Por Denis Cardoso
Outubro/24 foi um mês de grande “euforia positiva” para os recriadores/invernistas brasileiros, que foram surpreendidos pela arrancada relâmpago da arroba do boi gordo rumo aos R$ 320, mesmo depois de uma alta expressiva registrada em setembro/24 (de quase 15% sobre agosto/24, fechando em torno de R$ 275/@).
“Outubro de 2024 ficará marcado como a segunda maior variação no preço físico do boi gordo (praça de São Paulo) dentro do período mensal em 22 anos, marcando um avanço de 17,88%, atrás apenas da oscilação de novembro/21 (+23,21%)”, destaca a Agrifatto, com escritório na capital paulista.
Porém, algumas experiências do passado mostram que, após longos períodos de preços seguindo a mesma direção – no caso atual, para cima –, o mercado passou a emitir sinais de exaustão, invertendo a tendência em algum momento. Será o caso de novembro/24? Os fundamentos atuais (início deste mês, período de conclusão desta edição DBO), sugerem que essa reposta é “não”, ou seja, o movimento de altas mais consistentes da arroba tende a perdurar ao longo dos últimos dois meses de 2024 (novembro/dezembro).
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Mas antes de detalhar quais seriam os fatores que podem prolongar o “espírito de felicidade” dos pecuaristas”, o analista Raphael Galo, da Terra Investimentos (com sede em São Paulo), convida os seus leitores – ele é um dos colunistas do informativo semanal Boi & Companhia, da Scot Consultoria – a olhar para os números estatísticos do boi gordo referentes aos meses de novembro entre um período do passado recente (2010 a 2023).
Considerando apenas o comportamento do boi gordo em novembro nos 14 anos analisados, em cinco deles, o valor da arroba caiu, enquanto nos nove restantes o preço subiu, observa Galo. A variação mais positiva do período ocorreu em novembro/2019 – avanço mensal de 35,5%. A oscilação mais negativa do período foi registrada em novembro/2010: -6,8%. A média de variação no período analisado (2010-2023) foi de +4,8% em novembro; a média dos períodos negativos ficou-2,1%; a média dos períodos positivos foi +8,6%, contabiliza o analista.
Voltando ao tempo presente, como já mencionado, alguns fatores justificam as previsões dos analistas de continuidade do movimento positivo da arroba nesta etapa final do ano. Segundo a Agrifatto, os aumentos de preços dos últimos meses têm sido pautados principalmente pelo significativo avanço das exportações de carne bovina in natura e pela dificuldade das indústrias em comprar matéria-prima neste período final de entressafra de “boiadas de capim”, o que tem espremido as escalas de abate dos frigoríficos brasileiros. Além disso, embora os preços dos cortes bovinos tenham começado a subir aos consumidores finais – processo natural de repasses impostos pelas indústrias –, o mercado interno tem registrado um bom fluxo de vendas, pelo menos por enquanto.
O gatilho foi exportação
De todos os fatores altistas, sem dúvida o ritmo alucinante das exportações é o que mais tem contribuído para o fortalecimento da arroba do boi gordo nas praças brasileiras. Isso porque o crescimento dos embarques, especialmente ao mercado chinês, tem enxugado cada vez mais a disponibilidade interna da proteína, o que obriga os frigoríficos a continuar pagando preços mais altos pelos lotes de boiadas prontas.
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Ainda em relação ao mercado externo, é muito provável (até o fechamento desta edição os números oficiais não haviam sido divulgados pelo governo federal) que outubro/24 tenha marcado um novo recorde mensal nos embarques brasileiros de carne bovina in natura, rompendo o dado histórico alcançado em setembro/24, de 251,76 mil toneladas exportadas.
Na avaliação dos analistas, pelo andar da carruagem, em novembro/24, assim como dezembro/24, o mercado do boi conviverá com os mesmos fundamentos vistos nos últimos meses do atual semestre. Até mesmo o consumo doméstico de carne bovina, ameaçado de sofrer viés de queda devido ao encarecimento nos preços dos cortes, pode continuar razoavelmente fortalecido, estimulado pelas tradicionais festividades de fim de ano; onde há comemorações, a presença das “carnes para churrasco” está garantida no Brasil.
Boi gordo de R$ 400/@?
