Além de boa assessoria técnica e planejamento, o produtor deve ter pés no chão e o dimensionamento correto do que lhe espera ao assumir a empreitada de resgatar a saúde do solo ou solos de sua propriedade.
Recursos financeiros em função do tempo não podem ser perdidos de vista. Na maioria dos casos é possível incorporar os gastos no próprio fluxo de caixa da fazenda.
Alexandre de Campos Gonçalves é engenheiro agrônomo formado pela Esalq-USP (Piracicaba, SP) e diretor da Alecrim Consultoria. É ele quem chama a atenção:
Continue depois da publicidade
Nas últimas semanas, o Portal DBO tratou mais de perto a questão da saúde do solo e quanto ele explica, por exemplo, a degradação de pastagens e uma pecuária com baixa taxa de desfrute, no Brasil.
Agora, Gonçalves é quem finaliza o trabalho com um passo a passo para desmistificar o temor que existe em devolver a terra o que se retira dela.
1º Passo | Conhecer o solo onde se trabalha
É preciso analisar o solo no que diz respeito a relevo, considerando sinais de degradação (graus) como voçoroca, erosão, desertificação, assoreamento, etc. Também como estão a cobertura vegetal e a vitalidade das plantas existentes, além da presença de vazios de vegetação, de animais (tipos) e de manejo.
Continue depois da publicidade
Deve-se verificar ainda quais as condições de clima, em especial o comportamento das temperaturas e chuvas (regime hídrico). E por fim, qual o objetivo de produção na fazenda. Essa é a base para se começar!
2º Passo | Interromper os fatores que promovem degradação
Por exemplo, caso haja erosões é preciso tratá-las. Cada episódio pode exigir ações distintas para interromper o processo. Da mesma forma, assoreamento. Também em caso de superlotação de animais, pode-se vedar.
Já no caso de uma cultura, verificar se está sendo reposto tudo aquilo que se retira do solo. A análise química revelará esse tipo de degradação com mais precisão. Sem a interrupção dos processos de degradação, há sérios riscos dos investimentos irem embora, como se a água levasse tudo.
3º Passo | Entender como está o solo em questão
Isso se dá a partir de uma análise física, química e até biológica desse solo. Elas são laboratoriais, em parte. A presença de vida abaixo dos pés, no entanto, pede a abertura de uma pequena trincheira para uma análise mais completa. A percepção é visual, porém especializada.
4º Passo | Planejamento de ações
A maior parte dos produtores e técnicos pulam essa etapa, mas ela é vital financeiramente. Por meio dele, equilibra-se os recursos do caixa com as intervenções ao longo de um cronograma. É importante que durante a execução do plano de recuperação, a capacidade de investimento do negócio se mantenha.
5º Passo | Correção do solo
Quatro pontos são chaves: mexer com a matéria orgânica do solo; corrigir pH; e repor macronutrientes e micronutrientes. Todos os recursos e estratégias utilizados nesses quatro pontos estão previstos no planejamento em função de um cronograma. Nele estão equilibrados o quanto se pode, o que é preciso e o quanto se quer desse processo em função do tempo.
Por isso, sem planejamento a ocorrência de fracasso é quase que inevitável. Do lado da matéria orgânica, por exemplo, dependendo da área o uso de esterco é suficiente, mas, em caso de extensividade, o plantio direto também é mais eficiente e barato.
6º Passo | Conhecer a planta de ocupação e selecioná-la
Partindo do princípio que passo 5 foi bem executado e que o solo está em equilíbrio a ponto de fechar seu ciclo com a devida manutenção, deve-se conhecer a melhor planta para trabalhar. Trata-se de escolhê-la em função do que o ambiente oferece. Exemplificando, em caso de pastagem onde o solo é mais ácido, em recuperação mais em prazo, não é possível trabalhar com forragem de alta exigência nutricional ou de manejo.
Aconselha-se, então, plantas mais simples, menos exigentes e que respondam a solos menos nutritivos. Nesses casos é preciso moldar o sistema para uma lotação suportável, equilibrando planta x animal x solo. Tudo isso precisa estar muito ajustado. Mas na medida que o solo vai se recuperando é possível trocar a forrageira por uma mais produtiva. O mesmo vale para as culturas agrícolas.
7º Passo | Estabelecer uma rotina de manejo sustentável
Outro ponto importante é estabelecer a constante manutenção das condições químicas, físicas e biológicas do solo. Em caso positivo, o processo produtivo será duradouro e rentável. É preciso manter a clareza de que quanto mais se produz, mais se retira do solo e mais é preciso repor. Somente o equilíbrio é sustentável.
8º Passo | Estabelecer controle e monitoramento de todo o sistema
Uma vez que o solo alcançou uma condição saudável e a produção as metas estabelecidas é preciso acompanhar tudo muito de perto para poder manter a roda girando com força perene. Isso só é possível com muita gestão.
Controle e monitoramento vão permitir checagens frequentes no que diz respeito a degradações, perdas de produtividade ou manutenção sem queda de fertilidade (em áreas localizadas) e se a rentabilidade está satisfatória ou se há aperto de margens.
VEJA TAMBÉM
Solo doente, produtividade no chão
Aspectos físicos como falta de ar e água levam solo à UTI
A alquimia no tratamento e conservação da saúde do solo
Terra com saúde é vida boa ao produtor rural