Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
O mercado do boi gordo ganhou um força nos últimos meses e recuperou parte do otimismo que estava ausente da pecuária há um bom tempo.
Não compensou as quedas dos últimos anos, mas entre o começo do segundo semestre e o fechamento da última semana, houve alta de 15% (R$35,00/@) em São Paulo, considerando dados do Indicador Datagro. Em Rondônia e Mato Grosso do Sul, as altas foram de 35% e 27%, respectivamente, segundo a mesma fonte. Nessas praças, a alta em reais girou em torno de R$60,00 (R$63,32/@ em RO e R$58,99/@ em MS).
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Como São Paulo foi a praça que menos subiu no intervalo, todas as demais tiveram altas de, pelo menos, 15%.
O indicador Cepea passou de R$225,65 no início de julho para R$273,90/@ no fechamento da última semana, alta de 21,4%.
Hoje trouxemos as variações históricas mensais, de setembro em diante, e considerações sobre o que pode vir por aí.
Na média do período analisado, os preços subiram 1,7% em outubro, 4,4% em novembro e 0,8% em dezembro. A maior queda observada entre setembro e outubro (10,8%) foi em 2021, com impacto da a suspensão das vendas à China.
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Em geral, o mercado do boi gordo evolui na reta final do ano, com a associação de demanda melhorando no mercado doméstico e exportações, associada a um momento ainda sem gado oriundo de pastagens, dependente do confinamento ou de sistemas com uma suplementação mais pesada.
Pontos positivos e de cautela com o mercado do boi gordo
Para elencar os pontos de atenção para os próximos meses, temos muito mais fatores positivos que negativos, na nossa visão.
O cenário de seca severa afetou fortemente as pastagens, mas as chuvas começam a chegar em algumas regiões.
Em algumas semanas, ainda não haverá oferta de gado terminado nesse pasto que vai se recuperar, mas a necessidade de venda do produtor por falta de pasto, ou mesmo casos de queimadas, vai acabar. A associação disso a um mercado positivo tende a reforçar o movimento de retenção pelo vendedor, quando houver gado pronto.
A demanda doméstica tipicamente colabora na reta final do ano, com décimos terceiros salários e contratações temporárias. Temos diversos pontos de incerteza com a economia pensando em médio prazo, mas no curto prazo o consumo tem se comportado bem e acreditamos que nesses próximos meses siga assim. As eleições municipais se somam ao contexto, com um giro adicional de dinheiro na praça.
As exportações costumam ser boas na reta final do ano, com reforço das vendas à China, se preparando para o Ano Novo Lunar. Cabe um destaque de que, embora o país tenha comprado volumes recordes na parcial do ano, o destino perdeu participação porque outros clientes têm comprado mais. Ou seja, um reforço sazonal das vendas ao gigante, que já comprou volume recorde na parcial até agosto, deve gerar volumes ainda mais interessantes nos próximos meses.
A oferta de confinamento deve ser um pouco maior em outubro, usando a última pesquisa do IMEA como referência. De toda forma, o órgão não projeta nada tão maior que o que já foi observado nos últimos meses. A curva de vendas é praticamente estável entre julho e outubro (com algum aumento mês a mês).
Pode-se questionar a respeito desse ânimo que o mercado futuro ganhou nos últimos meses, se isso não poderia impulsionar o volume de gado ofertado. Algum efeito pode ter, mas se considerarmos que o mercado futuro acelerou mesmo em agosto, já não daria tempo de fechar gado para outubro.
Supondo que esse gado passe 90 dias no cocho e tenha sido fechado em meados de agosto, será uma oferta para meados novembro, junto com o pico de demanda por boiadas no mercado interno, para abastecer o consumo maior de dezembro, na ponta final.
Em resumo, acreditamos em uma demanda boa, no mercado interno e exportações. Do lado da oferta, há a possibilidade de retenção pelo produtor, além do fato de que a engorda mais extensiva será de um gado que passou por um quadro especialmente apertado de pastagem este ano. Um ponto de atenção é a oferta de confinamento, mas com as ponderações apresentadas.
Na nossa leitura o mercado é positivo para o boi gordo e, quando as chuvas voltarem, as categorias mais jovens devem ganhar tração também, onde ainda não aceleraram.
Aqui deixamos observação de que, se há gado com data para venda (confinamento), não acreditamos que seja interessante travar valores fixos (com esse gás do mercado), mas garantir mínimos é uma estratégia que está atrativa e blinda boa parte da receita.
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.
Mercado Pecuário
Quer mais análises sobre o mercado do boi gordo? Acompanhe o programa Mercado Pecuário, toda quarta-feira no DBO Play. Apesentado pela jornalista Juliana Camargo, o programa é uma referência para o pecuarista que quer se manter atualizado sobre os principais assuntos que cercam o setor.