Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
Em outubro o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), atualizou as estimativas para 2023 e apresentou projeções para 2024, sobre o mercado global de carnes.
Focando na carne bovina, atualizou os números do Brasil para o que já está sendo observado, recuo (-5,1%) frente ao volume de 2022, que foi recorde. Para 2024, as expectativas são de aumento de 3,6% na quantidade embarcada, o que resultaria em 2,85 milhões de toneladas equivalente carcaça (tec.), frente a 2,75 milhões no fechamento de 2023 e 2,90 milhões no recorde de 2022.
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Apesar aquém do recorde, estamos falando de bons volumes, tanto observados este ano, como projetados para 2024.
Para a Austrália, o segundo maior exportador e que ganhou muita competitividade este ano, o USDA projeta aumento de 4,6% para 2024, após o salto de 23,6% estimado para o consolidado de 2023. Em 2023 a estimativa é de aumento absoluto de 292 mil tec. e mais 70 mil tec. em 2024.
Na terceira posição entre os maiores vendedores em 2024, Índia deve embarcar 40 mil tec. a mais que em 2023 (+2,8%), sendo que para 2023 a expectativa é de redução de 22 mil tec. (-1,5%). Os dados incluem carne de bubalinos, o que é muto relevante na produção e no total embarcado pelo país.
A figura 1 traz a evolução dos embarques e projeções para 2024.
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Considerando o comércio global, as exportações de carne bovina devem passar de 11,7 milhões de tec. para 11,9 milhões, aumento de 175 mil tec., ou 1,5%.
O Brasil deve ter maior participação nessas 175 mil tec. a mais comercializadas no próximo ano. A figura 2 mostra as variações projetadas dos embarques dos principais exportadores, em mil tec.
Perceba que Austrália deve vender mais carne, mas a redução dos Estados Unidos (-86 mil tec.) é maior que o incremento do país oceânico (+70 mil tec.).
Sendo os Estados Unidos e a Austrália os principais fornecedores de carne bovina para o Japão e Coreia do Sul, essa redução das vendas (combinadas) é um fator positivo, que pode influenciar na abertura de tais mercados para o grande fornecedor global.
Quanto ao aumento esperado para as vendas da Argentina, há muita incerteza relacionada ao novo governo, qual será e se haverá mudanças na política cambial, o que afetaria diretamente as exportações.
Com a turbulência no cenário global, há muita coisa a ser acompanhada. A guerra em Israel tem potencial para pressionar fortemente a inflação por meio do petróleo, caso haja disseminação geográfica do conflito, e pode alterar a evolução dos juros e câmbio, frente ao esperado há poucos meses.
Isso sem falar da assunção do governo de que as projeções fiscais vinham sendo pintadas muito otimistas para 2024.
Em geral, o mercado já não estava considerando um cenário de déficit zerado no próximo ano (Focus em -0,8%), mas o governo assumir isso com antecedência acaba reforçando o que tem sido visto, que não há interesse nem esforço para uma redução de gastos públicos.
Um cenário fiscal adverso não é bom, pois penaliza consumo doméstico, mas como atenuante para a pecuária, pode ajudar as exportações via câmbio.
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