propriedade perde ou mantém desempenho, mas dificilmente ganha e este é um dos erros mais comuns cometidos pelos pecuaristas na fase de rebrota do pasto”, diz ele.
Ganho o ano todo
Das fazendas assessoradas pelo Rehagro no Nordeste, apenas 20% fornecem o equivalente a 0,3% do PV em proteico-energético aos animais na transição da seca para as águas; a maioria ainda opta pelo sal mineral ou por 0,1% do PV. Segundo Oliveira, isso revela uma falta de maturidade gerencial das propriedades, já que poucas medem o desempenho dos animais por fase do ano.
O técnico alerta que não basta, para uma fazenda, ter alta produtividade nas águas ou evitar perda de peso na seca. É necessário que o animal apresente um ganho médio diário (GMD) satisfatório ao longo de todo o ano. “O produtor tem de tratar na fase e na medida corretas. Do contrário, gastará dinheiro do mesmo jeito e terá prejuízo”, dispara Oliveira, reforçando a importância da nutrição de precisão para uma pecuária mais lucrativa.
No Grupo JBM, a necessidade de melhorar a suplementação na fase de rebrota ficou evidente quando a balança “entrou na conta”. O GMD de 300 g/cab/dia, que se registrava na seca, caía para 200 g/cab/dia na transição seca-águas. Isso porque a tendência dos animais, nesta fase, é buscar as folhas novas do capim e deixar a ração de lado, o que resulta em queda de consumo e perda de peso justamente quando eles mais precisam de energia para arrancar e dar velocidade ao giro da fazenda. “Além disso, como já mencionado, o broto tem alta digestibilidade, podendo causar a famosa ‘diarreia do broto’, problema que precisa ser evitado”, adverte Oliveira.
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A opção pela proteico-energético na proporção de 0,3% do PV deve-se justamente à necessidade de equilibrar a dieta, oferecendo, no cocho, a energia que falta no pasto. O consultor do Rehagro explica que, na fase de broto, a dieta fica muito líquida e proteica, fazendo com que o rúmen sofra um processo de acidez, o que se resolve fornecendo um suplemento com maior teor de energia, também enriquecido com aditivos e minerais. Com isso, tem-se ainda melhor aproveitamento pelo animal dos nutrientes encontrados no broto, permitindo “deslocamento positivo” no ganho de peso. Em suma, consegue-se dar mais suporte nutricional ao gado na transição seca-águas.
“Esse tipo de produto funciona como uma espécie de tamponante ruminal, ajudando o bovino a enfrentar o estresse digestivo causado pelo broto”, diz.
O impacto da suplementação a 3% do peso vivo sobre o GMD é gigantesco. Com ela, o ganho nas fazendas do Grupo JBM passou de 300 g/cab/dia, na seca, para 800 g/cab/dia, na transição. Segundo Oliveira, o ideal é que os animais sejam terminados na seca seguinte, para aproveitar o imput no ganho e o investimento realizado e é o Grupo JBM faz. Após fornecer 0,3% do PV de proteico-energético (composto por milho moído, farelo de soja, ureia e núcleo mineral) aos animais de 15@, em média, na fase de broto, a empresa não volta mais atrás. Continua a suplementá-los no mesmo nível até a fase de terminação, quando eleva esse percentual para 0,4%-0,5% do PV, visando dar acabamento nos animais e antecipar seu abate para março, antes do pico da safra de capim. Os novilhos fornecem 19,5@ no gancho, apresentando um rendimento de 53%, em média.
Caso o produtor não tenha recursos para adotar esse tipo de estratégia, deve pelo suplementar o gado na proporção de 0,3% do PV durante a fase de broto (60-65 dias). Depois, pode voltar ao 0,1%, porque a diferença no ganho já não será tão expressiva. Outra recomendação do técnico é adequar a área de cocho ao nível de suplementação, passando-a de 7-15 cm/cab, no 0,1%, para 20-30 cm, no 0,3%. “O produtor tem de triplicar a área de cocho e nem todo mundo está pronto para isso”, revela Oliveira.
Outro gargalo da estratégia é o maior fluxo de caixa, devido ao aumento no consumo e no custo operacional. “Se o produtor não tiver dinheiro para suplementar adequadamente os animais na fase de rebrota, deve pelo menos monitorá-los nesse período ou abatê-los antecipadamente, reduzindo a lotação da fazenda. O ideal é colocar gado na área somente quando a planta atingir a altura recomendada para pastejo, respeitando sua capacidade de suporte”, diz.
Viabilidade econômica
Mesmo com investimentos mais altos, a suplementação a 0,3% do PV na rebrota adotada pela JBM mostrou-se economicamente viável . Com a melhoria do GMD, a empresa tem obtido mais lucro, reduzindo o tempo necessário para produzir uma arroba de boi. Ao avaliar o ganho médio diário dos últimos três anos, a diferença entre os dois tipos de suplementação é de 496 g/cab/dia, valor que dispara na fase de broto, indo para 736 g/cab/dia, o que reduz o custo da arroba produzida no período, um dos principais indicadores financeiros da propriedade. É ele que determina se o desempenho dos animais trará lucro ou prejuízo, explica o consultor. “Enquanto o custo da arroba produzida no nível 0,1% é de R$ 96,48; no 0,3%, fica em R$ 58,98”, diz.
Quando se observa o tempo médio gasto pelo animal para produzir uma arroba, essa discrepância fica ainda maior, caindo 3 meses, na suplementação de baixo consumo, para apenas 1 mês na de alto, o que é extremamente vantajoso para o produtor, porque permite antecipar vendas e obter preços melhores. Segundo Oliveira, os resultados mostram que um manejo nutricional ajustado a cada fase produtiva é fundamental na fazenda.
“Nutrição não é gasto, é investimento. Se o produtor quer tomar limonada, tem de espremer o limão; não há outro jeito”, ressalta o consultor, para quem a má gestão, a falta de planejamento ou o não uso de tecnologias já não cabem mais na pecuária de corte. “A consequência dessas falhas é sempre sentida no bolso”, assegura.