Por Danilo Grandini – Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica, e diretor global de marketing para bovinos da Phibro Animal Health.
Em função da natureza do meu trabalho, é comum colegas me perguntarem o que considero como a pecuária mais avançada mundialmente, cuja resposta sai de imediato: a da Austrália! Surpresa geral, voltam à carga: “Mas não é os Estados Unidos?” Bom, se olharmos a cadeia da carne mais desenvolvida, sim, mas, se focarmos no setor produtivo, a Austrália é imbatível. O leitor pode achar este colunista exagerado, mas tentarei me defender com uma breve descrição do porquê da minha opinião. Por sinal, em outubro último passei 18 dias por lá, após participar do evento BeefEx e de uma série de conferências e visitas.
Na minha opinião, a pecuária australiana, assim como a conhecemos, nasceu de fato em 1998, após a criação do Conselho da Carne Vermelha (RMAC), uma organização sem fins lucrativos criada para representar a cadeia de abastecimento dessa proteína no país. Como nada acontece sem organização e recursos, criou-se também o fundo da carne vermelha para financiar as operações da RMAC, que em 2023-2024, teve um orçamento de AUS$ 327,8 milhões, recurso este gerido pelo Meat and Livestock Australia (MLA).
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Parte destes recursos vêm da contribuição obrigatória de AUS$ 5 por transação comercial (compra/venda) de bovinos, criada em 1990, e que recebe uma contrapartida de 1:1 do governo federal. Em 2023/2024, o setor de confinamento arrecadou AUS$ 14 milhões. As responsabilidades do RMAC incluem:
• Aconselhar o governo sobre questões que afetam toda o setor pecuário
• Desenvolver um quadro estratégico para este segmento produtivo
• Representar os interesses das empresas australianas de carne bovina, caprina e ovina, composta por uma série de associações nacionais de empregadores da indústria australiana de carne vermelha e da pecuária.
A seguir, destaco algumas das principais conquistas e metas do MLA (aos meus olhos) no período 2023/2024.Continue depois da publicidade
Powered by DBO Ads Pro• 78% dos confinamentos credenciados têm sombra ou abrigo.
• 25% do abate de animais confinados realizado entre 2-4 horas após seu recebimento nas plantas de abate.
• 50% de todo movimento de bovinos feito de forma digital.
• Redução no desperdício da cadeia de frio da carne vermelha (1% de redução equivale a um benefício líquido anual de US$ 4,3 milhões)
• Ferramenta de baixo custo para avaliação/predição de rendimento de carcaça e cortes de carne para carcaças de baixo acabamento de gordura
Mas quem seria o representante dos produtores junto ao RMCA? Criada em 1960, a Associação dos Confinadores Australianos (ALFA), que hoje congrega 356 confinamentos, é a entidade que responde legalmente pelo segmento. A produção de bovinos a pasto, a exportação de animais vivos e a ovinocaprinocultura também possuem sua própria representação, por meio de associações de classe.
Ou seja, quem define os rumos e o futuro da produção pecuária, é quem vive do negócio.
Este modelo de organização, relativamente jovem, hoje com 26 anos (veja gráfico abaixo), foi capaz de dar aos produtores australianos um reconhecimento raramente visto, em função da qualidade, responsabilidade e transparência de seus processos. Hoje o segmento de animais confinados responde por 42% da produção de carne bovina, contribui com AUS$ 920 milhões para o PIB australiano (2021/2022) e conta com capacidade estática para 1,6 milhão de cabeças nos confinamentos.
Apesar de achar que o sucesso vem da agregação de valor, e de que existe “chão” para uma tipificação de carcaças no Brasil, não é a minha intenção apontar a produção de animais de alto valor como a alternativa ao modelo de produção brasileiro. Mas vejo que mesmo produzindo uma commodity “sem marca”, seria muito bem vindo ter uma organização que buscasse excelência nos processos produtivos, nos defendesse nos momentos mais difíceis e proporcionasse ao setor condição para realizar mudanças. O nosso modelo segue em construção. Quanto antes chegarmos lá, melhor!
Mercado Pecuário
Quer ver análises sobre o mercado do boi gordo? Acompanhe o programa Mercado Pecuário, toda quarta-feira no DBO Play. Apesentado pela jornalista Juliana Camargo, o programa é uma referência para o pecuarista que quer se manter atualizado sobre os principais assuntos que cercam o setor.