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O que fazer quando o pasto ficou mal formado?

Veja algumas ações corretivas que podem minimizar os prejuízos e ‘salvar’ o investimento feito no plantio da forrageira. Mas lembre-se: o melhor é prevenir.

Pasto com falhas devido a problemas na semeadura.
Por Renato Villela

Você investiu na compra de sementes, na correção do solo, na adubação; consumiu horas de máquina para ter um bom pasto e, no final das contas, ele ficou mal formado? As justificativas para o insucesso podem ser diversas, mas o que importa é saber como minimizar os prejuízos e salvar o investimento feito no plantio.

Quem garante é o agrônomo Armélio Martins. Reconhecido nacionalmente por seu trabalho em pastagens e sua generosidade em ensinar, o consultor dá dicas valiosas sobre o que fazer nesses casos, além de “puxar a orelha” do produtor para que não cometa mais erros nessa área. Confira!

1ª Opção – Cobrir as falhas

Ao se dar conta de que a pastagem ficou mal formada, ou seja, com muitas áreas descobertas, o produtor pode ressemear essas áreas que ficaram com o solo exposto. Mas atenção! Só é possível fazer isso até os primeiros 30 dias da primeira semeadura. “Durante este período, o capim ainda está pequeno; então, ainda dá para jogar mais semente no solo”, afirma o consultor. Como não será preciso cobrir toda a área, não faz sentido fazer o plantio a lanço, o que demandaria mais sementes do que o necessário, onerando o replantio.

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A plantadeira, por sua vez, poderia danificar as plantas já nascidas. Em função disso, o consultor inventou um jeito simples e mais econômico de fazer a operação. Duas pessoas, uma de cada lado do tratorista, vão jogando as sementes na terra exposta antes da passagem da roda de trás do trator, que funciona como se fosse um rolo compressor.

Armélio Martins, consutor e especialista em pastagens.

“Esse método funciona muito bem. Depois de alguns dias, se tiver umidade, dá para ver as plantas emergindo no rastro do trator”, relata. Um dos produtores para o qual Martins presta assistência desenvolveu um mecanismo de tubo em formato de “V” invertido, interligado a uma caixa que joga a semente rente ao parachoque, nos dois lados do trator. Faz o mesmo serviço, com a vantagem de que basta o tratorista para a operação.

Vale destacar que o tempo para o primeiro pastejo deve ser contado a partir da data de ressemeadura. Se os animais entrarem de forma prematura na pastagem, há o risco de que arranquem as plantas ou de que elas não consigam rebrotar após o pastejo por serem muito novas.

Como lembra o consultor, o pasto vai ‘passar’, mas o objetivo, neste caso, é deixar a área bem formada. “O produtor pode colocar uma lotação alta para pastejar bem o capim. Depois passa a roçadeira para igualar o pasto e vedá-lo. Quando estiver próximo do início da estação das águas, ele deve repetir a lotação alta para que os animais, com o pisoteio, incorporem as sementes da planta mãe na terra. Só depois que essas plantas brotarem é que o pasto estará formado”, ensina.

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2ª Opção – Deixar o pasto sementear

Como todo produtor já sabe, nunca se deve deixar a pastagem sementear, nem mesmo quando é recém-plantada. Além de diminuir a relação folha-colmo, o pasto perde valor nutricional com a redução nos teores de proteína. No caso da má formação da pastagem, no entanto, esta pode ser a única alternativa para “salvar a lavoura”, com o perdão do trocadilho.

A exemplo da ressemeadura, esta estratégia também requer cuidados no manejo. “Depois que o capim sementear, o ideal é colocar uma lotação alta, de categorias mais pesadas, para que o próprio pisoteio ajude a incorporar as sementes no solo”, recomenda o consultor.

A pressão maior de pastejo também é importante para rebaixar o capim, de modo que a luz penetre no solo exposto, favorecendo a germinação e o crescimento das plântulas. Em seguida, é preciso vedar o pasto e aguardar o crescimento do capim até que a pastagem comece a se igualar. “São estratégias para minimizar os prejuízos, porque é sempre muito difícil consertar quando se comete erros no plantio”, diz.

3ª Opção (recomendada) – Evitar erros

Além de todos os requisitos técnicos que permeiam a boa formação de uma pastagem, Martins elenca algumas ações para o produtor seguir, como se fosse um roteiro. A primeira coisa a fazer é planejar bem o plantio. Para tal, o produtor deve escolher a espécie forrageira que melhor se adapte às condições da fazenda e a seu sistema de produção, bem como ter bem definidas as etapas de correção de solo, plantio e adubação. “Planejamento requer conhecimento e é difícil para boa parte dos produtores, mas fundamental quando se quer formar um bom pasto”, diz.

Com um plano em mente, a etapa seguinte é a execução do que foi traçado. Nesse ponto, a pecuária tem muito o que aprender com a agricultura. Segundo Martins, as lavouras têm uma janela de plantio que, se não for respeitada, compromete o resultado final. “A agricultura segue o calendário à risca, o que requer comprometimento. Com a pecuária deveria ocorrer o mesmo. A má formação de um pasto muitas vezes está relacionada à falta de disciplina para cumprir o que foi planejado”, afirma.

Por fim, é hora de acompanhar a formação do pasto e avaliar o trabalho feito. De novo, a agricultura serve de farol. “O pecuarista deve fazer como o agricultor, que monitora a lavoura logo no início para ver se tem incidência de praga”, orienta. A preocupação aqui é principalmente com a lagarta, que costuma passar despercebida.

“Quando nova, a lagarta arranha a folha, que fica transparente, parecendo uma película de plástico, no que a gente chama de espelhamento. É esse o momento certo de fazer o controle, quando esse inseto tem até 1 cm”, diz. O consultor recomenda que o monitoramento seja feito ao menos duas vezes por semana.

As lagartas crescem rápido e, em pouco tempo, a pastagem fica toda infestada. Com 28 dias, elas já estão com 3 a 5 cm, quando começam a comer as folhas. Ao ver os sinais claros do ataque, o produtor normalmente pensa em fazer controle químico, o que é desaconselhável, pois, nesta idade, a lagarta já está fechando o ciclo e virando pupa. “É jogar dinheiro fora”, diz o consultor goiano.

Ele lembra que, nos primeiros 30 dias, a plântula sobrevive somente da reserva da semente. Se for severamente atacada, não resiste e morre. “Muitas vezes a má formação do pasto não está relacionada a erros no plantio, mas ao ataque da lagarta”, alerta.

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