Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
O mercado do boi gordo trabalhou com altas expressivas ao longo do ano, puxadas pela demanda para exportação e um consumo doméstico que tem absorvido bem as cotações maiores da carne bovina.
Esses últimos dias têm sido turbulentos no mercado futuro e com testes no físico. Apesar de o mercado físico também estar sentindo efeito de testes, a conversa é outra frente ao que houve no futuro esta semana.
Oferta em 2024: Usando os dados preliminares de abates SIF como referência, entre janeiro e outubro houve aumento de 16,5% nos abates em 2024, na comparação com o mesmo intervalo em 2023. Os abates de fêmeas aumentaram 19,4% e os de machos 14,9%, na mesma comparação.
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Em julho tivemos abates recordes, seguido de dois meses de recuos mensais, mas ainda em nível elevado e um ligeiro aumento em outubro, frente a setembro. Em todos os meses até setembro, os abates de 2024 superaram os mesmos meses de 2023 e em outubro houve queda de 0,9%, na comparação anual, com dados ainda preliminares.
Exportações: As exportações seguem com média diária recorde em novembro, depois de terem quebrado recorde para um mês em outubro. A propósito, de janeiro a outubro já exportamos mais carne que em 2023 todo, recorde anterior, de acordo com dados da Secex.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta crescimento dos nossos embarques em 2025, ou seja, deve ser mais um recorde.
Os preços da carne bovina em novembro estão nos maiores patamares em 17 meses. Em reais, estamos no maior preço nominal desde novembro de 2022, usando a média de novembro para o câmbio.
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Após a virada de ano, os Estados Unidos tendem a ajudar a manter um bom ritmo de vendas para o Brasil, com a conjuntura de preços do boi lá e a relação cambial atrativa, que vão se somar ao interesse de aproveitar a cota de compras sem taxas extras.
Dólar: A condução primária da política fiscal é algo ruim para o país, ponto. No entanto, focando no mercado do boi gordo, as trapalhadas, sendo muito sutil nos termos, têm desvalorizado o real, o que é positivo para as exportações, que já seguem muito bem.
Oferta adiante: O bezerro e o boi gordo têm uma correlação alta de preços, mas menor que a observada para o boi magro, com o boi gordo. Isso ocorre porque o boi magro, considerando o confinamento, é um boi gordo menos 100 dias mais ou menos. E por que falar de correlação com o bezerro?
Porque, mesmo que o mercado do boi gordo dê uma acomodada em dezembro, o que não seria um ponto fora da curva (pelas altas dos últimos meses), o bezerro deve sentir menos essa possível “acalmada”.
Quem manda nas oscilações de oferta de carne no Brasil são as fêmeas e quem define a disponibilidade de fêmeas no gancho é o preço do bezerro, leia-se rentabilidade da cria. Os bezerros que serão desmamados em 2025 são aqueles da estação de monta ocorrida logo depois de agosto de 2023, quando o sentimento do produtor era de que a pecuária ia acabar.
Falamos sobre isso à época, neste espaço: Estação de monta ao som dos canhões (https://portaldbo.com.br/estacao-de-monta-ao-som-dos-canhoes/).
A oferta dessa categoria tende diminuir nos próximos anos, colaborando com um cenário positivo de preços.
Expectativas
Assim como a sangria no mercado do boi gordo, lá entre julho e agosto de 2023, gerou a impressão de que a pecuária ia acabar, os últimos meses passaram o sentimento de que a alta não teria nem um intervalo. Nem um nem outro.
Quando falamos em ciclo pecuário, temos oscilações de preços e de oferta. Ao invés de tentar pasteurizar o ciclo, catalogando, e preocupados com o mês da virada, nossa visão é a seguinte.
Em 2024 as altas foram puxadas por uma demanda internacional forte, com um escoamento doméstico que fluiu bem ao longo do ano. Para 2025 esperamos que os preços do bezerro em alta sejam a chave para uma diminuição da oferta de fêmeas e de carne.
Em participação de fêmeas nos abates já temos algumas indicações do movimento.
A associação de uma oferta menor a uma exportação forte (câmbio e conjuntura internacional) deve reduzir a oferta no mercado doméstico (disponibilidade interna). Com menos carne a ser escoada, os preços se equilibram em patamares maiores ao longo da cadeia.
Não é que a população vai absorver uma carne 10%, 20%, 30% mais alta e manter o consumo. Mas com menos carne disponível, a cadeia precisa que uma fatia menor de consumidores estejam dispostos ou possam pagar os preços maiores, ou, pelo menos, precisa que comprem menos.
E a oferta de gado ainda nem começou a diminuir. Com isso, devemos ter algum tempo de preços interessantes, do ponto de vista histórico. Isso não quer dizer que o mercado não possa oscilar ao longo dessa fase boa, que acreditamos estar só no começo.
Convite: No dia 5/12, estaremos em Teresina-PI, com palestra abordando o cenário da pecuária de corte e grãos, em parceria com a Corteva, Viarural Agro&Pet e Serrana distribuidora. O evento será as 18h no estande no Senar, no Parque de Exposições. Para mais informações, acesse nosso Instagram (@hn.agro). Nos vemos lá.
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.
Mercado Pecuário
Quer mais análises sobre o mercado do boi gordo? Acompanhe o programa Mercado Pecuário, toda quarta-feira no DBO Play. Apesentado pela jornalista Juliana Camargo, o programa é uma referência para o pecuarista que quer se manter atualizado sobre os principais assuntos que cercam o setor.