Conteúdo Original | Revista DBO

Exportações evitam queda ainda mais acentuada na arroba do boi

Embarques recordes de carne bovina ajudam a enxugar os altos estoques de fim de safra

Por Denis Cardoso

Se não fosse o ótimo desempenho das exportações brasileiras de carne bovina nos últimos meses, provavelmente os preços internos do boi gordo estariam ainda mais baixos neste momento de transição de safra para entressafra, marcado pela chegada definitiva do período seco na maioria das regiões de pecuária e, consequentemente, pelo tradicional processo de desova dos animais mantidos no sistema de engorda extensiva a pasto.

“Os embarques seguem em ritmo alucinante, o que acaba evitando queda ainda mais acentuada nos valores da arroba”, afirma o zootecnista Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP).

Em abril de 2024, as vendas externas de carne bovina (in natura e industrializada) atingiram 216.860 toneladas, o maior volume mensal da história (superando o recorde de dezembro/23). Em maio/24 não chegaram a tanto (os dados oficiais serão divulgados somente após o fechamento desta edição da DBO), mas, no acumulado de três semanas, o Brasil já havia enviado 178.900 toneladas da proteína in natura ao exterior, volume suficiente para cravar um novo recorde para os meses de maio.

Câmbio favorável

Na avaliação do economista Yago Travagini, analista da Agrifatto, com escritório na capital paulista, os números positivos do setor de exportação refletem a atual conjuntura de “câmbio favorável” (com a moeda norte-americana girando entre R$ 5,10/R$ 5,20) e um preço de arroba do boi gordo, em dólar, “altamente competitivo” no mercado internacional (em torno de US$ 42/@).

“Com uma matéria-prima extremamente barata em relação aos outros fornecedores mundiais, as indústrias brasileiras seguem exportando o máximo de carne bovina que podem”, ressalta Travagini, acrescentando que o valor atual da proteína brasileira é o mais baixo desde agosto de 2023.

Enquanto as vendas para fora do País são fechadas com grande facilidade, no mercado doméstico o escoamento da carne bovina segue moroso, ainda influenciado pelo baixo poder aquisitivo de boa parte da população, que, para aliviar o “bolso”, continua dando preferência às proteínas mais baratas, como as de frango e as de porco.

No entanto, neste momento, as maiores lamentações vêm do campo: a arroba do boi gordo sofreu queda mensal de quase 4% em maio/24, motivada justamente pelo grande desequilíbrio entre a oferta e a demanda. “Maio não foi um mês fácil para os pecuaristas, que, receosos de quedas ainda maiores mais à frente, se viram obrigados a aceitar os preços impostos pelos frigoríficos brasileiros”, observa Fabbri.

Das 32 praças monitoradas pela Scot no último mês, a cotação do boi gordo caiu em 24 delas, na comparação com os preços médios de abril/24. O Indicador do boi gordo Cepea/B3, que tem como referência o mercado paulista, encerrou maio/24 valendo R$ 221,15/@, com retração de 3,6% sobre o fechamento de abril/24. Desde o começo do ano, nominalmente, o boi paulista sofreu desvalorização de 12,3% ou R$ 31,15/@.

Facilidade nas compras

Com a enxurrada de oferta de boiadas gordas ao mercado, durante todo o mês de maio/24, as indústrias não sentiram dificuldade para encher os caminhões encarregados de abastecer os pátios dos abatedouros. Tal facilidade nas compras, relata a Agrifatto, elevou consideravelmente as escalas de abate das indústrias brasileiras.

No início de junho, a média nacional das programações estava em 14 dias, o maior número desde quando a série começou a ser registrada pela consultoria, em 2017. “Parafraseando a expressão ‘Enquanto tem bambu, tem flecha’; enquanto tem boi, tem escala”, reforça Travagini, resumindo o atual momento da pecuária brasileira de corte.

Na visão do analista, as escalas devem permanecer alongadas em junho/24, já que o processo de desgaste das pastagens ocasionado pela falta de chuva tende a piorar no decorrer do mês, intensificando o tradicional “efeito manada” de final de safra. No entanto, dizem os analistas, uma pequena parcela dos pecuaristas que ainda tem dinheiro em caixa demonstra esperanças na engorda a cocho como saída para reverter as perdas financeiras dos últimos meses, uma vez que a estratégia permite vender os animais nos períodos mais críticos da entressafra, quando, teoricamente, os preços da arroba estão nas alturas.

