Mais barato do que o concreto, material não é abrasivo e traz conforto para os animais.
Por Renato Villela
O piso é parte fundamental da infraestrutura dos confinamentos e requer manutenção constante. Para instalações que operam o ano todo, o maior desafio é o período chuvoso. Mesmo que o terreno tenha sido bem compactado, o casco dos bovinos provoca escarificações que favorecem a formação de lama, com infiltração de água das chuvas. Como resultado, parte da camada superficial de terra precisa ser removida e reposta, aumentando os custos operacionais. Para reduzi-los e esticar a vida útil do piso, os confinamentos estão apostando num novo tipo de material: o solo-cimento.
“Com ele, fica mais fácil limpar o piquete e o esterco sai com menos impurezas”, relata André Perrone, diretor do Confinamento Monte Alegre (CMA), em Barretos (SP). Antes de “colocar” o piso, Perrone analisou outras possibilidades para reduzir os gastos com manutenção, como aumentar o espaço por animal nos piquetes ou concretar parte do piso, mas essas alternativas foram descartadas, devido ao alto investimento.
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O concreto, por exemplo, além do mais caro por m2, ainda pode machucar o casco dos animais, especialmente no período das águas, quando a sola fica mais sensível em função do excesso de umidade e a textura abrasiva do material torna-se uma espécie de lixa. “Até o momento, o melhor modelo que encontramos para fazer o piso do confinamento foi o solo-cimento”, diz Perrone.
Como fazer
A confecção desse tipo de piso começa com o preparo do terreno, que já deve estar devidamente compactado e nivelado. A primeira operação é a “abertura” do solo, que pode ser feito pelos dentes escarificadores do ripper da motoniveladora ou pela passagem de uma grade intermediária.
Em seguida, é colocado o cimento, que pode ser lançado por uma caixa distribuidora ou à mão. “Eu prefiro manualmente, porque conseguimos ser mais precisos na quantidade de cimento a ser jogada”, diz o produtor.
A essa altura você já deve estar bem curioso para saber qual a quantidade de cimento necessária por metro quadrado. Como dizem os (bons) consultores: depende. O que determina isso é a composição do solo, mais precisamente seus teores de argila e sílica, e sua granulometria. A CMA levou amostras do solo para análise em laboratório e usou 10 kg de cimento/m². “Trabalhamos com profundidade de 15- 20”, diz Perrone.
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Com o cimento distribuído, a grade é passada novamente, desta vez para incorporar o material ao solo. Em seguida, joga-se água com um caminhão pipa ou tanque acoplado ao trator. O intuito é que a mistura tenha umidade suficiente para uma boa compactação. Antes de executar essa etapa, contudo, a patrola nivela o terreno, dando início ao acabamento.
Com o piso liso, é só usar o rolo compactador pé de carneiro para compactar bem a mistura. A etapa final consiste em passar a patrola para acertar as marcas deixadas pelo rolo compactador e depois o rolo compressor com cilindro liso para dar acabamento final.
A exemplo de uma concretagem, é preciso jogar água no dia seguinte ao término da obra, para que a mistura endureça sem o surgimento de fissuras e trincas. “O ideal é deixar o piso descansar por 10 dias antes de colocar animais no piquete”, afirma o produtor.
De acordo com Perrone, o custo total da obra, envolvendo cimento, horas de maquinário (próprio) e mão de obra, ficou em R$ 13/m², em média, sendo 50% desse valor relativos ao cimento e 50% às operações com máquinas. “A cada ano reformamos uma linha do confinamento. Já fizemos uns 20 piquetes. Estou muito satisfeito”, relata o produtor. Referência em inovação, a CMA está testando o calcário no lugar do cimento. “O custo fica bem mais baixo”, justifica Perrone. A experiência ainda está em análise. “Fizemos testes em alguns piquetes, mas é o primeiro ano e ainda não daá pra avaliar”, diz.
Alta durabilidade
O solo-cimento também pode ser usado pra fazer “pé do cocho”, aquela faixa que emoldura a linha do confinamento para facilitar o acesso dos animais, e que normalmente é de concreto. Foi o que fez o produtor João Adriano da Silva, da Fazenda Dona Maria, em Araguaína (TO), assim que construiu seu confinamento, atualmente com capacidade estática para 3.600 animais. A decisão veio depois de Silva ter experimentado e aprovado o solo-cimento na confecção do piso de um silo trincheira. “É infinitamente melhor do que o de terra compactada”, atesta.
A obra tem cinco anos e nunca precisou de manutenção. De acordo com o produtor, o único cuidado está na remoção do esterco, feito com a plaina acoplada ao trator. “O operador tem de ser cuidadoso e não afundar demais o implemento, pois pode danificar o piso, que não tem a resistência do concreto”, adverte.
Responsável pela obra, o engenheiro civil e empreiteiro Marcos Lopes Pimentel, da Pimentel Máquinas, também de Araguaína (TO), diz que o piso de solo-cimento é uma alternativa mais em conta e não deixa nada a desejar em relação ao concreto. “Sendo bem planejado, obedecendo aos critérios técnicos, resiste muito bem ao pisoteio dos animais”, afirma.
Segundo Pimentel, a proporção de cimento utilizada para fazer o pé do cocho foi de 5%. Levando-se em conta a densidade do solo, sobre o qual foi adicionado cascalho para a mistura, esse percentual representou um total de 45 kg de cimento a cada metro linear de cocho, que tem 2 m de largura. A incorporação foi feita com grade e a compactação com o rolo pé de carneiro, num total de oito “fechas” (ida e volta do maquinário). “A umidade do solo é fundamental para fazer a compactação”, ressalta. O empreiteiro também usa o solo-cimento em instalações para trânsito pesado, como estacionamentos e pátios de fábricas de ração.
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