O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou, na terça-feira à tarde, 26, que o episódio envolvendo o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, que havia declarado que a companhia deixaria de comprar carnes dos países do Mercosul, está resolvido após o pedido de desculpas, apresentado na mesma terça.
“O CEO global do Carrefour compreendeu que errou e se retratou. Agora, é bola para frente. Caso encerrado”, declarou ele, antes de participar de evento em São Paulo (SP).
Fávaro também avaliou que as declarações não deverão atrapalhar o andamento das negociações para a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
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“O acordo estava muito próximo. A expectativa é que seja formalizado no encontro do Mercosul, no dia 6 de dezembro, no Uruguai. Sabemos que a França é contra o acordo, mas precisamos ver se conseguirá, sozinha, impedir algo que a União Europeia e o Mercosul desejam”, disse.
Questionado sobre a motivação por trás das declarações do CEO global do Carrefour, Fávaro sugeriu que pode haver relação com uma tentativa francesa de impedir a formalização de um acordo entre Mercosul e a UE.
“Ele buscou, de forma intempestiva, criar um fato para que a França continue contra o acordo Mercosul-União Europeia. Eles não precisam assinar, mas nós queremos muito. É uma determinação do presidente Lula, que está se empenhando pessoalmente para formalizar esse acordo”, afirmou.
O ministro ressaltou a posição firme do governo brasileiro em relação à defesa da qualidade dos produtos nacionais.
“O presidente Lula tem reiterado que não deixaremos que banalizem a qualidade dos nossos produtos. Marcamos uma posição firme: discutiremos práticas e transparência, mas não admitiremos ataques desleais à qualidade dos produtos brasileiros”, concluiu.
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Resposta firme
O ministro da Agricultura avaliou, ainda, que a postura do governo federal, de associações e empresas do agronegócio diante das declarações do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, representou um “risco no chão” para impor limites nas relações comerciais internacionais.
“Em hipótese nenhuma vamos aceitar que alguém questione a qualidade dos nossos produtos ou deturpe o que fazemos com excelência. Foi uma resposta firme e eficiente, que marca um momento importante – um divisor de águas, um risco no chão”, disse Fávaro a jornalistas, antes de participar de um evento em São Paulo.
E continuou: “Até aqui, dialogamos com respeito ao meio ambiente, à sanidade, às boas práticas, com transparência e racionalidade. Mas, para quem tentar ofender a qualidade dos produtos brasileiros, haverá resposta à altura, como ocorreu com o Carrefour francês”.
O ministro da Agricultura também destacou o “posicionamento altivo” das empresas brasileiras no imbróglio envolvendo o CEO global da Carrefour, destacando que a decisão de não realizar entregas nas unidades do Carrefour no Brasil foi decisiva para o recuo da rede varejista. Fávaro citou que o agronegócio brasileiro “está sempre aberto ao diálogo, à transparência e à rastreabilidade”.
Ele também deixou claro que o País está aberto à colaboração em fóruns internacionais, mas não aceitará questionamentos infundados sobre a qualidade de seus produtos.
Fávaro reforçou o compromisso do Brasil com a produção agropecuária de qualidade e sustentável. “O Brasil tem responsabilidade com os produtos que produz, e os nossos empresários trabalham com muita dedicação e qualidade. Por isso, somos líderes mundiais no fornecimento de carne bovina, suína, aves, arroz, feijão, soja, cana-de-açúcar, suco de laranja e algodão”, afirmou.
A carta de Bompard com o pedido formal de desculpas deve colocar fim a uma crise entre o Grupo Carrefour e o agronegócio brasileiro, em especial a indústria de carnes. Em represália à declaração, frigoríficos suspenderam o fornecimento de carnes a Carrefour no Brasil e condicionaram a retomada do fornecimento a uma retratação pública de Bompard. Em paralelo, o Grupo Carrefour publicou um comunicado em seu site oficial, afirmando que jamais opôs a agricultura brasileira à francesa.
Exportação
O ministro Fávaro afirmou, ainda, que a controvérsia envolvendo o Grupo Carrefour não deverá interferir na exportação brasileira de proteína animal.
Fávaro afirmou que os efeitos poderiam ocorrer caso houvesse ataques à qualidade dos produtos brasileiros sem uma resposta à altura. “O que afetaria seria se eles falassem mal, como já falaram, da qualidade dos produtos brasileiros, e nós ficássemos quietos. Se querem comprar, estamos prontos para garantir. Se não querem comprar, tudo bem, seguimos em frente”, comentou.
Segundo o ministro, a decisão de países como a França, de dar prioridade aos seus produtores locais, é legítima e não interfere diretamente nos negócios brasileiros.
“Há 20 ou 15 anos, a Comunidade Europeia consumia algo em torno de 20% das exportações de carne brasileira. Hoje, esse número varia entre 3,5% e 5%. A França, menos de 0,5%. É uma opção deles, que nós temos de respeitar”, destacou.
O ministro também destacou que o governo está atento para defender a reputação do agronegócio brasileiro. “Não querer comprar produtos brasileiros é um direito deles. Mas, no momento em que ultrapassarem o limite e afirmarem que os produtos brasileiros não têm qualidade, eles terão a mesma resposta que o Carrefour teve”, reforçou Fávaro.