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Mitos da pecuária a pasto

Por Janaina Azevedo Martuscello – Professora da Universidade Federal de São João Del Rei

A adubação de pastagens é uma prática agrícola essencial que visa fornecer aos solos e às plantas os nutrientes necessários para um crescimento robusto e saudável. Nutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) — reunidos sob a sigla NPK — são fundamentais para o desenvolvimento de nossas forrageiras. Eles desempenham funções fisiológicas e bioquímicas essenciais, que permitem às plantas se desenvolverem de forma mais densa e resistente, suportando melhor as variações climáticas e as pressões de pragas e doenças.

O mito de que “pasto não precisa de adubo” pode ser explicado pela baixa exigência de algumas gramíneas tropicais em fertilidade de solo.

Os capins do gênero Brachiaria (sobretudo a B. decumbens e a B. humidicola) e o Andropogon, por exemplo, apresentam essa característica, mas, em função da baixa disponibilidade de nutrientes, crescem pouco ou produzem pouca forragem, o que impossibilita o emprego de altas taxas de lotação na pastagem. Como resultado, a produção de carne ou leite por unidade de área é muito baixa.

Isso pode tornar a pecuária pouco competitiva frente às outras opções de uso da terra, como a agricultura. Além disso, a pastagem é considerada um sistema aberto, com mais saídas (perdas) do que entradas (aportes) de nutrientes. Por isso, a reposição de nutrientes é importante, para que possa manter os níveis produtivos condizentes com uma pecuária competitiva e não extrativista.

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Importância do manejo

Embora a adubação de pastagens seja conhecida dos pecuaristas, seu uso é restrito no Brasil. Talvez porque muitos não entendam que ela funciona melhor quando o manejo está ajustado. Isso explica porque alguns obtêm resultados melhores do que outros. Tudo depende da forma (errada ou certa) como a adubação é inserida no sistema de produção. Essa prática só deve ser usada se houver completo domínio do manejo.

É comum argumentarem que a adubação de pastagens traz prejuízo, e de fato pode trazer, pois qualquer estratégia de manejo da pastagem pode gerar lucro ou prejuízo, dependendo da maneira como é adotada.

Mais importante do que adubar a pastagem é fazê-lo da forma correta, tendo bom conhecimento de manejo e, sempre que possível, seguindo orientações de um técnico competente.

Muitos pecuaristas desconhecem as reais características (benefícios e limitações) da adubação de pastagens, devido à falta de orientação apropriada. Isso pode resultar em interpretações erradas dos resultados obtidos. Quando essas interpretações e informações errôneas são propagadas ao longo dos anos, criam-se condições adequadas para o aparecimento de mitos nocivos à técnica.

Talvez um dos maiores exemplos disso seja a aplicação de ureia. Quando este adubo for a fonte nitrogenada escolhida para adubação, deve-se tomar muito cuidado com o momento da aplicação, porque o nitrogênio contido na ureia pode se perder por volatilização, processo que consiste na passagem do N da fase sólida para a gasosa. Em outras palavras: durante a volatilização, o nitrogênio existente na ureia é perdido para atmosfera e o pecuarista não consegue fornecê-lo à planta na quantidade necessária.

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Questionando mitos

Para evitar essa perda de N por volatilização, recomenda-se que a aplicação de ureia seja feita em dias com temperatura mais amena, em solo seco, mas quando houver previsão de chuva logo após a aplicação, para que o adubo se dissolva e seja incorporado ao solo.

Um mito comum é que a ureia deve ser aplicada depois da chuva.

Qual é a verdade? Que esse tipo de adubo deve ser distribuído em solo seco seguido de chuva. Muitos pecuaristas aplicam a ureia após a chuva há tanto tempo que têm dificuldade de acreditar na prática correta, que pode trazer resultados muito melhores para a fazenda.

Outra crença comum é a da aplicação do gesso junto com o calcário acreditando que o primeiro ajuda na “descida” do segundo.

Gesso não corrige pH. Gesso neutraliza alumínio, eleva cálcio em profundidade e tem solubilidade e granulometria diferentes do calcário. Na aplicação conjunta, cada um tem sua função.

Diante do exposto, conclui-se que a adubação de pastagens traz inúmeros benefícios, porque o solo não é um recurso infinito e precisamos repor os nutrientes durante o processo de produção. Porém, é importante fazê-la de forma adequada, sem nos atrelarmos a práticas antigas e erradas. A primeira mudança deve ser a de mentalidade. Se o produtor não entender que a adubação pode trazer benefícios, não haverá evolução.

 

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