O Centro de Previsões Climáticas dos EUA (CPC), vinculado ao serviço nacional de meteorologia do país (NOAA), confirmou em seu último boletim a formação do El Niño este ano. De acordo com o órgão americano, trata-se de um El Niño fraco, com 55% de chances de perdurar até a primavera do hemisfério norte (outono no Brasil). Caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico, o fenômeno está associado a chuvas abaixo da média no nordeste do país e irregularidade de precipitações no Centro-Sul (SP, PR, MS, SC e RS).
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Embora o Pacífico viesse apresentando aquecimento desde outubro do ano passado, a confirmação do El Niño surpreendeu alguns meteorologistas, dado que a atmosfera não tem se comportado como o esperado para essas condições. “A atmosfera realmente não está se comportando como tal. Se pegarmos as previsões, são de chuvas muito boas para o nordeste nas próximas semanas”, explica Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima, ao lembrar que apenas em janeiro tivemos condições climáticas típicas de El Niño, com temperaturas que comprometeram as lavouras de soja e café.
De acordo com Paulo Etchichury, sócio-diretor da Somar Meteorologia, o fato de ser um El Niño fraco explica a atmosfera não estar respondendo de forma tão imediata ao fenômeno. “Não é porque o El Niño se formou que não vamos mais ter chuva no nordeste. A Zona de Convergência Intertropical está causando chuvas e vai continuar causando chuvas”, ressalta o meteorologista. De acordo com ele, o fenômeno pode atrapalhar um pouco o desenvolvimento das lavouras na região do Matopiba (confluência entre os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mas sem causar quebras significativas na produção.
“Temos um aquecimento do Pacífico, mas fraco e com a Zona de Convergência já atuando. A formação do El Niño obviamente não é uma boa notícia, mas ao fato de ele estar se configurando só agora reduz um pouco do efeito esperado”, aponta Etchichury, ao lembrar que em 2016, quando o El Niño levou à quebras de safra na região nordeste, a sua confirmação ocorreu ainda no começo de 2015, perdurando até o início do ano seguinte. “O produtor não precisa se preocupar porque a safra já está em curso. O período de chuvas esta no final, no caso do Matopiba, então não dá para dizer que ele será afetado por isso”, destaca.
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Para o Sul do país, as perspectivas são de que El Niño eleve a concentração de chuvas, como foi em janeiro. Ainda de acordo com Etchichury, o fenômeno deve contribuir para reduzir o risco de geadas no início do plantio das culturas de inverno, entre eles o milho safrinha, com possibilidade de episódios mais chuvosos na fase final de desenvolvimento das lavouras, em junho. No Paraná, ainda que as chuvas estejam irregulares, o meteorologista ressalta: “Não temos uma condição ideal para o plantio, mas isso não deve inviabilizar a safra”.
A mesma observação é feita por Marco Antônio dos Santos. Ele comenta que as condições climáticas do ano passado foram excepcionais, o que não deve se repetir tão cedo no país. “Se tiver outra seca no Sul do Paraná podemos ter uma diminuição do potencial produtivo do milho, mas longe de ser mesma quebra do ano passado”, afirma o agrometeorologista ao apontar que o replantio de parte das lavouras após o tempo seco de janeiro deve, de fato, reduzir o potencial produtivo esperado das lavouras.
No caso de Mato Grosso e Goiás, onde o El Niño tende adiantar o fim do período chuvoso, as preocupações são menores devido ao plantio adiantado observado nesta temporada. “Até a primeira quinzena de abril, há uma certa frequência de chuvas, a partir daí, na segunda quinzena de abril, elas começam a diminuir e isso é natural. Ou seja, o produtor que está plantando tem que fazer uma conta, ele não pode contar com chuvas em maio”, alerta o sócio-diretor da Somar Meteorologia.