Agrupamento correto, eficiência produtiva na certa

Por Alexandre M. Pedroso Consultor de Bovinos Leiteiros da Cargill Nutrição Animal.

O correto agrupamento dos animais numa propriedade leiteira é fundamental para o sucesso do manejo alimentar, e consequentemente para que se consiga boa rentabilidade na fazenda. São várias as razões para dividir os animais em lotes, tais como o convívio social e as manifestações de liderança e dominância entre os animais, a facilidade de manejo da alimentação e a melhor adequação nutricional de acordo com os requerimentos de cada grupo.

Para produzir os resultados esperados, o agrupamento deve obedecer a alguns critérios. Também é necessário que a propriedade se prepare para trabalhar com diferentes grupos de animais, tanto em relação ao treinamento da equipe, como às instalações adequadas que permitam o manejo em maior número de grupos de forma eficiente. Obviamente isso na maioria das vezes não é fácil de implementar, mas os benefícios são evidentes.

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Diversas pesquisas têm mostrado resultados consistentes de melhoria na produção de leite e eficiência alimentar de vacas manejadas em lotes, em comparação com animais que são mantidos em um único grupo, uma vez que cada lote pode receber uma dieta mais ajustada às suas necessidades. Isso implica mais trabalho, mas os ganhos são compensadores. Outro aspecto positivo é a redução na excreção de nutrientes, resultado da melhor eficiência alimentar.

A questão da interação entre os animais também deve ser considerada. A hierarquia social no grupo tem um impacto significativo sobre o desempenho e eficiência alimentar. A dominância é estabelecida em um novo grupo via de regra em uma semana, após algumas brigas e ameaças. Essas interações sociais exigem tempo e energia dos animais, que poderiam estar sendo utilizados para atividades produtivas, como alimentação, ruminação ou descanso.

É comum observar em grupos grandes os líderes gastando tempo para observar e impedir que alguns animais dominados se aproximem do cocho, ou se alimentem. Da mesma forma, os animais dominados têm sua alimentação prejudicada por estarem constantemente sob ameaça.

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Dessa forma, o entendimento da hierarquia social é muito importante para se manejarem animais de diferentes categorias em uma fazenda produtora de leite. As vacas em lactação são as que apresentam maior exigência nutricional, e respondem pela maior parte da receita da fazenda. Por isso, é fundamental otimizar a eficiência de utilização dos alimentos para a produção de leite.

Quando animais de diferentes idades, tamanhos e produções são mantidos no mesmo lote, aumentam as oportunidades de manifestação da hierarquia social e, dessa forma, a eficiência produtiva é reduzida.

Isso é especialmente notado quando vacas primíparas são manejadas junto com as multíparas. Além de serem mais novas e menores, as primíparas são inexperientes no convívio social com vacas em lactação e no manejo da ordenha. Isso faz com que sempre estejam em desvantagem e tenham seu desempenho significativamente prejudicado.

Além disso, estudos mostram que o comportamento alimentar de vacas mais velhas, com maior nível de produção, é diferente de vacas mais jovens que produzem menos leite. Vacas mais velhas comem mais, fazem suas refeições mais rapidamente, ruminam de maneira mais eficiente e bebem mais água do que as vacas mais novas. Os critérios de agrupamento devem sempre levar isso em conta.

A maior parte das pesquisas que mostram a queda de desempenho de animais manejados em lotes grandes e heterogêneos foi realizada com vacas confinadas, mas já há evidências científicas mostrando que o problema também ocorre em rebanhos mantidos em pastagens, mesmo em áreas onde não haja restrição na oferta de forragem. Quando mantidas no mesmo grupo, vacas multíparas e primíparas tendem a reduzir o tempo de pastejo, com prejuízo ao desempenho prejudicado por causa da interação social.

Para os animais em crescimento vale a mesma lógica, a hierarquia social também prejudica o desempenho de forma significativa, principalmente por ser nesta fase que a hierarquia é estabelecida. Como as novilhas de mesma idade são geralmente criadas nos mesmos grupos até o parto, a ordem hierárquica desenvolvida entre elas na fase de crescimento é mantida nas etapas seguintes da vida. Sendo assim, é importante que animais de tamanhos muito diferentes, mesmo que com a mesma idade, não sejam mantidos no mesmo grupo, para que as interações de liderança e dominância não prejudiquem seu ganho de peso.

