Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
Nas últimas edições falamos sobre o ciclo pecuário (Leia AQUI) e a sazonalidade do abate de fêmeas (Leia AQUI), que têm maior volume de vendas em março e maio. Hoje abordaremos o que ocorre, em média, com os preços em anos de retenção e descarte de vacas e novilhas.
Aqui é o momento em que ressaltamos que a história não é, de forma alguma, garantia de variações futuras, mas ajuda a visualizar alguma referência.
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Para os cálculos, consideramos o preço do boi gordo em janeiro de cada ano como referência (base 100) e depois calculamos a evolução média em anos de descarte, retenção e no geral, entre 2011 e 2022.
Como referência de anos de descarte, usamos aqueles nos quais a participação de fêmeas nos abates foi maior que a do ano anterior e definimos como retenção os anos nos quais tal participação diminuiu. O grupo “geral” refere-se a todo o intervalo.
Veja na figura 1 essa evolução média das cotações.
Na média dos anos de descarte, a cotação em outubro foi equivalente a 98,2% daquela em janeiro. Em outras palavras, o preço foi 1,8% menor que a média do primeiro mês do ano. Na média dos anos de retenção, o valor em outubro foi 9,9% superior.
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Perceba que em anos de descarte, a chegada das fêmeas no final da safra pressiona mais as cotações, frente ao que é observado na média de todos os anos (“geral”) e em épocas de retenção, uma vez que a categoria é menos ofertada nesses anos.
A partir desses índices e do preço em janeiro de 2023 (R$285,97/@, Cepea), projetamos o que a movimentação histórica refletiria em cotações, para os três cenários. Adicionamos os preços do mercado futuro na tarde de 10/2 para comparação.
Para janeiro e fevereiro (parcial) os triângulos indicam o mercado físico e de março em diante são as cotações na B3, na tarde de 10/2 ou as últimas negociações para os contratos naquele momento.
VEJA TAMBÉM | Mercado futuro do boi gordo em alta, mas cotações no físico seguem pressionadas
Considerações
O mercado futuro está precificando uma valorização mais próxima do que ocorreu na média de anos de retenção. Isso poderia ser considerado excesso de otimismo, uma vez que a oferta de fêmeas deve continuar em alta este ano, com a rentabilidade da cria pressionada.
No entanto, temos dois pontos que ajudam a explicar o otimismo de um mercado precificando mais que um ano “típico de descarte”. O primeiro é que as exportações devem ajudar bastante em 2023, pela conjuntura de outros exportadores e cenário esperado de boas compras pela China.
A outra observação que pode ser feita é que estes cálculos usaram a referência de janeiro como base e o recuo observado ao longo de 2022 foi o maior, pelo menos desde 2002. Veja na figura 3 as variações nominais de preços do boi gordo entre janeiro e dezembro de cada ano.
E por que fizemos esta ponderação? Porque a variação ao longo de 2022 reduziu bastante o “valor base” das projeções, ou seja, o preço com o qual iniciamos 2023.
Se fizermos uma média da curva de preços dos anos de retenção da figura 2, ainda teríamos um valor nominal 3,3% menor (R$307,29/@) que a média de 2022 (R$317,74/@). No cenário geral (todos os anos) e de descarte as médias seriam de R$293,41/@ (-7,7% YoY) e R$279,53/@ (-12,0% YoY). Os futuros apresentados na figura resultam em uma média de R$297,70/@ (-6,3% YoY).
Em resumo, a expectativa é de mais oferta, mas exportações ajudando e possivelmente um câmbio sendo penalizado por ataques ou mesmo ações ao Banco Central.
O mercado futuro está precificando uma curva relativamente forte, mas uma cotação média para 2023 nem um pouco fora da curva, lembrando que estes são valores nominais e apenas em seis, dos últimos 25 anos tivemos recuos nominais para o boi gordo nas médias anuais (2005, 2006, 2009, 2012, 2017 e 2022). A propósito, a queda de 2022 (frente a 2021) foi a maior. Vamos acompanhar.
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.