Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
O mercado do boi gordo fechou maio com uma média nominal 14,0% menor que a de maio de 2023 e 29,7% abaixo da observada em maio de 2022, sem considerar a inflação.
Entre abril e maio, o recuo foi de 1,6%, aqui também usando a referência do Cepea e médias mensais. Obviamente, para o produtor, e para quase toda a cadeia, é melhor que o mercado suba, e não é esperado que ninguém que vende boi ache a queda algo bom, isso é óbvio.
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No entanto, assim como não é boa, a queda em maio não pode ser chamada de novidade. Praticamente todo ano a chegada da seca traz esse cenário de pressão de baixa, com a redução da qualidade do pasto e oferta de gado associada.
Nesta análise, vamos analisar esse histórico de variações entre abril e maio e se isso tem alguma relação com o que acontece depois (em junho).
Obviamente, cabe a ressalva, que sempre fazemos, de que o histórico é uma boa referência, mas não garantia do que vem por aí. De toda forma, vamos aos números, tomando como referência o que aconteceu entre 2000 e 2024 (até o maio/24 e usando o mercado futuro em 3/6 para junho/24).
Quedas em abril, na comparação com março: nos 25 anos da série, o mercado do boi gordo cedeu em 12 ocasiões em abril, na comparação mensal, considerando médias mensais.
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Quedas em maio, em relação a abril: apenas em 2004, 2008 e 2020, houve valorização em maio, na comparação com abril. Ou seja, em 22, dos 25 anos analisados, ocorreu o que observamos no último mês. O recuo médio foi de 1,8%, próximo do observado este ano (1,6%).
Em junho, também no intervalo desde 2000, temos 12 quedas e 13 altas. Para manter a base com 25 anos da série, usamos a referência do mercado futuro em 3/6 para junho de 2024.
Como resumo, historicamente maio é o mês de mais pressão, tanto em frequência (mês que mais cai), como em intensidade (maiores recuos mensais).
Abril teve variação média de +0,3%, com maior queda de 5,0% (2002). Maio teve recuo médio de 1,8%, com desvalorização máxima de 7,7% em 2023. Junho tem média de +0,7%, com maior queda de 5,7%, também em 2023.
Não há necessidade de estatísticas para falar que 2023 não foi fácil, mas os números também estão aí, com os maiores recuos mensais de maio e junho (pelo menos desde 2000).
A queda de maio costuma dar alguma indicação do movimento de junho?
Para as contas apresentadas, usamos R$225,90/@ para junho (B3 de 3/6), mas esta ainda é uma “opinião” dos players. Em relação ao histórico, o movimento de maio costuma indicar o que ocorrerá este mês? Vamos dar uma olhada.
Aqui cabe mais uma observação, a correlação entre as séries não indica causalidade (um movimento aconteceu por causa do outro). Obviamente, por ser o mesmo mercado, há relação, mas não é porque ocorreu algo em maio que vai acontecer algo em junho. Se fosse assim não teríamos junho praticamente com metade dos anos em alta, frente a maio.
Um ponto relevante é que a magnitude da queda de maio dá uma ideia da força da queda ou alta de junho. Em outras palavras, historicamente, podemos observar que maios “menos pressionados” estão associados a junhos “melhores”. Veja a figura 1.
Analisando a mesma série desde 2000 (laranja), podemos observar uma tendência (com alguns pontos discrepantes, os tais dos “outliers”).
Em estatística, esses pontos discrepantes devem ser avaliados, porque podem ser erros de coleta, no caso de experimentos, mas quando trabalhamos com séries de preços mensais, como aqui, são mais um lembrete para que o analista mantenha a humildade e lembre do quarto parágrafo desta análise (histórico não é garantia).
Voltando ao gráfico. No longo prazo, o coeficiente de correlação não foi alto, de 0,355 (mais próximo de 1 indica uma relação forte entre as séries), mas quando focamos no passado mais recente (2018 a 2023), temos uma correlação expressiva (0,857).
Essas correlações indicam que na série mais curta tem sido observada essa relação de maneira mais “limpa”, com quedas maiores em maio, associadas a quedas maiores em junho, assim como “maios mais firmes” relacionados a junhos de preços melhores.
O círculo vermelho refere-se ao já observado em 2024 para maio (-1,6%) e a projeção para junho (-0,5%, usando o valor da B3 como média mensal para o cálculo). O mercado futuro está apontando para um cenário mais sustentado ao longo de junho, o que deixaria “coerente” com o histórico (ponto não destoa no gráfico, seria uma queda sutil, depois de um maio que não foi dos piores recuos frente a abril).
Considerações
Como última consideração a respeito da série (desde 2000), apenas em três anos (2004, 2015 e 2017), o movimento de maio foi melhor para o preço do boi que em junho (cedendo menos ou subindo mais). Considerando apenas até 2023, consolidados, em 92% dos anos o movimento do mercado foi melhor em junho.
Deixando o histórico de lado, em relação aos fundamentos atuais, temos exportações fortes, com um dólar reagindo ao cenário incerto no Brasil e inflação nos EUA. Um dólar valorizado por questões negativas no Brasil não é bom para o consumo doméstico, mas o efeito do dólar em si é positivo para os embarques, que seguem muito bem em volume e devem continuar assim.
O grande ponto segue com a oferta de gado. Em relação a isso, o cenário de preços do bezerro mais firme pode influenciar em uma oferta menor de fêmeas para abate e alguma trégua para a variável oferta, que tem sido o principal vetor do mercado, ainda pesado.
Se a oferta encurtar, temos um consumo doméstico que merece cautela (pela situação econômica), mas que tem absorvido bons volumes, assim como o mercado externo, ambos com margens interessantes para a indústria, apesar de preços menores (MI e ME). Se a oferta enxugar um pouco em junho, uma movimentação de preços melhor que a de maio seria razoável, e não apenas pelo histórico, que, no fundo, é só o histórico.
Convite:
No próximo sábado (8/6), estarei em Piacatu-SP, no 19º Dia de Campo da Fazenda Capivara, a convite da Bellman-Trouw Nutrition, apresentando as nossas expectativas para o mercado do boi gordo e reposição. Mais informações: 18 3556-1209.
No dia 14/6, em Pereira Barreto-SP, participarei do Dia de Campo da MFG e empresas sementeiras de milho, abordando a nossa visão para a pecuária de corte, soja e milho nos próximos meses. Mais informações nas redes da MFG (@mfgconfinamentosbr).
Você gostou desta coluna? Tem alguma sugestão ou informação nova? Por favor, me escreva no e-mail hyberville@hnagro.com.br.
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