Outra justificativa para a divisão dos animais em lotes é o atendimento mais adequado de suas exigências nutricionais. Grupos grandes apresentam animais com desempenhos e exigência muito variados, dificultando a formulação de dieta única para o lote. Geralmente as dietas são formuladas para atender às exigências dos animais de maior exigência do grupo e isso faz com que ocorra desperdício de nutrientes pelos animais menos exigentes e aumento da excreção desses nutrientes, o que representa um problema ambiental e, principalmente, econômico para o produtor.

Dessa forma, quando os animais são divididos em lotes de acordo com sua exigência nutricional, o nutricionista é capaz de formular dietas mais adequadas para cada grupo, evitando o desperdício de alimento. Logicamente devem ser considerados aspectos de estrutura física da fazenda, capacidade operacional para os tratos, etc., mas de maneira geral a eficiência do uso dos alimentos tende a ser maximizada quando se trabalha com dietas adequadas a cada lote de vacas.

Vacas em lactação devem ser divididas de acordo com a produção de leite e o estágio da lactação. A recomendação geral é de que se façam três lotes principais, com vacas no terço inicial, médio e final da lactação e que os lotes sejam ajustados quinzenal ou mensalmente de acordo com a produção de cada vaca.

Idealmente, esses três lotes principais devem ser subdivididos em vacas primíparas e multíparas e/ou de tamanhos muito diferentes, como ocorre, por exemplo, quando se trabalha com mais de uma raça. Certamente isso é bastante difícil na prática, mas é preciso deixar claro que essa separação de multíparas e primíparas resulta em benefícios significativos.

Uma opção que diversas fazendas adotam é manter um grupo de primíparas durante toda a primeira lactação. Não é o ideal, mas pode ajudar essas vacas menores, evitando a competição desigual com as vacas mais velhas.

O tamanho máximo do grupo é ditado pela dinâmica da ordenha. Idealmente as vacas não devem esperar mais do que uma hora e meia para serem ordenhadas, considerando de duas a três ordenhas por dia. O tamanho do grupo deve ser no máximo 4,5 vezes o tamanho da ordenha. Por exemplo, para uma ordenha do tipo duplo 6, cada grupo deverá ser de no máximo 54 animais.

Outra recomendação que gera grandes benefícios é manter as vacas recém-paridas em lote separado por três semanas após o parto, para que sejam manejadas com o devido cuidado. Isso porque, nas primeiras semanas após o parto, as vacas têm dificuldade de consumir o que precisam para atender às suas elevadas exigências e ainda estão se adaptando à nova lactação, passando por adaptações fisiológicas, de forma que nessa fase ficam muito sujeitas à ocorrência de distúrbios metabólicos.

Esse grupo deve receber dieta especial, visando primeiramente a sanidade dos animais, mesmo que a produção de leite não seja máxima. Via de regra as vacas recém-paridas são mantidas no lote de maior produção, o que é uma estratégia aceitável quando não é possível fazer o lote específico, mas ao fazer isso certamente haverá prejuízo ao seu desempenho produtivo no resto da lactação.

Em sistemas de produção a pasto, as vacas também devem ser divididas e o manejo do pastejo permitir que as vacas de maior exigência comam o estrato superior do dossel forrageiro, onde as folhas são mais novas e mais nutritivas e o consumo é facilitado. As vacas de produção média e baixa podem entrar nos piquetes na sequência do primeiro lote e pastejam os estratos inferiores até a altura do resíduo recomendada para cada espécie forrageira.

Vacas secas também devem ser divididas em dois grupos por razões nutricionais. No início do período seco – da secagem até 3 semanas antes do parto – as vacas apresentam menor exigência e a dieta deve ser controlada para evitar ganho de peso. Já no fim do período seco, que vai de três semanas pré-parto ao parto, as vacas apresentam queda natural de consumo e, por isso, a dieta deve ter maior concentração de nutrientes.

Além disso, esse período pré-parto é bastante crítico para a saúde das vacas, pois elas geralmente passam por um processo de imunossupressão e ficam muito sujeitas à ocorrência de distúrbios metabólicos no pós-parto imediato, tais como cetose, hipocalcemia, deslocamento de abomaso, etc. Dessa forma, é fundamental que o manejo e dieta das vacas nessa fase seja muito cuidadoso.

De forma geral, um bom agrupamento, além de diminuir as interações negativas entre os animais, deve ser parte de um programa de manejo de alimentação visando reduzir o desperdício e a excreção dos nutrientes em excesso. Dessa forma, a divisão de lotes é benéfica para o produtor de leite por ajudar no controle de custos com alimentação. Isso permite o fornecimento de dietas mais adequadas, que beneficiam as vacas nos diferentes estágios de lactação e resultam em melhor eficiência, produtividade e rentabilidade.

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