A Fazenda Conforto — gigante da engorda intensiva no Brasil fundada pelo empresário Alexandre Negrão (falecido em 2023) —, deu mais um passo rumo ao desenvolvimento sustentável. No dia 7 de agosto, lançou o Biofertilizante Conforto, obtido a partir do esterco produzido no confinamento da propriedade, que fica em Nova Crixás (GO). O produto tem duas formulações básicas (Micro e MicroFos). Fruto de uma sociedade com a empresa de biotecnologia IFB Fertilizantes, ele foi apresentado durante um evento para 220 produtores, com direito a palestras, visita de campo e um saboroso churrasco.
Terceira colocada no ranking DBO dos 20 maiores confinadores do Brasil (atrás apenas da MFG e do Boitel JBS), a Conforto possui capacidade estática para 70.000 animais e deve engordar 175.000 neste ano. Tem potencial para produzir, anualmente, de 150.00 a 170.000 t de biofertilizante. “Já usamos esse produto há 15 anos, elevando bastante o teor de fósforo em nossas áreas de lavoura e pastagens. Agora, podemos ampliar a comercialização de excedentes”, diz Sérgio Pellizzer, CEO da Conforto.
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Clientela poderosa
A julgar pelo número de aeronaves estacionadas no pátio do hangar da fazenda (quase 20), não faltarão compradores. A agricultura está em franca expansão na região do Vale do Araguaia, com mais de 150.000 ha convertidos em lavouras nos últimos três anos. A cidade de Nova Crixás cresceu rapidamente, ganhando uma unidade da Cooperativa Comigo, agroindústrias, revendedoras de máquinas e até um condomínio fechado (Reserva Conforto, também da Família Negrão), que está em fase de venda de lotes.
Muitos produtores foram ao evento de lançamento do Biofertilizante Conforto para buscar informações mais detalhadas sobre o produto; outros, para testemunhar sua eficácia. É o caso do agricultor Rubens Prudente, proprietário da Ouro Branco Agronegócios, que já aplica esse tipo de adubo em 70% de seus 25.000 ha cultivados. “Nas propriedades do Vale do Araguaia, uso o biofertilizante da Conforto em lavouras de soja há vários anos e tenho observado um incremento de até 4% na produtividade, em comparação com fosfatado químico”, diz ele.
Vinícius Ferreira, proprietário da Agropecuária Diamante, em Mundo Novo (GO), produz esse tipo de adubo para uso próprio há quase uma década e está muito satisfeito com os resultados. “Em anos de arroba baixa, esse passivo ambiental (o esterco) viabiliza o confinamento”, relata o produtor, que faz adubação sistêmica, aplicando o biofertilizante no “pasto de safrinha” antes de dissecá-lo para plantar soja. Segundo Ferreira, em áreas já consolidadas, a economia obtida é de 20% a 30% em comparação com o adubo químico.
Para ampliar os canais de comercialização do biofertilizante, a Conforto está usando a modalidade barter (escambo), ou seja, troca do produto por milho, que é o ingrediente mais importante da dieta dos animais. “Já consegui comprar quase 800.000 sacos de milho nesse esquema de barter, que é muito interessante em função da logística. O mesmo caminhão que traz o milho, leva o adubo”, explica Cláudio Braga, diretor de agronegócio da Conforto. Ideias não faltam para comercialização do produto. O sonho do CEO Sérgio Pellizzer, inclusive, é levar a marca da empresa às prateleiras do varejo, para uso em plantas ornamentais.
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Como é produzido o biofertilizante
Na parceria firmada entre a Conforto e a IFB Fertilizantes, a fazenda fornece a matéria prima (mais infraestrutura) e a empresa goiana especializada na produção de biofertilizantes garante a tecnologia de produção, que inclui a inoculação de microrganismos (bactérias e fungos) especialmente desenvolvidos para solubilização do fosfato de rocha e decomposição da matéria orgânica. “Garantimos um produto homogêneo, livre de sementes de plantas daninhas, com 12% de fósforo, ação prolongada e que pode ser armazenado sem perder qualidade”, salienta Danilo Parrode, diretor comercial da IFB Fertilizantes.
“O esterco é coletado somente das baias do confinamento que possuem piso de solo-cimento, o que nos permite obter uma matéria prima pura, sem mistura com terra. De nossas 320 baias, 250 já receberam esse calçamento”, informa Sérgio Pellizzer. Além disso, segundo ele, todo o material é peneirado, para separação de pedregulhos e outros eventuais objetos, o que eleva a qualidade do produto.
Participantes do evento tirando dúvidas no campo sobre o processo de aeração do adubo, importante para obtenção de um produto de qualidade.
A primeira etapa do processo é a montagem das leiras e a homogeneização do esterco. Depois, ele é misturado com o fosfato de rocha e inoculado com os microrganismos que vão solubilizar essa fonte de fósforo e cuja atividade biológica é monitorada continuamente por técnicos da IFB. Para evitar que as bactérias aeróbicas morram na ausência de ar, o material é revolvido periodicamente (aeração), com equipamento próprio para isso.
“Passados cerca de 8 a 10 dias, fazemos a contagem das colônias de microrganismos e, se estiverem no padrão desejado, reduzimos gradativamente a umidade do material, para que esses seres vivos entrem em dormência, somente voltando à ativa quando o adubo já estiver na lavoura e for molhado pela água da chuva”, explica Guilherme Guimarães, técnico do IFB. A última etapa do processo de produção é a incorporação de micronutrientes e, eventualmente, de gesso.
Apesar de trabalhar com duas fórmulas básicas, a Conforto pode fazer biofertilizantes sob medida para o cliente, com incorporação, por exemplo, de ulexita (fonte de boro) ou fontes de potássio. “Há muitas possibilidades”, diz Guimarães.