Presença das mulheres ganha força no comando de operações de engorda, um universo tradicionalmente masculino. Competentes e carismáticas, elas quebram estereótipos sem fazer alarde. Vieram pra ficar.
Por Renato Villela
O chão poeirento de terra batida, onde transitam máquinas levando ração para os bois à beira do cocho, parece compor um ambiente rústico, senão bruto, forjado sob medida para a figura masculina. Os homens, de fato, sempre estiveram à frente das operações de confinamento. Furar a bolha, quebrar esta barreira não é tarefa simples, mas possível. Com determinação, estudo e um pouquinho de jogo de cintura para driblar a desconfiança inicial – ou seria preconceito? –, mulheres têm assumido esse papel. Cabeça nos números e batom nos lábios, criam seu próprio jeito de gerir o negócio.
Nascida em São Pedro do Sul (RS), pequena cidade próxima a Santa Maria, na região central do Estado, Querlei Ebling cresceu entre mugidos. Criada na fazenda, ajudava os pais e avós na labuta diária de uma propriedade leiteira. Na escola, porém, gostava mesmo era de números, o que a fez optar pelo curso de Ciências Contábeis. Tão logo se formou, começou a trabalhar numa empresa de beneficiamento de arroz em Santa Maria. Com aptidão para o comércio, a jovem viajou o Estado todo vendendo o cereal.
Em 2006, a mesma empresa decidiu abrir uma frente no Mato Grosso e a convidou para fazer parte do time. Querlei não pensou duas vezes e bateu asas. A operação fracassou, mas ela decidiu ficar no Estado. “Me apaixonei pelo Mato Grosso e não quis mais voltar para o Sul”, conta. Sem emprego, tendo de se virar, procurou na pujante Sinop, cidade do nortão matogrossense, empresas onde tivesse oportunidade para crescer profissionalmente. Bateu de porta em porta até chegar no frigorífico Frialto.