Confinador otimista

Conforme o 1º levantamento das intenções de confinamento no Mato Grosso, realizado em abril/24 pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), os produtores levarão 724.900 cabeças para o cocho neste ano, um aumento de 30,57% em relação ao total confinado em 2023, de 555.800 cabeças. O maior ânimo dos pecuaristas locais, justifica o Imea, se deve sobretudo à redução nos custos da diária confinada, que fechou abril/24 em R$ 12,21/cabeça/dia (operacional + alimentar), menor patamar dos últimos três anos, considerando-se os levantamentos realizados nesse mês do ano.

A queda nos gastos da engorda intensiva, diz o Imea, é puxada principalmente pela maior desvalorização nos preços do milho em relação ao boi gordo, fortalecendo a relação de troca do pecuarista. Além disso, outro item que se tornou atrativo para os confinadores é a retração do custo na aquisição de animais. Em abril/24, o ágio da arroba de boi magro sobre a de boi gordo ficou em 7,6%, menor patamar nos últimos 10 anos para o período.

Outra alternativa para “fugir” do atual movimento de baixa nos preços da arroba é investir em mecanismo de proteção de preço (hedge) na bolsa de mercadorias B3, baseada em São Paulo. “Recomendamos a comercialização antecipada, principalmente para os pecuaristas que detêm bovinos para entregar até agosto de 2024”, sugere relatório da Agrifatto divulgado no início deste mês.

No último dia útil de maio, o contrato futuro do boi gordo com vencimento em outubro/24 (pico da entressafra) era negociado a R$ 241,70/@, o que representava um ágio de quase 10% frente ao preço físico registrado em igual período, de R$ 221,15/@ (indicador Cepea/Esalq). Ou seja, o mercado estava “dando” um prêmio de mais de R$ 20/@ para aqueles que negociavam antecipadamente seus animais. Por sua vez, o preço de tela da B3 para o papel de agosto de 2024 em 31/5 (na casa dos R$ 234,40/@) também estava pagando um ágio igualmente alto, ao redor de R$ 15/@ sobre a cotação no mercado físico.

Para os pecuaristas que não pretendem segurar os animais no cocho e/ou utilizar os canais de comercialização futura via B3, resta ficar bastante ligado aos movimentos diários do mercado pecuário. Como já mencionado neste texto, a continuidade no processo de desova de bovinos deve permanecer pressionando negativamente os preços da arroba durante a maior parte de junho/24, mas (alertam os analistas) essa tendência pode começar a se inverter a partir do final deste mês ou início de julho. Ao menos é o que aponta o mercado futuro, com os contratos mais curtos (julho/24 e agosto/24) flertando com os R$ 235/@.

Reposição: ágio do bezerro atinge maior patamar desde setembro de 2023

Em maio/24, o ágio da arroba do bezerro de desmama sobre a arroba do boi gordo ficou em 30,6% em São Paulo, marcando o terceiro mês consecutivo de aumento do índice e o maior patamar desde setembro de 2023, conforme levantamento da Agrifatto. Desde o começo de 2024, o preço do boi gordo sofreu desvalorização de 11,4%, saindo de um valor médio de R$ 249,65/@ em janeiro/24 para R$ 221,15/@ no final de maio/24 (Indicador Cepea/SP). Enquanto isso, no mesmo intervalo de tempo, o bezerro ficou estagnado, fechando o último mês em R$ 2.088/cabeça, ante R$ 2.086/cabeça em janeiro/24 (Indicador Cepea/MS).

No entendimento da Agrifatto, o descasamento na movimentação de preços entre os animais mais jovens e o boi gordo chama a atenção dos agentes do mercado pecuário, pois tal fenômeno pode indicar um caminho a ser copiado mais a longo prazo pela arroba do boi gordo: “A primeira etapa para a valorização das cotações do animal terminado é o fim da queda do bezerro”, observam os analistas da consultoria.

Pelos dados apurados pela Agrifatto, o bezerro já está há 10 meses consecutivos sem demonstrar fortes desvalorizações. “Se o bezerro não cair, isso [fim do movimento mais intenso de quedas] pode ser a próxima etapa para o boi gordo”, reforça a consultoria. Ou seja, o comportamento atual da reposição pode ser um sinal de aproximação do período de transição (para a fase de alta) do ciclo pecuário.

Segundo dados coletados pela Scot Consultoria, no último mês a relação de troca no Estado de São Paulo piorou para todas as categorias de bovinos machos, com redução no poder de compra do recriador/invernista de 5,6% (para o bezerro de desmama), 5% (para o bezerro de ano), 3,3% (para o garrote) e 1,2% (para o boi magro). “Atualmente, com a venda de um boi gordo de 19@ é possível adquirir 1,42 boi magro, 1,64 garrote, 1,98 bezerro de ano e 2,24 bezerros de desmama”, acrescenta a Scot.

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