A produtividade da soja no Brasil cresceu 24% nos últimos 20 anos, enquanto o rendimento das lavouras do grão na Argentina permaneceu praticamente estagnado em igual período de comparação.
Tal comparação é assunto de artigo publicado nesta quarta-feira (7/8) pela Bolsa de Comércio de Rosário, da Argentina.
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“Se compararmos o rendimento da soja na Argentina da safra 2000/01 com a temporada de 2002/03, teremos uma média de 2,71 toneladas por hectare”, diz o estudo, que acrescenta: “Se avançarmos 20 anos no tempo e tomarmos o rendimento médio das temporadas 2018/19 – 2022/23, obtemos praticamente o mesmo número (também em torno de 2,71 t/ha)”.
Por sua vez, considerando a mesma análise para o Brasil, a produtividade no início do século foi de 2,77 toneladas por hectare e, nas últimas duas décadas, o rendimento soja brasileira saltou para 3,43 t/ha, compara a Bolsa.
Dessa maneira, continua o estudo, enquanto a produtividade média da soja no Brasil cresceu 24% nos últimos 20 anos, o rendimento das lavouras na Argentina permaneceu relativamente estagnado.
Segundo a Bolsa, os dados desta análise consideram a excepcional safra 2022/23, que foi um desastre produtivo para a Argentina e a melhor colheita da história do Brasil.
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“Porém, se excluíssemos tal temporada, a produtividade média da soja argentina passaria para 2,95 t/ha, o que nos daria uma lacuna ainda relevante em relação aos rendimentos brasileiros”, esclarece.
Se essa lacuna de produtividade em relação à soja do Brasil fosse eliminada, diz o estudo, a Argentina poderia produzir mais de 7 milhões de toneladas adicionais.
Além do crescimento da produção agrícola, a eliminação de lacunas na produtividade também resultaria no aumento do processamento da soja pelas indústrias ligadas ao setor (óleos e farinhas), reduzindo a sua capacidade ociosa e resultando em recuperação nas exportações do país.
Muitos fatores explicam a divergência de desempenho nas últimas décadas entre Brasil e Argentina, observa a Bolsa.
“Não há dúvida de que o impacto climático e a dinâmica das chuvas de cada colheita são decisivos na análise dos rendimentos produtivos de qualquer cultura”, relata o estudo.
Além disso, continua, não se deve esquecer que estão sendo considerados os rendimentos médios para o total produzido em cada país. “Se considerarmos as duas áreas mais produtivas em ambos os países, a área Central argentina e Mato Grosso no Brasil, as disparidades de desempenho são muito menores”, diz a bolsa.
Sementes e tecnologia
O uso de sementes e a aplicação de tecnologia através de múltiplos desenvolvimentos é um dos elementos-chave na análise estrutural da produtividade da agroindústria.
“Trabalhos científicos mostram que um certo ganho genético foi mantido no país, mas de valor inferior ao do Brasil, que também teve um salto genético”, afirma a bolsa, sentenciando: “Pesquisas abundantes sustentam que cerca de metade dessa lacuna de produção poderia ser atribuída à diferença tecnológica no uso de sementes entre Argentina e Brasil”.
Nesse sentido, diz o estudo, a maior renda disponível pelos produtores brasileiros permitiu ampliar os investimentos em tecnologia em níveis superiores às cadeias de valor argentinas.
Novas variedades
O Brasil registrou quatro anos consecutivos de crescimento no registro de variedades de soja, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Não satisfeito, o Brasil vem consolidando um volume de registros bem acima da Argentina, tendência que vem sendo mostrada desde 2011.
A cobrança de impostos excessivos e a lacuna cambial também são citados pelo estudo como pontos desfavorável à produtividade da soja na Argentina, em relação ao Brasil.
Diferenças climáticas
Segundo a Bolsa, por causa de múltiplos fatores geográficos e climáticos, Mato Grosso tem um regime de chuvas mais generoso em comparação com a região central da Argentina. Isto resulta em melhoria na humidade do solo em geral.
Em 2022 e 2023, as chuvas nas áreas produtivas de Mato Grosso ficaram, respectivamente, 14% e 22% abaixo das médias históricas. No entanto, a região Central argentina registrou situação pior na primavera de 2022 – apenas metade das chuvas da sua média histórica.
“É evidente que os fenómenos climáticos afetam significativamente ambas as regiões produtivas. No entanto, a dinâmica climática na principal área produtiva argentina tem sido muito mais adversa que na referida área do Brasil, o que também ajuda a explicar a disparidade de produtividade entre os dois países”, conclui o trabalho.