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Boi gordo: bons sinais para o 2º semestre

Entressafra dá as caras e pecuarista sente o alívio com a melhora das cotações

Por Denis Cardoso

Não há dúvida: os pecuaristas iniciaram a segunda metade do ano com sentimento de alívio, pois o mercado parece ter deixado para trás o forte movimento de queda de preços registrado ao longo do primeiro semestre, quando o valor nominal do arroba paulista sofreu desvalorização acima de 10% (ou queda de R$ 32,65/@), saindo de R$ 286,85/@ (valor à vista, livre de Funrural), em 29/12/22, para R$ 254,20/@, em 30/6/23, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba, SP.

Boletim da Scot Consultoria do dia 3 de julho – quando esta edição de DBO seguia para a gráfica – mostrava que o boi gordo destinado ao mercado doméstico (sem prêmio-exportação) iniciou o mês valendo R$ 247/@ (base SP, valor bruto e a prazo), mostrando recuperação em relação ao mês anterior, quando o valor da arroba paulista não ultrapassou os R$ 240/@.

Na mesma comparação, o “boi-China” (30 meses de idade) passou novamente a receber um valor extra em relação ao animal “comum” (após um longo período de ágio-zero), abrindo o segundo semestre com negócios entre R$ 255/@ e R$ 260/@ em São Paulo, a prazo. Para Jéssica Olivier, analista da consultoria, o “ímpeto de compra” (de boiadas gordas) das indústrias aumentou, sustentando a subida da arroba em grande parte das praças.

Mais fêmeas abatidas

O primeiro semestre do ano foi marcado pela maior oferta de animais para abate, sobretudo de vacas, e pela suspensão temporária (durante 30 dias, entre fevereiro e março) nos envios de carne bovina à China, o principal destino da proteína nacional).

Segundo os economistas do Cepea, os fortes investimentos realizados nos últimos anos pelas fazendas de gado de corte explicam a maior disponibilidade de bovinos enviados aos ganchos ao longo dos primeiros seis meses de 2023. Porém, a partir deste ano, o mercado do boi gordo também passou a ser influenciado (negativamente) pelo movimento de descartes de matrizes, reflexo da intensificação da nova fase de baixa de preços do ciclo pecuário, o que resultou em desinvestimento no setor de cria.

Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que, em maio, pelo quarto mês consecutivo, a participação média das fêmeas nos abates totais do Estado superou a dos machos e chegou a 52,6%, ficando bem acima da média dos últimos dois anos, que foi de 39,1% e 37,3%, respectivamente.

Paralelamente ao avanço na oferta, a demanda doméstica de carne bovina continuou em ritmo lento – repetindo o comportamento apático dos últimos anos –, elevando os estoques nas câmaras frias dos frigoríficos e no atacado/varejo. Pouco capitalizados, os consumidores brasileiros optaram pelas proteínas mais baratas, como frango, carne suína e ovo.

Otimismo de volta

Um conjunto fatores favoráveis justifica o otimismo neste começo de segundo semestre. Pelo lado da demanda, agentes consultados pelo Cepea afirmam estar confiantes de que a procura pela carne vermelha no mercado interno ganhará força, fundamentada pelos preços mais competitivos dos cortes bovinos em relação às outras proteínas.

De fato, nas últimas semanas, as peças de carne bovina ficaram mais baratas, justamente pela necessidade de escoamento dos estoques excessivos. Porém, na avaliação dos analistas do Rabobank, banco com sede na Holanda e especializado na cobertura do agronegócio mundial, o consumo doméstico de carne bovina deve se manter como principal desafio do setor pecuário brasileiro.

“A tendência de perda de poder de compra do consumidor deve se manter neste ano, o que não deve permitir recuperação no nível per capita, mesmo com maior oferta e preços mais baixos para a carne bovina.”

Por outro lado, o banco considera a chance de recuperação mais consistente dos preços do boi gordo nos próximos meses. “A tendência sazonal de menor oferta de fêmeas para abate durante o segundo semestre, somada à queda na atratividade para o primeiro giro do confinamento, pode desacelerar a oferta e favorecer os preços da arroba”, sugere a instituição.

