Nunca foi tão importante ter boi na fazenda, inclusive para incrementar a produção de grãos. A máxima foi testada e comprovada pelo engenheiro agrônomo e produtor rural, Eduardo Manjabosco, da fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto, na região Oeste da Bahia.
Ao longo de 12 anos, ele adotou o sistema “boi safrinha”. Além de adicionar mais uma atividade na fazenda, com a terminação de bovinos, Manjabosco passou a colher muito mais soja.
“Quando começamos esse sistema, achávamos que onde se colocava o boi, menos soja ia ser produzida. Esse era o maior medo. Mas logo no primeiro ano, já produzimos mais soja. Fizemos a comparação, e onde não tinha boi, colhemos menos soja”, diz o agropecuarista.
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Manjabosco foi um dos convidados da edição do programa DBO Entrevista, que foi ao ar segunda-feira (3/5). Participou também o médico veterinário, Roberto Guimarães Júnior, da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF); confira a entrevista em vídeo no final da matéria.
O mote foi justamente dar mais detalhes do sistema apelidado como “boi safrinha”, ou “pasto safrinha”. A partir da Integração Lavoura-Pecuária (ILP), o sistema se refere ao uso da forragem produzida em consórcio no verão com a finalidade de cobertura de solo para o sistema de plantio direto e para a alimentação de bovinos na estação da seca (inverno).
Safrinha de boi
A técnica caiu como uma luva para o produtor porque, na região onde está, ele só pode fazer a lavoura de verão, com soja e milho. O boi se tornou justamente a safrinha da fazenda, que passa a pastejar a área de milho, depois do grão colhido e com o desenvolvimento da forrageira.
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O sistema abrange toda a área com milho da fazenda, que ocupa 25% do total e representa 4,9 mil hectares nesta safra 2020/2021. O grão é cultivado em consórcio com a braquiária, e está fazendo a diferença para o produtor.
“O objetivo principal era fazer palhada para o sistema plantio direto. Quando vimos a quantidade de forragem que era produzida, justamente na época da seca, pensamos que se encaixaria bem com uma engorda de boi”, diz o produtor.
De um rebanho inicial de 300 animais, hoje a fazenda termina cerca de cinco mil bovinos com cerca de 24 meses.
Já os resultados da soja, na safra 2010/2011, a produtividade em áreas de sistema de plantio direto no resíduo pós-pastejo havia sido de 67,5 sacas por hectare – 24% a mais que as 54,6 sacas por hectare obtidas nas áreas sem os capins.
Baixo custo e muita rentabilidade
A opção desse sistema se encaixa para a produção de bovinos no Cerrado como uma boa opção de alimentação para o gado de baixo custo, e que pode ser replicado em toda a região, segundo Guimarães Júnior, da Embrapa.
“Para o pecuarista é muito interessante porque é amortizado os cursos de formação da pastagem com a venda dos grãos. Uma vez que tem um efeito residual da adubação da cultura anual, o produtor não precisa adubar novamente. Ele só vai gastar só com operacional, o animal e a semente da braquiária ou qualquer outro tipo de gramínea”, diz Guimarães Júnior.
Em quatro anos de avaliação pela Embrapa, a área estimada com o “boi safrinha” no Cerrado passou de 973 mil hectares em 2015/2016 para 1,5 milhão de hectares em 2016/2017; 2,3 milhões em 2017/2018, até chegar a 3 milhões de hectares no ciclo 2019/2020.
A receita bruta praticamente dobrou só comparando as temporadas de 2018/2019 e 2019/2020. Segundo a Embrapa, a receita bruta saltou de R$ 6,2 bilhões para R$ 12,3 bilhões.
“O agricultor que começa a plantar pasto não volta atrás. O pecuarista que começa a fazer agricultura para estabelecer e renovar o pasto também não volta. É um ciclo virtuoso para os dois sistemas”, avalia o pesquisador.
Confira a entrevista, na íntegra: