“A China será o primeiro mercado a se recompor, em relação ao coronavírus”, diz Camardelli, da Abiec

Confira a análise do presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne para o mercado externo e também para o interno

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Antonio Camardelli, diretor da Abiec, diz que a crise vai ser dura, curta e que é preciso diálogo

As exportações brasileiras de carne bovina vêm crescendo, na comparação com 2019. Nos dois primeiros meses, com dados fechados, foram 266,2 mil toneladas por US$ 1,1 bilhão. No ano passado, a venda do bimestre rendeu US$ 974,8 milhões, para 262 mil toneladas.

Março, no entanto, tem sido um período de muitas incertezas trazidas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Embora o comércio continue, a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), vem monitorando dia a dia, mercado a mercado, os cenários global e interno. Para falar sobre esse momento, o presidente da entidade, Antonio Camardelli , concedeu a seguinte entrevista à DBO:

DBO – Qual a posição da indústria frigorífica nesse momento, depois da suspensão do abate em algumas unidades, e com o consumidor perdido em relação à pandemia do coronavírus?

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Antonio Camardelli – Acho necessário esclarecer que, durante todo o ano, os frigoríficos – sejam eles pequenos, grandes ou médios –  fazem um avaliação da rentabilidade de cada planta. Porque uma pode ter mais habilitações, a outra pode estar localizada em estados em que não há tantas alternativas. Então, o fechamento de alguma unidade e férias coletivas em outras, vai ao encontro da avaliação dessa rentabilidade, do momento de mercado. Não há nenhuma conotação paralela a isso.

Por outro lado, na semana passada, fomos pegos de surpresa com uma queda bastante grande do consumo de fast food. E também, por consequência, do food service.

Nesta semana, o mercado se colocou de uma maneira mais estável. Mas ainda não conseguimos fechar uma avaliação de quanto o fast food foi substituído pelo delivery. Acredito que não houve mudança no processo de escala, mas os frigoríficos estão comprando de acordo com o vislumbre do mercado.

Em relação à exportação, a posição é bem simples: “nós só vamos comprar aquilo que estiver vendido”.

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DBO – A virada do food service para uma venda mais firme em supermercados mexe nos custos de logística dos frigoríficos?

Camardelli – Acredito que não. Estamos interpretando mercado a mercado, dia a dia, processo por processo. Se o delivery vai substituir uma grande parte do food service, essa é uma questão que estamos tentando entender durante essa semana. Por outro lado, vemos um mercado normal de vendas nas grandes redes e tudo isso vai regulando o dia a dia do frigorífico.

Mas não temos nenhum comunicado sobre dificuldades da indústria, ou que haja algum processo que venha a determinar uma possível paralisação. Pelo contrário, a programado em relação a esse ano é de aumento da produção. Porque o trabalho já está todo feito no campo, pelos produtores rurais. A gente tem garantia de abastecimento em cima de dados concretos.

Mercado exportador analisa cenários dia a dia, país por país

DBO – Em relação às exportações, por exemplo, o que esperar do mercado americano?

Camardelli – O mercado americano está aberto desde o dia 21 do mês passado e estamos nos preparando para fazer as primeiras exportações. Mas estamos fazendo ajustes para exportar, que são benéficos.

Apesar da liberação concedida, os frigoríficos tomaram a decisão de proteger o nosso mercado. Enquanto não tivermos um relatório, ou uma informação concreta da utilização da vacinação com a vacina modificada, que é estar sem a saponina e com 2 ml, decidimos não exportar cortes onde essas carnes são partes eleitas de vacinação, como acém e pescoço. Não vamos correr o risco de algum constrangimento futuro.

DBO – E a China?

Camardelli – A China tem retornado gradativamente, mas ainda nos deparamos com dificuldades de escala de contêineres para poder exportar. Isso é resultado do congestionamento dos portos chineses. Para não ter o que os armadores chamam de frete morto, eles não estavam retornando para o Brasil com contêineres vazios.

Mas isso já não aconteceu na semana passada. Armadores mandaram navios com contêineres vazios para poder repor e restabelecer o processo. Acreditamos que a China será o primeiro mercado a se recompor, em relação ao coronavírus.

DBOMas com a Europa essa história é diferente.

Camardelli A Europa está parada, praticamente, por causa da decisão de vários países de proibir trânsito e fluxo de pessoas nas ruas. Com isso, houve um abalo direto no food service.  Em relação aos contratos, alguns foram cancelados e outros tiveram seus prazos redefinidos.

DBO –  A Europa é uma incógnita?

Camardelli Gradativamente, a expectativa é que dentro do bloco comece algum processo, mas país por país. O que entendemos, nesse momento, é que no curto prazo não retornaremos as exportações para a Europa.

DBO – E em relação aos países árabes, grandes compradores e promotores da carne brasileira?

Camardelli Dos povos árabes, não temos informações da evolução do novo coronavírus nesses países e as vendas continuam normais. O único entrave, e que já vínhamos exportando, pouco é o Irã. Mas tiro esse país do mundo árabe porque ele é do mercado persa. Com o Irã, por outras questões, como falta de dólar e sanções entre países, as exportações diminuíram consideravelmente.

DBO – As entidades de classe, como CNA, SRB, têm se aproximando do governo propondo medidas de ajuste da economia, nesse momento, levando em conta os setores do agronegócio. A Abiec está fazendo algum movimento nesse sentido, visando alguma medida setorial?

Camardelli –  Temos acompanhado e participado de alguns processos conjuntos com o governo. Desde o início, a ministra Tereza Cristina tem franqueado e ficado à disposição, dentro de um gabinete de crise.

Por exemplo, estamos em conversa com a área de logística. Mas mesmo antes do decreto de essencialidade, do governo, ela já vinha resolvendo problemas pontuais em estados e municípios. Sobre algumas atitudes legalmente tomadas por secretários de saúde, por exemplo. Também acompanhamos a pauta em relação a processos trabalhistas, com sugestões que seriam plausíveis para passar essa zona cinzenta.

De acordo com Camardelli, a Abiec tem sido parceira da ministra Tereza Cristina

DBO – Nas questões de defesa sanitária a indústria vai precisar de ajuda?

Camardelli – Antes da gente se manifestar, em uma reunião do conselho, na semana passada, a ministra disse que em caso de necessidade já estava preparado um contingente para suprir alguma reposição de veterinários e auxiliares. São equipes volantes. Mas, até o momento, não temos nenhuma reclamação por parte dos frigoríficos de que algum profissional tenha faltado.

DBO –  A Abiec fez algum movimento na área econômica?

CamardelliNo caso do BNDES, participamos de uma coletiva e vamos pleitear capital de giro. Estamos estudando o processo e monitorando a necessidade de que alguma empresa , ou todas, necessitem desse apoio.

Em relação ao ministério da Economia, estamos respondendo a uma documentação. Eles querem saber se estamos dando continuidade aos trabalhos e se está faltando algum insumo. Então, estamos plugados em todas as decisões do governo, em todas as oitivas que eles nos facultam. E aquelas que eles não nos facultam, estamos acompanhando.

Por exemplo, postergar o Imposto de Renda, por motivos óbvios. O ponto focal é a necessidade de diálogo para sabermos qual a melhor atitude para o setor. Vamos passar juntos por esse processo. Líderes da área bancária estão dizendo que vai ser uma crise dura, mas curta, e é essa a expectativa.

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