Exportações voltam a “bombar”

Outro fator que pode estimular novos aumentos nas cotações dos animais terminados é a forte retomada das importações da China, movimento que já tem contribuído para um cenário de escalas de abate mais curtas entre os frigoríficos exportadores, elevando o interesse por novas compras de boiadas gordas com padrão China – daí a explicação para o retorno recente do ágio no mercado paulista.

Em maio, os embarques de carne bovina in natura registraram aumento de 43% em relação ao mês anterior. Foi a maior quantidade, desde novembro/22. E junho deve repetir o percentual elevado: na parcial do mês (16 dias úteis, faltando cinco dias para contabilizar o fechamento do mês), o Brasil já havia exportado 154.600 toneladas de carne bovina in natura, o que representou um avanço de 44% nos embarques diários em relação à média diária registrada em junho/22, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Jéssica Olivier, da Scot , observa que, se esse movimento de alta continuar, “poderemos ver mais um ano recorde no setor exportador, apesar do embargo que a China aplicou à carne brasileira no primeiro trimestre”. No entanto, apesar da recente recuperação, os dados oficiais da Secex mostram que, no acumulado de janeiro a maio deste ano, as exportações totais brasileiras apresentaram queda de 9,5% em quantidade e 25% em faturamento, considerando o comparativo anual.

A queda mais acentuada da receita (em relação à quantidade embarcada) deve-se à forte pressão imposta pelos importadores chineses, que, ao longo dos últimos meses, conseguiram êxito nas tentativas de redução nos valores da proteína brasileira, fazendo, assim, encolher as margens de ganhos dos frigoríficos nacionais – o que também ajuda a explicar os baixos preços do boi gordo no primeiro semestre do ano.

Recuperação impressionante

Na avaliação do zootecnista Douglas Coelho, sócio da Radar Investimentos, com escritório na capital paulista, depois dos tempos difíceis vivenciados no primeiro semestre do ano, a primeira boa notícia para os pecuaristas vem do mercado futuro.

Isso porque, diz o analista, as variações de preço da arroba na B3 (bolsa de mercadoria) são baseadas nas expectativas dos participantes do mercado futuro (fundos, bancos, investidores estrangeiros, pecuaristas, frigoríficos, entre outros agentes) e na média dos últimos cinco dias úteis do indicador Cepea/Esalq do boi gordo, em São Paulo. “Ou seja, o sentimento dos agentes do mercado está mais positivo para o segundo semestre de 2023”, destaca Coelho.

Segundo ele, mais produtores vieram em busca de proteções com os “seguros de preços mínimos” (no jargão do mercado, essa operação é chamada de “put”) para os meses de julho, agosto, setembro e outubro. Em 30 de junho, o contrato do boi gordo para entrega em outubro/23 (pico da entressafra) apontava uma arroba de R$ 264,50/@, o que representou valorização de 8,6% sobre o preço indicado para o mesmo vencimento em 31 de maio/23, de R$ 243,60.

“Os preços na B3 têm sido animadores para realizar travas e a dica é: se cobriu os custos e deu margem, realize um contrato”, afirma Jéssica Olivier, da Scot.

Gado no cocho

Segundo Douglas Coelho, da Radar Investimentos, a outra boa notícia vem do lado do custo, com a dieta para os próximos meses do confinamento. Em 2021 e 2022, lembra ele, o pecuarista sofreu com o registro de mínimas na relação de troca de sacas de milho por arrobas de boi gordo, de 2,91/@, em 21 de outubro, e de 3,28/@, em 15 de março, respectivamente.

No entanto, com a pressão de uma grande colheita na safrinha brasileira de milho e a sustentação recente do boi gordo, essa relação de troca está mais favorável ao produtor. “Atualmente, no mercado físico, é possível comprar cerca de 4,5 sacas de milho por arroba de boi gordo”, informa.

Segundo o sócio da Radar, situações parecidas com essa ocorreram, de maneira breve, em agosto de 2020, em março/outubro de 2019 e em janeiro de 2018. “Pode ser que essa relação melhore ainda mais, principalmente quando olhamos para o tamanho previsto da safra nacional e para a volatilidade atual do câmbio”, relata Coelho.

Em meados de junho, a Conab – Companhia Nacional de Abastecimento estimou produção de 315,8 milhões de toneladas de grãos para a safra 2022-23, 15,8% superior à produção da safra anterior.

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