Produtores, indústria e varejo se reuniram pela segunda vez para debater os problemas que envolvem a cadeia da carne bovina gaúcha. O “2º Fórum da Carne Bovina”, promovido pelo Instituto Desenvolve Pecuária, aconteceu em 28 de julho, na sede da Farsul, em Porto Alegre (RS), com o título “As alternativas para a carne gaúcha na visão do varejo, da indústria e da produção”. Tudo isso em um ciclo de baixa de preços.
Júlio Barcellos, coordenador do NESPro/UFRGS, foi o último palestrante do dia, mas propôs “olhar para dentro da porteira. A conjuntura é circunstancial e me preocupo com problemas de natureza estrutural que sempre se repetem”, afirmou, ao ressaltar que o Fórum não é um evento de economia, mas de governança.
O professor destacou que até 2026, chegará ao mercado o produto que pode ser gerado em novembro deste ano. “Mil dias nos separam da atitude de hoje”, afirmou Barcellos. Conforme ele, inteligência, dados e informação devem ser levados para dentro da porteira e fazem parte da alavanca da competitividade para sobreviver.
Continue depois da publicidade
“O ciclo proativo das decisões é análise de dados, atitude e tomada de decisão”, defende.
OUÇA o comentário de Júlio Barcellos
Na abertura, o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ladislau Böes, ressaltou que a ociosidade da planta frigorífica está em 50% hoje, mesmo com a boa oferta de gado, e apresentou o dado de que 40% da carne bovina vendida no RS é de fora, ou seja, vinda de outros estados.
“Não é a indústria gaúcha que traz esta carne, mas o varejo e a indústria de outros. E o poder aquisitivo da população faz com que procurem uma carne mais barata”, disse Böes, justificando que a indústria gaúcha não é a responsável pela queda do preço do boi, que também ocorreu em outros países, como no Uruguai.
Continue depois da publicidade
VEJA TAMBÉM | ‘1º Fórum Estiagem em Foco’ debate ações de enfrentamento na agropecuária gaúcha
Já o diretor da Farsul, Francisco Schardong, afirmou entender que o Fórum é “um carinho à nossa pecuária que precisa de apoio para seguir a sua trajetória”. Por sua vez, o presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Luis Felipe Barros, disse que o auditório lotado era a representação da dor do pecuarista.
Disse ainda que “se colocar na balança só o valor, não dá para competir com a carne de fora. Mas se botar qualidade e a questão da sustentabilidade da carne gaúcha, aí ela é competitiva. Ninguém explora o sabor, maciez, sustentabilidade nas embalagens da carne que vai para o varejo”, afirmou. O Instituto está elaborando uma campanha para esclarecer o consumidor sobre questões de origem.
Palestrantes de renome – A primeira palestra foi do economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. “Nós temos de conscientizar as pessoas sobre o que estão comprando. Há quem possa pagar os mais de R$ 80 pela picanha, mas outros só comprarão a mais barata”, disse. Ele ressaltou que o importante é entender a razão desta diferença.
Para tentar explicar as razões, até mesmo comparou a distância entre os frigoríficos e o mercado, onde pesquisou os valores. No caso, a peça mais barata é de Rondônia. “Não tem conspiração que explique um produto a mais de 3 mil quilômetros chegar mais barato no mercado em Porto Alegre”, afirmou.
As razões são a produtividade, o modo de fazer as coisas, tanto pelo produtor quanto pela indústria, avaliou o economista. “Ou nós como cadeia somos incompetentes ou estamos nos posicionando equivocadamente”, refletiu. Antônio da Luz disse, ainda, que é importante saber quem é o consumidor médio.
SAIBA MAIS | Angus integra campanha de valorização da carne gaúcha
Valdecir Pressi, da rede Asun, destacou que no estado ainda é muito forte o comportamento de compra. “O consumidor gosta de conversar com o açougueiro e ter a carne fracionada no balcão”. Para o futuro, ele vê a tendência de fracionamento com o avanço de normas legais, onde serão agregados cortes especiais, esclarecendo quanto a preços justos e promocionais.
Palestraram ainda Armando Brasil Salis, diretor do Frigorífico Campeiro; Bruno Delazari Lang, do Supermercado Lang e representante da Agas Jovem; e Ivan Faria, presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, iniciou com uma analogia entre o globo terrestre e uma bola de cristal.
Esse último salientou que é importante a leitura dos acontecimentos mundiais, como a pandemia por Covid-19 e a guerra na Ucrânia como fatos que mudam o cenário de uma hora para outra, mas que “a seca, um velho problema, precisa de solução. Precisamos de organização e permanecer apaixonados, enquanto o negócio nos permitir respirar”, completou.
Após as palestras, foi realizada uma mesa redonda onde foram debatidos os dados apresentados pelos convidados. A coordenação da mesa foi da produtora Fernanda Costabeber.
* com informações da assessoria de comunicação do Instituto Desenvolve Pecuária