Por definição, pecuária é uma atividade econômica baseada na criação de animais para a produção de alimentos e de matérias-primas. O Brasil é importante produtor mundial de carne bovina, suína, de ovos e leite, além de diversos outros produtos, como os derivados de couro.
Falando especificamente da bovinocultura de corte, seu PIB em 2021 foi de R$ 913,14 bilhões, segundo estudo desenvolvido pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), com apoio da ApexBrasil.
Por outro levantamento, agora do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), da Embrapa, a atividade reúne 1,4 milhão de pecuaristas, espalhados por todas as regiões e biomas do país. Cerca de 75% da produção atende o consumidor interno. O restante é exportado e gera divisas importantes para o caixa nacional.
Apesar dos bons números, frutos de uma revolução produtiva que vem desde os anos 60, a bovinocultura de corte precisa superar desafios, por meio de uma nova mudança de rumos. Com um rebanho perto de 220 milhões de cabeças, ela precisa se tornar sustentável e adquirir as tecnologias disponíveis para melhorar seu desfrute.
Revoluções não tão silenciosas – Quem nunca ouviu a frase que a pecuária é uma atividade bandeirante, uma alusão às bandeiras, expedições pós descobrimento do Brasil que tentavam desbravar o país, primeiro à procura de minerais valiosos como o ouro. Isso durou séculos e chegou com força nos anos 60 a 80, agora por uma questão de soberania territorial.
Era preciso, efetivamente ocupar o interior do Brasil, estado com dimensões continentais. Carlos Viacava, selecionador de Nelore Mocho com propriedades em São Paulo, foi servidor público de alto escalão do governo federal. Ele testemunhou o lançamento de diversos programas de expansão da atividade agropecuária, principalmente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, visando sua ocupação.
“A pecuária brasileira, em especial a bovinocultura, abriu caminhos para o potente agronegócio que conhecemos. Atrás do rastro da boiada andou as lavouras de milho, feijão, algodão e soja, entre outras, até culturas de subsistência. O boi abriu fronteiras e depois veio a Embrapa, desenvolvendo a ciência para os trópicos”, refaz o tempo o “mocheiro”.
Para ele, hoje, os tempos são outros. Trata-se de mais uma revolução para a modernidade.
“Precisamos produzir mais com menos área, tomar posse das tecnologias disponíveis, torná-la sustentável e melhorar a qualidade da carne, gerando riqueza para o país sem jamais deixar de alimentar os brasileiros”, enfatiza Viacava.
Outras revoluções aconteceram. Nos anos 80, o Brasil era importador de carne bovina. No início dos anos 2000, o país passou a protagonista nas exportações mundiais do produto, ora em 1o lugar ora em 2o.
Foi uma revolução rápida puxada pela profissionalização dos pecuaristas que, auxiliados por ciência, introduziram tecnologias para melhorar a alimentação, a genética, o manejo e a saúde dos animais.
Uma evolução desigual – É preciso democratizar acessos e nivelar em cima a atividade. Para Valentin Suchek, selecionador da raça Canchim, em Itapetininga (SP), na Estância Canta Galo, no tocante ao melhoramento animal, “o salto foi fantástico na última década, destacando não só uma genética para disseminar bovinos mais produtivos, como também detentores de uma carne de melhor qualidade”.
No entanto, ele destaca a resistência que os pecuaristas têm em utilizar esse material melhorador. Para Suchek, essa conjuntura é mais relevante que uma possível falta de sêmen e touros para atender a todos.
Estima-se que, anualmente, o Brasil precise de 70 a 90 mil novos reprodutores todos os anos para fazer o serviço de monta natural. A Inseminação Artificial (IA) gera apenas 13% dos rebanhos.
OUÇA | o comentário de Valentin Suchek
Para o pecuarista de grande porte, selecionador das raças Nelore, Limousin e Guzerá, no Estado de São Paulo; e produtor de carne no Pará, Amilcar Farid Yamin, da AgroCorona, “essa resistência se deve pela falta de conhecimento, já que quem utiliza genética melhoradora nunca mais deixa de usar. O que falta é mais extensão rural e um trabalho de divulgação maior por parte de quem produz”.
Yamin reforça que “o trabalho realizado no Nelore é primoroso e vai colocar a raça em pé de igualdade com as taurinas em dez anos. Aliás, as taurinas também sofreram verdadeira revolução se adequando aos novos padrões frigoríficos e de adaptação aos trópicos, sem perder qualidade de carne”.