Embora todos saibam ser impossível acertar na mosca o comportamento dos preços futuros boi gordo (e de qualquer commodity), o analista Raphael Galo diz que uma arroba de R$ 400 é “uma possível realidade, mas não a curto prazo”. Segundo Galo, num estudo mais profundo dos números pecuários, nota-se que, em fases de alta, os preços, em média, variam +83%, enquanto, em ciclos de baixa, oscilam em média -35,4%.
“Se partirmos da premissa que essa virada de preços se firmou a partir de junho/24, quando o valor médio foi de R$ 220,70/@, e aplicarmos a mesma média de variação percentual de alta em ciclos de alta (+83%), poderemos ver cotações do boi gordo acima dos R$ 400/@”, contabiliza Galo.
Na atual conjuntura de mercado, diz ele, “já arrisco dizer que já estamos embarcados no ciclo de alta da pecuária”. Ele menciona os fundamentos altistas que corroboram com tal afirmação: “Preços do boi gordo e magro em alta, bezerro (reposição) seguindo os mesmos passos, demanda interna e externa mais justa com a oferta, além de tendência de queda no abate de fêmeas (sobre o total de animais)”.
O que o mercado futuro do boi diz?
No fechamento de outubro/24, entre todos os contratos futuros do boi gordo existentes, o papel com vencimento em novembro/24 era o que possuía um ágio mais alto sobre o preço do mercado físico da arroba (indicador Cepea, praça paulista) apontado naquela mesma data. Em 30 de outubro, o contrato futuro do boi para novembro/24 indicava uma arroba de R$ 326,15, um acréscimo de R$ 10,19/@ (ou 3,2%) sobre o preço Cepea do dia, de 315,96/@ – veja tabela.
Reposição acompanha alta do animal terminado
Nas praças paulistas, os preços das categorias de boi magro, garrote e bezerro de ano atingiram, no final de outubro/24, os maiores patamares desde janeiro/23, enquanto o bezerro de desmama alcançou o nível mais alto desde março/23, de acordo com dados da Scot Consultoria. Ou seja, as categorias de reposição têm acompanhando o avanço nas cotações do boi gordo, observam os analistas do setor.
O comportamento dos preços em Mato Grosso ilustram bem tal constatação. Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), em outubro/24, a cotação da arroba do boi gordo aumentou 23,42% no comparativo mensal, com ganho de R$ 51,78/@ no período. Por sua vez, o bezerro de ano avançou R$ 64,96/@ sobre o valor de setembro/24, com acréscimo de 23,62% no mesmo comparativo. Com isso, relata o Imea, a relação de troca entre o boi gordo de 18@ e o bezerro de 7@ ficou em 2,06 cab/cab em outubro/24, ultrapassando a média histórica do Estado, de 2,03 cab/cab.
“Já são três meses consecutivos em que o preço da reposição no Mato Grosso se valoriza e agora renovou a máxima dos últimos 21 meses”, ressalta a Agrifatto, referindo-se aos dados do mês passado. Entre os machos criados em MT, o destaque em outubro/24 ficou para o garrote de 10,5@ (315 kgs), que registrou variação positiva de 26,50% no comparativo mensal, atingindo R$ 325/@ (R$ 3.418/cab). “Esse aumento foi puxado pela maior demanda dos recriadores por animais mais erados e com potencial de entregar como boi gordo de maneira mais rápida”, afirma a consultoria. Na média, todas as categorias de machos registraram um avanço médio mensal de 25,34% (veja tabela).
Leve e mais caro
Um ponto interessante destacado pela Agrifatto é o comportamento do peso médio dos bezerros negociados em outubro/24, que atingiu o menor patamar desde março/24, com uma média de 187,57 kg/cabeça, segundo dados do indicador Cepea referente à praça de Mato Grosso do Sul.
“O que chama a atenção é que o peso médio desses animais atingiu o menor nível desde 2020, possivelmente associado às queimadas e ao período de forte estiagem que afetaram parte das regiões pecuárias do País”, relata a Agriaftto, acrescentando: “As condições climáticas adversas fizeram com que muitos pecuaristas fossem obrigados a vender os animais mais leves”.
Ainda assim, continua a Agrifatto, ao analisar o preço médio por quilograma, considerando o peso e o valor por cabeça, o valor médio em outubro/24 atingiu R$ 11,76/kg, um incremento de 14,41% no comparativo mensal e o maior valor para o bezerro desde abril/23. “Os pecuaristas que estão comprando esses animais têm aceitado pagar mais caro por bezerros mais leves, obviamente motivados pela alta intensa que o boi gordo sofreu nos últimos meses”, ressalta a Agrifatto.