Novos desafios pedem nova revolução – A genética de ponta tem sua resistência de mercado, mas ela não é uma tecnologia solitária nesse contexto.
Outro “canchinzeiro”, Emílio Heindel Soares de Gouvêa, do Rancho da Cachoeira, em Tombos (MG), enfileira uma série delas que ainda estão longe do dia a dia das fazendas situadas mais na base da pirâmide produtiva.
“Infelizmente, boa nutrição, saúde e manejo não são o básico para muitos produtores brasileiros. É como se existisse uma mágica capaz de tornar o negócio rentável sem fazer o mínimo”, explica Gouvêa. “É como não escovar os dentes pela manhã”, reforça o criador. Seu rebanho é assistido pelo Geneplus/Embrapa, até com DEPs genômicas.
O selecionador vislumbra um acesso comum aos melhores insumos, técnicas, genética e outros bens do conhecimento. Para ele, o mercado caminha para a carne de excelência.
Não se trata de utopia e sim de conquista, como o relógio suíço, o carro japonês, as olivas ibéricas etc. “Se há um país capaz de desenhar isso para o produto, esse é o Brasil”, reforça.
OUÇA | o comentário de Emílio Heindel Soares de Gouvêa
Sustentabilidade, o grande desafio da nova revolução – O consumidor é cada vez mais exigente. Ele não quer saber de produtos frutos da degradação ambiental ou sem responsabilidade social. Marcas e selos já conseguem se diferenciar, agregando mais valor e bem remunerando.
Claro que a maior parte da demanda ainda se preocupa com uma carne acessível para o dia a dia, mas a qualidade é o próximo passo.
Carlos Amado Flores Campos, da Fazenda Licurizal, em Santanópolis (BA), é pecuarista que carrega uma marca de 280 anos, ancestral, família que também plantou um dos primeiros pés de cacau no Estado.
Ele também foi superintendente estadual do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em uma região adversa pelo regime de chuvas, ele enfatiza o apreço pela perenidade da bovinocultura de corte.
“O produtor rural inteligente e experiente tem convicção de que não se pode produzir carne de boi no Brasil sem a devida respeitabilidade ao meio ambiente, de maneira sustentável. Há alguns anos temos observado um desrespeito quase que generalizado nos nossos campos em relação à derrubada de árvores e degradação do meio ambiente”, reafirma.
Em sua propriedade, em todas as divisões de pasto, faz um racional plantio de árvores de elevada resistência às secas e de grande qualidade, tais como a braúna, pau ferro, pau d’arco e a aroeira.
“Creio que fugindo dessa filosofia de trabalho, certamente, e em tempo não muito distante, poderemos colher graves consequências e jogar fora toda uma jornada de séculos”, conclui.
OUÇA | o comentário de Carlos Amado Flores Campos
Como notícia boa, ao encontro dos desafios da sustentabilidade, o Brasil está conseguindo curar sua grande chaga. A análise das imagens de satélite colhidas entre 1985 e 2020 permitiu avaliar a qualidade das pastagens brasileiras e constatar uma queda nas áreas com sinais de degradação de 70%, em 2000, para 53%, em 2020.
No caso das pastagens severamente degradadas houve uma redução ainda mais expressiva. Elas representavam 29% das pastagens, em 2000 (46,3 milhões de hectares), e agora representam 14% (22,1 milhões de hectares).
Essa melhora foi identificada em todos os biomas, sendo que os que apresentaram maior retração nas áreas severamente degradadas foram Amazônia (60%), Cerrado (56,4%), Mata Atlântica e Pantanal (25,6%).
O principal uso dado ao solo brasileiro é a pastagem, ocupando 154 milhões de hectares de Norte a Sul do país, com presença em todos os seis biomas.
Essa área praticamente equivale a todo o Estado do Amazonas, que tem 156 milhões de hectares, ou mais de duas vezes e meia o tamanho da Bahia. Os dados fazem parte de um mapeamento do MapBiomas, de 2021.
Alta generalizada na oferta de animais terminados a preços reduzidos fez com que o volume negociado crescesse, permitindo um alongamento das escalas de abate, afirma Agrifatto
Após atingir sua máxima nominal de R$ 352,65 em 27/11 (quarta-feira), o Indicador CEPEA/B3 fechou a última quarta-feira (4/12) em R$ 332,35/@, uma queda de 5,75%
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